Este fim de semana almocei com uma amiga, uma grande amiga. Foram praticamente três horas de conversa durante as quais terei aberto a boca, sendo generosa, no máximo, 20 minutos. Não, não estava afónica nem indisposta, muito menos prostrada ou melancólica. Simplesmente, não tive hipótese. Após os primeiros 120 minutos dei por mim a sorrir e a divertir-me com a situação. Não por me estar a ser contada uma piada, mas porque aquela podia ser a caricatura de um padrão que me é muito familiar: ouvir, ouvir mais um pouco, anuir ou discordar, mas continuar a ouvir.
Não foi uma epifania e muito menos a primeira vez que me dou conta da forma como a maioria das pessoas comunica. Mas, trabalhando eu em comunicação, não pude deixar de refletir sobre a incapacidade que muitos de nós, pessoas e organizações, temos de ouvir o outro.
Claro que também gosto de falar sobre as minhas alegrias ou tristezas. Partilhar angústias ou conquistas. Adoro um palco e uma boa audiência. Mas convém ter noção dos limites e perceber quando o “eu, eu, eu e eu” se torna enjoativo, para não dizer terrivelmente chato.
Foi a pensar nisso que resolvi escrever este texto e deixar algumas sugestões do que NÃO fazer durante uma conversa, um alinhamento que tentarei também reter, em jeito de nota mental, nas minhas próximas interações.
Aqui ficam os básicos dos básicos….
- Não monopolizar a conversa. Todos têm um amigo, colega, familiar ou conhecido autocentrado. Todos os assuntos vão dar a si, às suas vivências e ao seu universo. Além de enfadonho e muito cansativo, é meio caminho andado para não ser convidado para eventos intimistas em que é suposto ter “boas” conversas.
- Resistir ao vício do “Eu também…”, um clássico do discurso egoísta em que quem está a ouvir espera a mínima oportunidade para responder “eu também…” e começa a desenlear um relambório de experiências pessoais.
- Não entrar em detalhes excessivos, desinteressantes e distantes do interlocutor. Exemplo: “…assim que entrei no escritório ouvi a Maria Luísa comentar que já passava das 10 horas, logo aquela pessoinha que toma cinco cafés por dia e fuma 10 cigarros’. E quem é a Maria Luísa, perguntam vocês?…
- Não interromper. Nada mais desrespeitoso do que “falar por cima” de alguém só para se fazer ouvir. Espere que o outro termine, ou aproveite ligeiras pausas na respiração para colocar alguma questão. Mas atenção: sempre que possível, deixe que o outro conclua o raciocínio, a história, a frase. É seguramente o que gosta que façam consigo.
- Não manifestar o juízo de valor, que é diferente de não julgar. Não julgar é praticamente impossível, mas partilhar o julgamento não só não tem utilidade, como enviesa de imediato a conversa. Eleva muros, prepara defensivas e fertiliza argumentos falaciosos.
- Não ficar na defensiva só porque as opiniões divergem. Pontos de vista diferentes enriquecem o debate e dão-nos a oportunidade de conhecer outras perspectivas. E mesmo que se discorde veementemente, está tudo bem. De nada vale tentar mudar a opinião do outro.
- Não dar conselhos, a menos que sejam pedidos. “Acho mesmo que está na altura de criares um perfil no Tinder” só é uma observação aceitável se do outro lado alguém perguntar: “Achas que devo voltar a sair com aquele tipo lá do trabalho?”
- Não ignorar as circunstâncias do outro. É a tal da empatia. Perceber que à nossa frente está uma pessoa com uma realidade, sensibilidade e necessidades diferentes, é importante para tornar o momento confortável e prazeroso para ambos.
- Não ser trágico, queixoso nem conspirativo. Nada mais aborrecido do que pessoas que estão sempre cansadas, a sua vida é invariavelmente miserável e os outros estão apenas à espera de uma oportunidade para o tramar. Se o seu interlocutor NÃO É uma aspirina, por que motivo tem de lhe dizer que está com dor de cabeça?
- Evitar a síndrome do super-herói. Autointitular-se altamente competente, maratonista do sucesso, Pai do ano ou filho perfeito, demonstra falta de humildade, vai gerar uma comparação e, muito provavelmente, não será 100% verdade. Ter boa autoestima é ótimo e saudável, mas o autoelogio é só desnecessário.
E não esquecer: uma boa conversa é como jogar raquetes à beira-mar. Para ser divertido, a bola tem de passar para o outro lado.