Parece infinita a iliteral complacência lusitana com estórias mal contadas, descuido e desresponsabilização.
Uma atitude que pode relevar de um lamentável e crónico deficit de autoestima.
Que depois descamba num transversal e imparável absentismo do livre julgamento.
Foi assim no processo Casa Pia.
Foi assim com Sócrates.
No caso BES/PT.
No caso de Tancos e do furto de material de guerra “a gozar”.
Mais grave: foi assim no caso dos incêndios do Verão/Outono últimos.
Também assim, ultimamente, com o processo de encarceramento de Lula da Silva, com a peripécia do independentismo catalão ou com a recente “crise” da liderança do Sporting.
Tudo ao contrário do célebre mote da CP.
Porque são poucos os que param, escutam e olham.
A culpa é sempre dos outros.
A culpa é sempre do sistema.
Bodes expiatórios, servidos à la carte.
Uma forma de lermos e percebermos melhor o propósito das atoardas arrevessadas pela Comissária do Povo, Catarina Martins, sobre o funcionamento da lei e da justiça brasileiras com respeito à detenção e prisão de Lula da Silva.
Ou das balelas ultimamente baldeadas pelo Bloco de Esquerda e do PCP sobre a calamitosa aventura catalã, para que a Assembleia da República condenasse a prisão de políticos na Catalunha, numa leitura burlesca, fácil e despropositada de um tema muito sério e grave que joga com o primado da lei e da ordem constitucional, com a paz social, e diz respeito a um Estado vizinho que é parceiro europeu, que é democrático e que é de direito.
Se bem que ainda valeram, é certo, ao bom senso parlamentar, os votos dos deputados do PSD e do CDS e (pasme-se) da maioria da bancada do PS, que travaram aquelas propostas.
Mas tem de anotar-se que à pura e simples falta de conteúdo e de verdade das ditas propostas, restou, como sempre, o edifício falsificado do aparelho de linguagem radical-esquerdista destes novos condóminos do aparelho do Estado.
Para quem a lei e ordem são um carreto que só serve se forem eles a fazer e a usar, sendo inconcebível a ideia de razoabilidade ou do equilíbrio democrático de poderes e instituições (livres e independentes), onde em Espanha entra, por exemplo, o Rei.
O BE e o PCP, afinal, sabem perfeitamente que com respeito à crise catalã as menções feitas à “violência do Estado espanhol”, à “reposição da normalidade democrática” ou à “libertação de todos os presos políticos” não têm nenhuma adesão à realidade, são puros slogans.
Sem peias, voou mais alto, pela enésima vez, a impostura intelectual, a irresponsabilidade, a quintessência radical-anarquista do BE e do PCP.
Porque vêem normalidade onde há chantagem partidária e guetização social-política violenta e activamente mobilizadas, mediatizadas e impostas pelos sequazes do independentismo.
Falam em condenação democrática da condução do processo catalão por parte do governo de Espanha, mas nem um pio de condenação democrática da condução do processo catalão por parte do governo da Generalitat.
Uma nota de alerta final para os distraídos do costume: as acusações do BE e do PCP de que as justiças espanhola e brasileiras mostram uma evidente politização e motivação ideológica servem um só e único propósito: descredibilizar a lei, a ordem e a justiça Portuguesas.
O Estado só é bom se for dominado por eles.
E daí, historicamente, o ataque deles ao Estado de Direito.

Miguel Alvim é advogado

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