Há mês e meio em casa, sentimos todos uma falta grande do pulsar da Natureza que antes tomávamos como garantida e próxima. Era garantido ir ver o mar e passear de pés descalços na areia, era garantido ir dar uma volta e apanhar sol, era garantido sentar-se no jardim, na praceta ou na esplanada do quiosque a beber uma bica e conversar.

De repente em Março, quando a Primavera principiava e já havia folhas novas, verde claro a espreitar, deixaram de ser possíveis estes gestos simples que nos davam equilíbrio, que os psicólogos dizem reduzir a agressividade e em consequência a violência e que os médicos asseguram que aumenta a produção de vitamina D. Foram estes benefícios que levaram os higienistas e políticos do século XIX a pôr na sua agenda os jardins de bairro, perto das pessoas e ao serviço da população urbana. Assim nasceu em 1858 o jardim da Estrela e tantos outros se lhe seguiram em todas as cidades.

De repente e já em Abril foi mesmo preciso FICAR EM CASA, quem não ficasse tinha polícias a interditar bancos com faixas vermelhas, a fechar os portões dos jardins e parques de proximidade, a dispersar grupos que parassem para conversar. Cumpriam ordens, mas a carência de sol, de ar e de movimento sem limites aumentou.

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Aumentou ainda mais quando começaram a chegar as flores das bougainvillias, das chagas, das rosas, e das glicínias, que apesar de terem origem na China floriram esplendidamente de costas voltadas para a pandemia do Coronavírus. Estamos todos a precisar de sair e… já começámos. Este fim de semana foi notório e verifiquei que cada Junta de Freguesia fez como entendeu; uns jardins abertos, outros fechados, outros ainda sem gradeamento recebendo miúdos em bicicletas, jovens em skates, adultos em jogging, mães e pais em fato de treino… mas respeitando distanciamento e muitos usando máscara. Gostei e senti que se as regras forem claras a população devia poder voltar aos seus jardins de bairro, a pé. Estudos de arquitetura paisagista de 2006 identificaram que num raio de 500m os residentes costumam todo o ano ir ao SEU jardim ou parque no seu bairro.

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Vejo em tudo isto uma oportunidade esplêndida para tornar mais úteis estes espaços ao sol, com árvores e flores e vejo também o momento certo de responsabilizar as Juntas de Freguesia para que o uso dos jardins contribua para uma transição calma e controlada do isolamento para a vida em espaço público, com regras e permitindo melhorar a vida dos seus residentes.

Listei o que chamo os 10 mandamentos do uso do SEU jardim de bairro.

  1. Passear e apanhar sol – Todos podem andar no seu jardim; indivíduos, casais, com animais e famílias; mas devem usar máscaras e manter 2m de distância. Não é nada difícil.
  2. Sentar em bancos – Todos podem com máscara e um banco para cada um. Não há partilha do banco, mas há uso autorizado. Uma desinfeção pós uso deverá ser feito pelos vigilantes (§ 10)
  3. Correr – Especialmente os jovens atletas, carentes de desporto. Podem, mantendo distância de 8 a 10 m de intervalo. Logo que param põem a máscara.
  4. Bicicletas, trotinettes e triciclos – Especialmente para os miúdos até aos 13 anos estes brinquedos são essenciais porque eles precisam de movimento depois de tantos dias parados.
  5. Pic-niques – Uma modalidade bem inglesa, sempre acompanhada de uma toalha, pode permitir que os relvados sejam usados desde que haja um posto marcado com 10m de intervalo e nunca mais de 5 pessoas juntas, com máscara.
  6. Hortas urbanas – O exemplo dos agricultores de cidade que se mantiveram ativos durante este tempo são uma lição e é bom que os residentes aprendam, observando-os com máscara.
  7. Ir à bica – Servir café e bolos, atrás de Plexiglas, mas permitindo que as mesas das esplanadas estejam a 2 m umas das outras e se sentem 2 pessoas com máscaras, ao sol ou à sombra.  Podem ser alugadas cadeiras para quem não consome. A dispersão será mais efetiva e cada um se senta onde quiser.
  8. Jardineiros – É indispensável que os jardineiros cortem os relvados, façam as podas das sebes e mantenham as flores para que a população sinta que o SEU jardim é estimado. Plantação de bolbos, sementeira de flores entregues aos jardineiros e trazidas pelas crianças de cada freguesia. Principiaria para eles  uma nova inesquecível de contribuição para o SEU jardim, mas com máscara.
  9. Exercício físico – Com Mestres e em grupos de 12 sobre os relvados com toalhas de 3 m em 3m, com máscaras, é possível organizar aulas em controle a quem tanta falta faz o ginásio.
  10. Supervisão – Com uma formação de 2 a 3 horas é possível preparar, escuteiros, guias turísticos, bombeiros, e voluntários de cada Junta de Freguesia para serem os vigilantes que fazem cumprir as regras, desinfetam e deixam claras com postes e marcas as distâncias para o uso do SEU jardim em segurança.