Andam demasiadas pessoas ocupadas em saber se a direita portuguesa (e nela o CDS) é uma história acabada.

Depois de 4 anos de uma legislatura dura e intensa, politicamente falseada à partida pelo “truque” primário da geringonça, uma legislatura em que a única oposição e alternativa que se viram foram do CDS, parece que o mau resultado das eleições europeias foi mais importante e tem de falar mais alto.

O caso já nem é que se torna obviamente indispensável separar águas e distinguir nas respectivas razões de ordem, nos seus pressupostos, nos seus fins e nos seus protagonistas as eleições europeias e legislativas.

Por outro lado, evidentemente, apesar de todo o calor que aí foi colocado para confundir e dividir, o bom trabalho de toda uma legislatura do CDS não pode ser confundido com dois falsos temas – essencialmente epifenómenos mediatizados –, a saber, o do processo legislativo da reposição do tempo de serviço dos professores e o da malfadada passadeira lgbt de Arroios.

Sem prejuízo, depois de muitas trocas acaloradas e mais ou menos cegas de argumentos, salta à vista no plano de uma mais que necessária ponderação racional e equilibrada da questão, que o essencial do problema não se pode reconduzir àqueles temas da “espuma dos dias” e de final de campanha, pesem embora todas as suas nuances, o ruído, as ondas de choque e as suas implicações imediatas.

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Além da crucial relevância, por defeito, do factor de uma comunicação partidária que continua muito deficiente.

Para já não falar também de todas as ameaças brandidas da alegada profunda cisão do CDS com o núcleo mais duro do seu eleitorado.

Ou do fenómeno do crescente indiferentismo social-político, revelado nos expressivos, mesmo dramáticos, números da abstenção.

Afinal, a grande incompreensão de todos é mesmo com o mau resultado do CDS nas eleições europeias.

Só que no plano da superação de uma crise político-partidária que apesar de tudo foi criada, que é muito urgente, vale a pena ponderar com realismo esse tal mau resultado do CDS nas europeias e tentar identificar as suas causas principais com alguma objectividade.

E fazer diferente para futuro, por exemplo e já nas legislativas

Nessa perspectiva, os ditos temas da reposição do tempo de serviço dos professores ou da passadeira lgbt de Arroios não podem deixar de ser considerados como epifenómenos, algo de objectivamente lateral, que, afinal, não pode ter que ver de forma essencial com o mau resultado em si mesmo.

Parece que toda a gente se obstina em não querer ver a realidade.

Mas a realidade tem um problema – é quase sempre mais simples e linear do que a política e o discurso político e partidário.

Há duas perguntas a fazer:

  1. Um candidato como o Nuno Melo que se candidata como cabeça de lista pela terceira vez seguida e sem discurso minimamente renovado a uma eleição pessoal muito difícil e competitiva ainda pode ser ou é um bom candidato?
  2. Uma campanha política sem nenhuma convicção e sem boas ideias – velhas e novas –, numas eleições difíceis e periféricas por natureza, podia ser vencedora?

As respostas parece não deixarem margem para dúvidas. Há trabalho a fazer para Outubro.

E outras escolhas.

Advogado