Ponto prévio: fui professora no ensino privado durante 22 anos e dois dos meus filhos foram alunos de duas escolas públicas. Sei o que é por isso poder escolher. Eu e eles tivemos esse privilégio. Que muitos, cada vez mais, não têm. Uma escola que seja Escola. E é também por esses ou para eles que está crónica vai.

Não me vou alongar nas reivindicações dos professores nem no que levou a esta greve. São mais do que conhecidas. Resumem-se numa palavra: dignidade. De ensinar e do aprender. Muito além do tempo de serviço, da instabilidade, do valor monetário recebido há o não reconhecimento da sociedade toda pelo esforço e empenho tantas e tantas vozes ignorado e estruturante para o bem estar e o desenvolvimento de gerações de portugueses. Porque um professor de verdade é muito mais do que o que debita dados científicos, as regras da gramática ou mostra que juntando azul e amarelo se chega ao verde com que se pinta um desenho. É quem, em conjunto com a família, tem a responsabilidade (e a maravilha) de transmitir a cada uma das crianças e jovens que por ele passa o espanto da descoberta, o porquê das coisas, a curiosidade que leva a saber mais. O querer aprender e não se ficar pelo que lhe é dado. Quem promove o salto da tal alavanca social que a Escola, no seu todo, tem que ser. Quem não deixa para trás os que, pelas circunstâncias sociais em que nasceram ou cresceram, menos hipóteses terão de aprender e de se superar. A tal promoção da excelência e de impulsionar saber, a Escola Pública que o Estado constitucionalmente está obrigado a defender. E há tantos, tão bons exemplos disso mesmo.

Só que, e ao contrário de outros países como os do Norte da Europa, este papel tem vindo a ser, década após década, mais desvalorizado e reduzido. Polarizada a questão, reduzida aos Mários Nogueiras que também a ajudaram a destruir. Sufocada por critérios programáticos carregados de ideologia e por uma infindável burocracia que afastam os vários intervenientes. Que não tem em conta a estabilidade de alunos e professores, tão essencial ao sucesso da missão. E que cada vez mais aprofunda o fosso entre uns e outros. Os que podem escolher e/ou a quem são dadas condições para exercer aquela que é muito mais do que uma profissão e quem não os tem. Não se pode pregar a inclusão e depois não investir no que está na sua base.

Pode ser que seja desta, com um protesto cada vez mais transversal que o país acorde para o que se passa há muito na Educação  Portugal. Que se sente à mesa da negociação quem de facto é Professor e não apenas quem disso faz carreira. Pode ser que o pais perceba que grande parte do que nos sobressalta e que impede a equidade e  crescimento presente e futuro reside aqui. No Educar. Pode ser.

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