Todos os anos, no Outono-Inverno, há uma crise nos serviços de urgência (SU) hospitalares por um “pico” de excesso de afluência de doentes relativamente à capacidade de resposta existente.

Este problema está identificad(íssim)o e, quando se repetir (porque vai repetir), ninguém poderá dizer que foi uma “surpresa”.

As reformas identificadas como necessárias e já sugeridas, tais como: o reforço da capacidade de resolução dos cuidados de saúde primários (CSP) para as situações agudas de menor gravidade/complexidade; a reorganização dos SU em equipas fixas; a criação da especialidade de medicina de urgência; a capacitação dos cidadãos para melhor identificarem os seus problemas e utilizarem os recursos adequados e/ou ligarem para a linha SNS24 e/ou para o INEM antes de se dirigirem para um SU; a alteração do paradigma do INEM de transportar sempre todos os doentes para um SU; a criação de um sistema de “urgenciação domiciliária” (cuidados médicos urgentes no domicilio); e a muito importante contratação de médicos para o SNS não aconteceram, de forma significativa, desde a ultima crise (há quase 1 ano).

Portanto, estaremos igualmente (mal) preparados para a próxima.

Com a agravante de que muitas das condições do SNS e de um número significativo de pessoas serão, previsivelmente, piores: as saídas de médicos por reforma, ida para o privado ou para o estrangeiro continuaram, a um ritmo importante, sem a necessária substituição; previsivelmente, mais médicos atingiram a idade (55 anos) de pedir escusa do SU; há mais utentes sem médico de família, portanto, menor capacidade de resolução nos CSP (ao invés de maior); menos rendimento disponível para as famílias, associado a aumento dos custos do aquecimento (eletricidade e/ou gás), agravando as condições climatéricas de muitos lares; menor capacidade monetária para aquisição atempada de medicamentos e/ou de procura de cuidados médicos, com consequente agravamento do estado de saúde “base” de muitos cidadãos; e finalmente, a conjugação potencialmente explosiva (e ainda imprevisível) de podermos ter, em circulação em simultâneo, sem qualquer medida de proteção obrigatória implementada (nomeadamente as máscaras), pela primeira vez, os vírus da gripe e do Covid 19.

Associado a isto, poderão ocorrer, com maior frequência e intensidade no contexto da crise financeira em curso, fenómenos como a ida a um Serviço de Urgência para obter uma refeição quente, um abrigo para passar a noite ou um lugar para “depositar” um idoso.

Ou há adoção de medidas urgentes que permitam melhorar a capacidade de resposta do SNS, por um lado, e a garantia de acesso a alimentação, habitação, aquecimento, medicamentos e cuidados de saúde, principalmente aos mais desfavorecidos, ou só teremos hipótese para gritar: “Brace”, “Brace” e esperar pelo embate.

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