1 A prioridade do digital

É unânime o sentimento de que cada vez mais vivemos numa sociedade digital, pelo que sem acesso aos seus instrumentos webizados, ficamos privados dos mais elementares direitos de cidadania e das mais importantes oportunidades para construirmos as nossas vidas. Todavia, nem sempre se tem compreendido a sua importância em segmentos etários mais extremos, sejam os lares de idosos onde não se potenciam os mais elementares meios digitais (telemedicina, proteção à Covid-19,  comunicação e animação cultural), sejam as escolas do Ensino Básico e Secundário.

2 Avanços e recuos nas escolas

Na verdade, a generalização dos meios computacionais nas nossas escolas tem tido uma história acidentada e sinusoidal que importa recordar: no início dos anos 90 começámos bem com projetos pioneiros, e elogiados internacionalmente, como o MINERVA e a IVA-INFORMÁTICA para a VIDA ATIVA, os quais conseguiram enorme adesão e impacto pedagógico, integrando os meios físicos e a qualificação dos professores. Infelizmente, estas iniciativas não tiveram continuidade e só já no Governo 2005-2009 se retomou uma dinâmica forte através do polémico Magalhães. Infelizmente, na última década, as escolas foram-se desertificando digitalmente, salvo valiosas e meritórias iniciativas municipais, pelo que o anúncio, em Abril 2020, pelo PM de que durante o novo ano letivo estaria” assegurada a universalidade de acesso em plataforma digital, rede e equipamento para todos os alunos do ensino básico e secundário” é excelente promessa que importa apoiar e acompanhar.

Na verdade, a Covid-19 evidenciou bem, que sem tal universalização, as desigualdades sociais agravam-se, o papel social da escola sofre rude golpe e os resultados escolares pioram.

3 As exigências da digitalização e o  enigma da escola digital

Trazer as nossas escolas para a modernidade digital exige cuidadoso plano em que se articulem de forma calendarizada o apetrechamento, a integração curricular, a formação dos professores e, não menos importante, a valorização dos resultados e sucessos obtidos. Ora, até agora, nada se conhece, salvo uma recente promessa do ME de que irão ser distribuídos 100 mil computadores para alguns dos nossos 1,2 milhões de alunos.

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Infelizmente, no domínio da formação dos professores as competências digitais têm vindo a merecer importância reduzidíssima, o que também explica a fraca adesão às plataformas de ensino online oferecidas por editoras escolares, pelo que urge perguntar: que metas e programas de formação estão a ser programados, já que improvisar é fracassar?

Entretanto, a proposta do OE 2021, no domínio da Educação, não refere qualquer programação ou meta objetiva, o ano letivo já começou, nenhum computador foi distribuído e no Portal BASE, onde se anunciam as compras do Estado, não se encontra qualquer anúncio relativo a este apetrechamento (Direção Geral dos Estabelecimentos Escolares), mas apenas o meritório anúncio de aquisição significativa de computadores para as escolas pelo Município de Oeiras o qual, mais uma vez, assume esta prioridade. Estará o ME a supor que os computadores serão oferecidos por algum mecenas ignoto?

Em suma, que plano, metas e programas, permitirão  avançar com a digitalização das nossas escolas, revalorizando a formação dos professores e a integração curricular, otimizando as iniciativas de aquisição e de manutenção, de modo a recuperar a década perdida e garantir a igualdade de oportunidades aos nossos alunos?

Luís Valadares Tavares foi Presidente do Programa MINERVA e do Comité de Educação da OCDE.