Se Alá fala através do Grande Aiatola Ali Khamenei, como este garante, o Grande Aiatola Ali Khamenei comunica com os mortais através do Twitter, onde conta com um milhão e duzentos mil seguidores. Há dias, Sua Autoridade Psicótica recorreu a essa invenção do Grande Satã para congratular os estudantes universitários dos EUA. Pelos vistos, os estudantes em questão “estão do lado certo da história”, na medida em que as “suas consciências despertaram para defender as mulheres e as #crianças (com hashtag e tudo) de Gaza” e passaram a “formar um ramo da Frente de Resistência, iniciando uma honrosa luta face à brutal pressão do governo americano, que apoia abertamente os sionistas”.

São palavras bonitas de Sua Divindade Sanguinária, as quais certamente encheram de motivação e orgulho os revoltosos nos campus de Nova Iorque e Los Angeles, de São Francisco e de Boston. Agora, os estudantes que trocaram os estudos pelo berreiro diário em prol da “Palestina” podem juntar o apoio de Sua Sumidade Carniceira ao apoio dos governos de Espanha, Irlanda e Noruega; de cento e tal regimes ditatoriais ou em vias disso, incluindo Rússia, China e Brasil; do eng. Guterres; de resíduos dispersos do Ku Klux Klan e outros supremacistas brancos; de incontáveis cançonetistas pop e artistas de variedades; dos dirigentes do Hamas, do Hezbollah, do Estado Islâmico e dos taliban; de neo-nazis declarados; de neo-nazis disfarçados; de teóricos da conspiração; e um longo etc. que congrega boa parte disponível dos assassinos, ignorantes terminais, corruptos sem escrúpulos ou malucos sem medicação. Só é pena que o Canibal de Milwaukee já não se encontre entre nós, pois decerto não deixaria de expressar simpatia pela causa num “post” do Instagram.

O problema é que os louvores de Sua Omnipotência Tresloucada são exclusivamente dedicados aos estudantes americanos e ignoram a luta, igualmente digna, dos alunos de centenas de universidades em dezenas de países. Dos alunos portugueses, por exemplo, que sendo uma minoria são uma minoria assaz ruidosa. Existem por cá muitos pais que pagam a enormidade de 60 ou 70 euros mensais nas faculdades públicas de modo a que os filhos ocupem o ano lectivo em protestos contra Israel, e com a esperança de verem tamanho esforço reconhecido por um sociopata internacional. Infelizmente, em Lisboa, Porto, Braga e Coimbra os meninos e as meninas faltam às aulas, montam tendas, desenham cartazes, insultam colegas judeus e gritam com riscos de rouquidão os clichés do “genocídio” e do “rio até ao mar”. E para quê? Para receberem a solidariedade declarada ou presumida de consagradas irrelevâncias caseiras como os dirigentes dos três partidos comunistas, do ocasional socialista, do ex-juiz que é candidato do Ergue-te e, talvez, de skinheads na meia-idade. De Sua Luminária Abominável, nem um pio de incentivo.

É preciso não nos conformarmos com semelhante desprezo. E é urgente que as autoridades nacionais, incluindo possivelmente os próximos eurodeputados e o corpo diplomático, saibam exigir lá fora o respeito merecido pelos manifestantes cá de dentro. Afinal, no que toca à qualidade, o nosso apreço pelo terrorismo islâmico não fica atrás do que se pratica no estrangeiro. Falta é saber divulgar no exterior um produto competitivo, apenas prejudicado pelo carácter periférico do país. Se o embaixador em Teerão está a dormir, convém que, quando acordar, movimente influências para dar a conhecer o trabalho realizado nas universidades daqui, a cargo dos alunos e, com frequência, dos professores. Não somos menos anti-semitas que ninguém.

Aliás, se me é permitida a sugestão, seria da maior importância que, além de requisitar um “tweet” encorajador de Sua Sabedoria Transtornada, a embaixada assegurasse um protocolo de intercâmbio estudantil. O Irão enviava para cá moços e moças sem consciências despertas e Portugal mandava para o Irão activistas pela “Palestina”. Uma espécie de Erasmus do fanatismo, portanto, em que todos sairiam a ganhar: os iranianos aprenderiam os horrores da liberdade e os portugueses experimentariam na pele os prazeres de uma teocracia propensa a chacinar, perdão, a reeducar mulheres, homossexuais e seres vivos em geral.

Entretanto, está aí a época de exames e o ministério do Ensino Superior deve aboli-los sem demora. Não há ambiente para estudar medicina ou engenharia enquanto, a cada dia, são destruídos oitenta e cinco hospitais em Rafah, que já não tem água nem víveres vai para seis meses. O ideal é os estudantes desmontarem as tendas e mudarem-se directamente para o Acampamento de Verão do Bloco, a fim de aprimorarem por uns meses os conhecimentos em desobediência civil, feminismo, transsexualidade e assim. E depois, pelo fresquinho do Outono, pegam nos conhecimentos recém-adquiridos e levam-nos para o Irão, com escala facultativa na “Palestina”. Não faz sentido limitarmo-nos a exportar cérebros. Também dá jeito despacharmos cabeças ocas.

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