Comunicar bem envolve fatores como a mensagem, clareza do discurso, mas também reciprocidade. Numa época em que estamos disponíveis quase 24h/24h, em que quase tudo é instantâneo, por pouco que não perdemos o significado e essência de certas palavras e comportamentos.

Quando foi a última vez que realmente agradeceu por algo? Não o obrigado que dizemos, automaticamente, a toda a hora (há até quem o coloque já na assinatura de email para poupar tempo), mas aquele obrigado em que temos consciência da ação e paramos para realmente agradecer, com todas as letras da palavra.

Ao refletir sobre o poder do feedback, relembro um discurso de Sampaio da Nóvoa sobre o significado de agradecer. Começando por relembrar o Tratado da Gratidão, de S. Tomás de Aquino, onde o filósofo elabora sobre os três níveis do sentimento: o nível mais superficial, o do reconhecimento intelectual, o nível intermédio, o do agradecimento, de dar graças a alguém pelo que fez por nós, e o nível mais profundo, o do vínculo e do compromisso com o outro. Por esta ordem de ideias, Sampaio da Nóvoa explica que, se pensarmos em outras línguas, como o inglês ou o alemão, as palavras “thank you” ou “danke” ficam-se pelo nível mais superficial, enquanto se pensarmos em francês ou em espanhol, já nos encontramos no segundo nível, mas só em português, é que se agradece com o nível mais profundo de gratidão. “Obrigado”, que, segundo o dicionário Priberam da Língua Portuguesa, quer dizer “que se sente devedor por ter sido alvo de uma atenção, de uma gentileza ou de um favor”.

Além de agradecer, dizer “obrigado” é uma forma de reconhecer o gesto e mostrar respeito à pessoa que doou o seu tempo e a sua energia para fazer algo por/para nós. Isto leva-me a pensar sobre o poder do feedback.

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Quando foi a última vez que deu ou recebeu um feedback? Isto é, parar, avaliar, partilhar o que se fez bem e o que se pode melhorar no futuro. Neste tipo de comunicação também é importante a mensagem e a clareza, mas não nos podemos esquecer do tom adotado. Tendo em conta a natureza e a importância de um feedback, temos de ter em atenção a pessoa que temos à nossa frente, ao seu nível de sensibilidade e ao timing escolhido. Estruturar um raciocínio e saber explicá-lo é obrigatório se queremos que o nosso feedback seja assimilado e se ambicionamos ver melhorias no futuro.

Por isso, na hora de preparar o feedback, não opte por uma abordagem one size fits all, mas sim, por adaptar a mensagem, preparar um discurso claro e ter em atenção o tom. Explicitar os comportamentos a manter e indicar os que podem e devem ser melhorados, caso a caso. No fundo, torne-o pessoal, regular e com significado, não esquecendo os comentários positivos, as críticas construtivas e os exemplos.

Saber comunicar é uma ferramenta essencial para qualquer relação: pessoal ou profissional – e melhora a confiança.

Estarão a cordialidade do obrigado e a capacidade de verdadeiros e úteis feedbacks a cair em desuso? Se sente que sim, deve recuperá-los, uma vez que são boas estratégias de motivação. Crie um impacto positivo – não tem custos e contribui, muito, para um saudável e próspero ambiente de trabalho.