A melhor receita para o insucesso começa pela forma como nos posicionamos na vida e a olhamos. Se o sucesso vem do exterior, estamos falados. Se o sucesso vem da recompensa pelo caminho, então estamos certamente no trilho certo.

Queremos ser o melhor da turma, o melhor a jogar futebol, o melhor a andar de moto, ou a ter a melhor moto, o mais enturmado no grupo ou aquele a quem o grupo reconhece como o seu ídolo. Mas de que serve ser o melhor aluno, jogar melhor futebol, ter a melhor moto ou ser o mais reconhecido no grupo, sem mais?

Depois queremos ter a namorada mais gira. E o que acontece? Ainda há outra mais gira? E continuamos até termos a mais gira das mais giras. E de que serve namorar com a mais gira, sem mais?

Prosseguimos para o salário. Queremos ter um salário melhor que o dos nossos amigos e pares. E quando alguém tem um salário melhor que nós, roemo-nos de inveja e até mudamos e reclamamos para conseguir melhor salário. E de que serve ter o melhor salário, sem mais?

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É assim com a conta bancária. Queremos atingir um determinado montante. Mas quando atingimos o montante pensado, ele transforma-se, de repente, no dobro ou no triplo. E de que serve ter a conta bancária com determinado valor, sem mais?

É assim com o objetivo de chegar a uma determinada posição em termos profissionais. E depois de chegarmos a essa posição ela parece irrelevante face a uma série de outras que conhecemos. De que serve, então, essa posição, sem mais?

É assim nas nossas viagens pelo mundo fora. Conseguimos visitar o Curdistão. Fica a faltar-nos o carimbo da Papua Nova Guiné. E de que serve um país a mais, sem mais?

A definição do sucesso, para nós, está em qualquer coisa fora de nós: nas notas, no futebol, na moto, nas namoradas, no salário, na conta bancária, na posição em termos profissionais, no reconhecimento, na corrida, nas viagens. Mas de que servirá tudo isto, sem mais?

No momento em que nos comparamos com alguém ou nos “coisificamos”  apenas queremos ser melhores do que esse alguém ou essa coisa sobretudo quando visível aos olhos exteriores. E depois? Qual a consequência disso mesmo, sem mais?

No momento em que atingimos o tal patamar em que achamos que temos sucesso falta sempre subir novo patamar. E o patamar é usualmente externo e compara com o mundo exterior.

É a velha história da montanha. Subimos àquela que consideramos a montanha mais alta. Olhamos para o lado e vemos outra ainda maior. Vamos subir nova montanha. E a história continua.

Tudo isto leva a que estejamos permanentemente à procura de validação do mundo exterior. Sim, validação.

Agora, não há melhor competição do que aquela que travamos connosco próprios, sem necessidade de validação exterior. Melhorar os defeitos que temos, conseguirmo-nos sentir mais apaziguados, encontrarmos a tranquilidade que nos falta, pararmos de olhar para fora e sentirmos que, cá dentro, se resolvem todos os patamares de todas as escadas que quisermos subir. Todos.

O sucesso não é uma medida externa e de validação do mundo exterior. O sucesso é interior.

A serenidade que se ganha pelo interior bate tudo: notas, futebol, namoradas, dinheiro, corrida, viagens. Tudo.

Digo muitas vezes aos meus alunos. “Não importa tanto o resultado daquilo que fazes. Foca-te no processo. O processo recompensa-te. O resultado é efémero. Tiveste 18, e agora? E depois? No processo, gostaste da viagem independentemente do resultado? Gostaste do caminho que fizeste para aqui chegar? Se sim, pouco importa o 18. Porque o que fica é a viagem. Senão, vais atrás do 19 e nunca estarás satisfeito. E ao 20 acabas com a possibilidade de satisfação e de sucesso.”

Mais: “Se vens à procura do canudo deves esquecê-lo. Procura antes o conhecimento e sobretudo descobrir as áreas com as quais te identificas e que queres continuar a aprofundar. São essas áreas que te podem dar conforto no trabalho que fizeres de futuro. E mesmo que não trabalhes nelas tens sempre forma de conseguir explorar, paralelamente, o que mais te preenche. O canudo é apenas um passo no percurso, é um pontinho no meio do processo”.

Digo isto também a mim próprio, permanentemente, reiteradamente: “Não dês mais uma aula. Dá uma aula que te preencha, onde possas sentir a beleza do caminho, o debate acompanhado, a serenidade que consegues por via do processo.”

Se me perguntarem se consigo isto, direi “nem sempre”. No início da vida quase nunca. No entanto, trabalho afincadamente, e quase sempre dolorosamente, para isso mesmo. É um processo. E é o processo que me deve dar gozo. Independentemente do resultado.