No passado domingo, fez-se história na China. Xi Jinping foi reeleito Presidente da RPC no XX Congresso do Partido Comunista Chinês. Desde Mao Tsé-Tung que a China não tinha um líder com tanto poder e influência.

O facto de ter terminado com os limites do mandato presidencial em 2018, permitiu que Xi Jinping garantisse um terceiro mandato, como líder do PCC. Mesmo com a economia chinesa a desacelerar devido às políticas “Zero-Covid” e com a deterioração das relações com o Ocidente em consequência do posicionamento de Pequim em relação à Guerra entre a Rússia e a Ucrânia, o Presidente da RPC não perdeu a credibilidade perante as suas elites.

Neste sentido, no decorrer do congresso, apresentou o Comité Permanente do Politburo de sete membros que estabelecerá o rumo do desenvolvimento do país nos próximos cinco anos e abordou questões económicas, sociais e de segurança.

No que diz respeito às questões económicas, embora a estratégia de Xi passe pela construção de um sistema económico assente num mercado socialista, o Presidente chinês garantiu o seu apoio ao setor privado ao considerar que este terá um papel determinante a desempenhar em todos os mercados. Para Xi, será crucial demonstrar ao povo que a sua narrativa e os objetivos serão para cumprir e que não se renderá ao poderio ocidental. Assim sendo, para reforçar o sucesso da governação do PCC, o Presidente chinês tem vindo a adotar uma postura que honre a sua diegese sobre os objetivos propostos para o país. Visto que o crescimento económico fez com que a credibilidade do governo aumentasse perante o povo, o sucesso económico acabou por fortalecer ainda mais os objetivos do regime. Todavia, o futuro do sucesso da economia chinesa passará pela inovação tecnológica. Seguindo o raciocínio de Elizabeth Economy, a inovação na perspetiva de Xi Jinping é um fator-chave para o conceito de rejuvenescimento e de prosperidade. Portanto, será essencial para a definição da China enquanto grande civilização.

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Ao longo dos últimos vinte anos, a forte e flexível manufatura chinesa, dez vezes superior à norte-americana, aproveitou a propriedade intelectual e inovação ocidental de forma a ter uma produção capaz de se adaptar às tendências e necessidades do mercado global. Porém, as relações com o Ocidente não estão nos seus melhores dias e o facto de o país continuar fechado ao mundo poderá levar a uma estagnação no setor de inovação tecnológica. Face a esta adversidade, desde 2008 que o governo chinês tem criado incentivos financeiros para instituições com a finalidade de recrutar estudantes e profissionais chineses reconhecidos pelo seu talento na área de tecnologia e informação.

Apesar disso, os planos não têm decorrido como esperado. Muitos dos especialistas chineses residentes no Ocidente não têm demonstrado interesse em voltar para a “terra-mãe” por motivos profissionais e até mesmo pela transição cultural que poderá dificultar a sua adaptação. Logo, sabendo da importância em apostar na inovação da tecnologia, qual será o plano de Xi Jinping?

Segundo Elizabeth Economy, o cenário não é o mais favorável para Pequim. Relativamente às propinas de uma universidade chinesa, estas correspondem a 13.6 anos de salários de um agricultor chinês. Logo, tendo em atenção os contrastes existentes na sociedade chinesa, apenas 5% da população teve acesso ao ensino superior. Outra questão que não favorece os planos de Xi Jinping diz respeito à liberdade e à criatividade. De acordo com Liu Daoyu1, para alcançar o nível de inovação tecnológica pretendido é necessário suportar e incentivar ideias através de múltiplos recursos como a liberdade de expressão. Desta forma, Elizabeth Economy aborda a opinião do famoso artista chinês, Ai Weiwei: “(…) Se uma pessoa nunca teve o direito de escolher a sua informação, de associar-se livremente a uma ideologia e de desenvolver a sua personalidade com paixão e imaginação – como é que essas pessoas podem ser criativas? (…) Seria impossível desenhar um IPhone na China porque não é um produto; é a compreensão da natureza humana (…)”. Posto isto, a política interna chinesa acaba por conter a criatividade dos seus estudantes e especialistas da área de inovação e tecnologia.

Em relação às questões sociais, é importante relembrar que a China é um país onde a relação entre o Estado e a sociedade é invulgar nos dias de hoje. Grande parte da sociedade chinesa tem uma absoluta confiança no Estado. Ou seja, enquanto os países ocidentais são constituídos por valores com base na nação, na perspetiva de Pequim, os valores chineses baseiam-se na sua civilização.

No entanto, sendo a China um país com 1.3 biliões de pessoas, com inúmeras culturas, costumes, mentalidades e realidades, poderá ter de enfrentar novamente situações de grande descontentamento por parte da população. O caso de Hong Kong, Taiwan, Tibete e de Xinjiang são exemplos claros de que a China está longe de unificar a população como tanto ambiciona. Contudo, enquanto mantiver a estabilidade e crescimento económico, a China poderá ter grande parte da população do seu lado.

Por último, a questão da segurança. De acordo com uma contagem feita pela Reuters, Xi Jinping referiu “segurança” 89 vezes ao longo do congresso. E, é natural que o tenha feito. Para além da Guerra na Ucrânia, da escalada de tensões no Mar do Sul da China, da questão de Taiwan e das iniciativas dos países vizinhos no âmbito militar, o seu vertiginoso crescimento económico fez com que Pequim apostasse, inevitavelmente, na sua segurança. É verdade que terão diversos obstáculos pela frente. As seis normas FONOP impostas pelos EUA no Mar do Sul da China e o facto de o Tribunal de Haia rejeitar as reivindicações jurisdicionais e territoriais da RPC são apenas um exemplo.

Serão vários os desafios com que o Presidente da China terá de lidar nos próximos anos. Mas, com a sua “Wolf Warrior Diplomacy”, o Ocidente percebeu que nada fará com que ele abdique da integridade territorial e da preservação do poder do Partido Comunista Chinês.

1 Presidente da Universidade de Wuhan