Na dicotomia política com que somos confrontados diariamente, é amplamente difundida a ideia de que a esquerda é pelos trabalhadores e a direita pela sociedade patriarcal, a esquerda pelas minorias e a direita pela sociedade patriarcal, a esquerda pelo ambiente e a direita pelas corporações, enfim, um sem número de ideias feitas a preto e branco, com um bem e um mal fáceis de distinguir. Com tanta informação disponível, hoje em dia só é ingénuo quem quer. Bem vistas as coisas, observamos que a esquerda tem como base o patriarcado do Estado, progenitor que cria e educa as crianças e benfeitor das empresas aflitas, sendo que a direita é que tem defendido as minorias dos abraços de urso de quem afirma defendê-las e há uma direita social que é a única defensora dos injustiçados e esquecidos de uma sociedade de interesses e favores.

Há instituições e entidades que ainda sobrevivem sobre premissas básicas do século XVIII e que não se enquadram, de forma nenhuma, com a realidade atual. Os sindicatos são um exemplo claro, formados no clima da revolução industrial e ascensão capitalista, perante condições de trabalho miseráveis. Importa por isso saber se ainda defendem os objetivos básicos para que foram criados e se refletem as preocupações dos contextos de trabalho.

Porque é que nos governos de esquerda a maioria dos sindicatos fica em silêncio, com pouca atuação e em conformidade com as posições políticas do PCP ou do PS? Na prática, a maioria tem uma agenda ideológica e está mais centrada no seu cumprimento do que no serviço altruísta e descomprometido dos trabalhadores. Pior ainda, são verdadeiros braços armados dos partidos políticos, que servem como centros de recrutamento e eternizam ainda mais a falácia de a esquerda ser a única e grande defensora dos trabalhadores. Não pode haver a ameaça de parar o país sempre que há um governo de direita, só porque serve um propósito político. Prevê-se, por exemplo, que os sindicatos afetos aos partidos de extrema-esquerda andem muito mais ocupados nesta legislatura, por razões óbvias.

Os sindicatos podem e devem ser muito mais do que são hoje. Enquanto instrumento de paz e contribuição para a prossecução dos valores das empresas, além de que a defesa dos trabalhadores não deverá impedir a salvaguarda da entidade. Apenas se estiverem libertos de interesses exteriores e agendas políticas conjunturais, é que poderão contribuir para o bem-estar dos funcionários e proteção dos seus direitos, devendo salvaguardar ainda a integração e condições laborais dos novos trabalhadores, sem estar preocupados se serão associados ou se pagam as quotas. Este sim é o modelo do sindicato livre e por isso sonho com um Dia do Trabalhador que seja realmente de todos os trabalhadores.

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