Quando se versa sobre uma onda, seja de um movimento como o nacionalismo, uma moda ou mesmo sobre o arrastar de uma massa de água substancial, o princípio é o mesmo: avista-se além, de Norte, de Sul, no horizonte algo que tem uma direção, a nossa ou a de outros – aquilo, a onda, não é estática, é, ao invés, dinâmica e vai incidir sobre alguma coisa.

Em primeiro lugar, é importante precisar a origem do movimento nacionalista – França. Após a Revolução Francesa, tendo vindo a acompanhar o pensamento político desde o século XIX à atualidade. Em segundo lugar, convém fazer uma distinção entre nacionalismo e patriotismo, que costumam ser confundidos: o nacionalismo define-se então como uma força política, que defende a sua Nação, assim como o seu território e a sua preservação, contra qualquer ofensa ou ameaça a essa identidade comum. Por outro lado, o patriotismo é um sentimento de amor e de orgulho à Pátria, aos seus costumes e símbolos, tal como a Bandeira e o Hino.

Atualmente, existem na União Europeia oito países com partidos nacionalistas no poder, nomeadamente, Bélgica, Bulgária, Dinamarca, Eslováquia, Finlândia, Letónia, Lituânia e Polónia. Já se observam diversas consequências diretas da influência do nacionalismo na União Europeia. Nas palavras do governo da Hungria, por Viktor Orbán: “Se aceitarmos a imigração como uma solução, estaremos a contribuir para uma substituição populacional.” Mas que terá então o nacionalismo, cujas características são a exclusão, o segregacionismo e a divisão, assentando na invariável dicotomia entre nós e eles, que ver com as gerações Z e Alfa? A resposta é tudo!

Ora, na primeira metade do século XX não existia nem integração europeia, nem globalização. Já na segunda metade, ainda que estas pudessem evidenciar algum desenvolvimento, a verdade é que poucos sonhavam com os contornos que a realidade atual viria a tomar.

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De uma realidade dinâmica, de ritmo rápido, de inovação tecnológica, nasce a geração Z, entre 1990 e 2010, os nativos digitais, que cresceram com a tecnologia, a internet e as redes sociais – embora num período de transição, distinguindo-se por isso mesmo da geração Alfa, que nasce depois de 2010, na era e no centro do mundo tecnológico. Esta última relaciona-se com a tecnologia e a internet antes mesmo de começar a andar – já clicam intuitivamente num telemóvel. A tecnologia é uma extensão do seu próprio corpo, fazendo com que a linha do que é a utilização de um instrumento ou uma ferramenta acabe desfocada – ela é já em si uma linha ténue, no que concerne a muitos dispositivos tecnológicos e/ou serviços digitais.

Bom, não será mentira dizer que a utilização da internet para fins de entretenimento é um dos meios que vem ajudar à polarização e à escalada de conflitos em meros minutos – veja-se o caso de qualquer caixa de comentários de uma rede social, onde cada um dá a sua opinião e muitas vezes a simples partilha pública dessa opinião resulta numa espiral de apoio e críticas, cerrando dois lados que não chegam (e por múltiplas vezes nem querem chegar) a um entendimento. A internet tornou-se, assim, um espaço fértil para a discordância.

As redes sociais, com o seu modelo económico moderno assente na personalização de feeds e criação de perfis também concorrem para esta polarização. A identificação de uma característica do utilizador/consumidor do serviço, uma crença ou convicção, é explorada no sentido de melhor o definir e agrupar com outros utilizadores com características semelhantes – cria-se uma cultura de aprovação social (uma bolha) à volta do indivíduo, sendo este levado a grupos com os quais partilha vários interesses em comum. Claro que há vantagens nisso, mas também inconvenientes! Frequentemente, a utilização das redes sociais é desvirtuada em função do propósito que os utilizadores destas pretendem visar, esquecendo a função primordial para a qual os criadores de conteúdos geraram este instrumento/ferramenta ou serviço. O que se pretende aqui destacar é o facto de um dos pressupostos de uma bolha ser a desconexão com a realidade factual – e o indivíduo que não pensa criticamente acaba por ser arrastado para estas dissonâncias.

Se é verdade que a globalização nos aproxima, não será também verdade dizer que nos afasta? É transversal o sentimento de que temos de ser donos da nossa própria casa, sem nunca esquecer que esta casa faz parte de um quarteirão com alguns vizinhos. A Europa é, mais do que nunca, um destino de fluxos migratórios em massa oriundos do resto do mundo. Na ótica nacionalista, olha-se para este facto como uma descaracterização cultural da Nação, destruindo-a política e economicamente.

O conflito geracional contribuirá com perspetivas diferentes, abordagens diferentes, soluções diferentes para problemas iguais, e, como é já a divisa da União Europeia, simples, mas que traduz a sua própria identidade: “Unidos na diversidade” – só assim podemos ser Nós com os outros.