Neste período de emergência nacional, o País procura sobreviver às implicações diárias do Covid-19 e reprogramar as repostas aos desafios sociais, económicos e políticos com que agora somos confrontados. Nunca me cansarei de repetir: aqueles que pensam que a política se pode apagar nestes momentos estão profundamente enganados. Não se trata de aproveitamento político, mas antes de responsabilidade política. Os nossos concidadãos esperam dos governantes capacidade de resposta, clareza nas acções e coragem nas opções.

Com alguns intervenientes públicos perdidos e desorientados, ou então simplesmente sem vocação para conseguir liderar os processos, há um perigoso sentimento instalado na sociedade portuguesa de que, quase por salvação divina, tudo ficará bem apenas com o passar do tempo. Enquanto isso, existem homens e mulheres que se assumem como verdadeiros heróis nacionais e se multiplicam diariamente para deixar o dia de hoje melhor do que o de ontem. É sobre eles que vos quero escrever.

Os empresários portugueses, todos eles do mais pequeno ao maior, numa tarefa inglória, procuram salvar a vida colectiva de Portugal e, a cada dia que passa, têm a crescente sensação de que – mais uma vez – estarão estregues à sua sorte e à sua resiliência. O governo Português neste aspecto tem oferecido pouco mais do que uma mão cheia de nada e procura empurrar o problema com a barriga para depois de amanhã.

O que as empresas necessitam não é de crédito para se endividar, mas de liquidez para subsistir. Em Portugal, os empresários têm um sócio sombra, sem rosto, que saqueia mensalmente o suor, a dedicação e o empenho das empresas e dos seu colaboradores: sem dó nem piedade, é desta forma que o Estado leva mais de 40% do que é produzido.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

No momento extraordinário que vivemos, de verdadeira calamidade de saúde pública, o mínimo aceitável – simples na acção e consequente para a economia – seria não cobrar aquilo que as empresas não produzem. Haja a coragem para, durante estes dois a três meses, isentar as empresas de todos os impostos estatais (IVA, TSU, Fundo de Compensação Salarial, IRC) e, para o ano de 2020, as isentar do pagamento por conta. Sem burocracias, sem comprovativos e com uma abrangência que estes merecem, pois são os ventiladores que os pulmões económicos do País precisarão para superar esta crise. Perante os colaboradores, não se obrigue as entidades patronais a adiantar o valor (de que não dispõem) para manter os vencimentos; antes, a Segurança Social que assuma 50% do seu valor directamente com os trabalhadores.

Sei que muitos questionarão a sustentabilidade destas medidas, mas não será preferível “libertar” as empresas neste momento, em vez de pagar mais prestações sociais e subsídios de desemprego mais adiante? Acreditemos mais nestes heróis do que numa burocracia de Estado que tem sido tantas vezes sinónimo de inoperância e sorvedor de recursos. Precisamos igualmente de injectar liquidez imediata na economia, e neste ponto poderia o Estado português, no poder central assim como no local, empenhar-se e dar o exemplo liquidando todas as suas dívidas a fornecedores.

Os autarcas portugueses, de norte a sul incluindo as ilhas, Presidentes de Câmara, Vereadores, Presidentes de Juntas de Freguesia e milhares de voluntários locais, que assumem in loco o acompanhamento e ajuda às nossas comunidades, em especial aos mais idosos e vulneráveis da sociedade portuguesa. São esses também outros heróis nesta hora.

Mesmo sendo desconsiderados pelas entidades de mentalidade centralista, que lhes impõem burocracias próprias de quem não vive no País real, estes substituem-se diariamente a quem deveria ter essa responsabilidade, dizem sempre “Presente”, deixando tudo para trás e encarando este vírus como mais uma batalha a ter que ser ultrapassada em nome de uma razão maior: a sua terra e Portugal.

Por último, mas sempre os primeiros, os Heróis da primeira linha.

Não lhes basta bater palmas. É necessário questionar o porquê do país estar a falhar com eles quando eles não estão a falhar com o país.

Médicos, enfermeiros e auxiliares técnicos de um sistema que nos sufoca todos os meses com impostos, mas não consegue dar o mínimo de condições a estes homens e mulheres que combatem cara a cara com um inimigo invisível. Aqueles que estão na primeira linha, forças de segurança e militares, há anos sem condições e descartados como acessórios, são mais uma vez a força do cumprimento em prol da nossa pátria. Aos Bombeiros Profissionais, Bombeiros Voluntários e à Protecção civil — com um passado recente  onde aparentemente nada aprendemos — continuamos a pedir o impossível, quando a solução passa por priorizar, equipar, contratar e modernizar as instituições, reforçando o número de efectivos e meios.

Dizia um general chinês que “Se conheces o inimigo e te conheces, não precisas de temer o resultado de qualquer batalha. Se te conheces, mas não conheces o inimigo, prepara-te: para cada vitória ganha sofrerás também uma derrota. Se não conheces nem o inimigo nem a ti mesmo, perderás todas as batalhas”.

Estamos, portanto, mais que na hora de nos conhecermos nas fragilidades para vingarmos no futuro.

Estes Homens e estas Mulheres, de H e M bem maiúsculos, que deixaram as suas casas e as suas famílias, são para mim o rosto diário dos heróis de um País de memória curta, perante os quais temos o encargo moral de não permitir que entrem no esquecimento colectivo.

Por agora #FiquemEmCasa, mas não esqueçam os nossos heróis.