Portugal está numa encruzilhada. Se por um lado o PS percebeu a razão da derrota de 2015 e transfigurou-se no partido das “contas certas”, vangloriando-se do “défice mais baixo da democracia” (quem se lembra da frase “há vida para além do défice” de Jorge Sampaio?), conseguindo mesmo converter os seus parceiros PCP e BE a esta disciplina orçamental, por outro lado os partidos que deveriam estar a fazer oposição, PSD e CDS, perderam o discurso quando votaram ao lado de BE e PCP na novela da recuperação integral do tempo de serviço dos professores. Rio está mais preocupado com o seu partido do que com o país, as listas para deputados tomam-lhe demasiado tempo. O CDS, que até já apresentou os seus candidatos ao parlamento, ficou em choque depois das Europeias e promete apresentar medidas que façam esquecer o resultado desastroso que obteve, pelo que aguardemos então.
E os novos partidos? Qual o espaço que podem ocupar? À partida não têm nada a perder, nunca participaram na governação (à excepção de Santana Lopes, presidente do Aliança) e portanto podem estar mais à vontade.
Comecemos então pelo Aliança. PSL lançou o partido porque percebeu que Rio faria mais oposição aos passistas do que propriamente ao PS, procurando conquistar muitos daqueles que deram a vitória à PàF e não se reveem na oposição de Rio. Problema: o partido é novo mas ele não. O Aliança já nasceu velho e com vícios, a única hipótese do Aliança é Santana escolher já o seu sucessor, prepará-lo e sair de cena, ficando como figura senatorial. O Aliança tem pontos a seu favor, posicionou-se sem medo à direita, sem jogos de palavras, tem razoável implementação nacional, tem meios e tem o “know-how” santanista. Isto é, o seu líder é neste momento a maior força e a maior fragilidade do partido, pelo que PSL sair de cena, mantendo-se por perto do delfim, seria o melhor para o partido.
O CHEGA não convence. Não basta papaguear aquilo que se pensa que os eleitores querem ouvir, é preciso alguma ideia, qualquer coisa que inspire as pessoas a votar, e isso Ventura não faz porque aparentemente ideias é coisa que não tem.
A Iniciativa Liberal, com resultados nos 2% em Lisboa e Porto, tem feito o seu caminho, com uma comunicação inovadora sobretudo apoiada nas redes sociais, e tem denunciado os abusos do Estado sobretudo em matéria fiscal. Mas será isso suficiente?
Portugal precisa de uma visão, de uma força política que se assuma claramente como uma alternativa a esta esquerda e que não queira apenas substituir PCP e BE como parceiro do PS.
O caminho afigura-se difícil, muitos decretaram a morte da direita e o que esta pode fazer? Inovar, reinventar-se e lutar porque nada mais lhe resta. A actual maioria de esquerda pode ser derrotada, Portugal não está condenado a ficar para trás, mais pobre e mais desigual, os jovens não estão condenados a partirem para o mercado de trabalho como quem parte para um jogo viciado, aqueles que arriscam o seu próprio negócio não têm que ser engolidos numa teia de burocracia e impostos, os funcionários públicos competentes e que investem na sua formação devem ter a oportunidade de ser justamente avaliados, contando mais o mérito que a cor do cartão partidário, não temos que viver mergulhados em impostos directos e indirectos para sustentarmos um Estado gigantesco e parasitário incapaz de fazer aquilo que devia, prestar-nos bons cuidados de Saúde, Educação e Justiça.
A questão dos novos passes sociais é o mais recente exemplo da falta de coragem dos partidos de direita mais tradicional – mas também dos novos: nenhum condenou de forma efectiva que os passes em Lisboa e Porto fossem financiados pelo Orçamento do Estado quando se podiam usar receitas locais, como o dinheiro obtido com as taxas turísticas nestas cidades. Causa estranheza que seja o BE a liderar a oposição na questão da supressão de barcos no Barreiro e causa mais estranheza ainda que ninguém se pronuncie contra a retirada de bancos no metro e na Fertagus prejudicando claramente idosos, grávidas e mulheres com filhos pequenos.
A direita não está condenada, mas a actual talvez esteja.