Temos assistido a uma dificuldade crescente de suster a pandemia por Covid-19 num regime de economia aberta. O sistema nacional de saúde atinge níveis de lotação de recursos próximo do limite da sua capacidade total, o volume de novos casos de infeção e óbitos não para de crescer. Existem até casos em Portugal de novas cadeias de transmissão geradas pela movimentação de doentes entre unidades de saúde. Na opinião pública são muitos os casos que evidenciam falta de capacidade de rastreio e controlo dos isolamentos profiláticos.

Como é que a tecnologia pode ajudar a garantir uma economia aberta em contexto pandémico?

Monitorização de cadeias de transmissão

A OMS recomenda que o controlo da pandemia deve ter como foco o controlo das cadeias de transmissão. Deste modo, existem várias formas de controlar o ciclo de vida das cadeias de transmissão através de diferentes tipos de tecnologia e utilizando dados totalmente anonimizados (sem qualquer identificação de cidadãos):

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  1. Os fluxos de mobilidade urbana determinam, em economia aberta, quais são os padrões de deslocação dos cidadãos que se deslocam para o trabalho ou para a escola. Deste modo, é possível através de dados provenientes dos operadores de telecomunicações identificar os fluxos padrão intra-concelho e entre concelhos. Trata-se de distinguir as deslocações que se repetem diariamente das esporádicas. Daqui resulta um primeiro indicador, que relaciona potenciais indutores de contágio.
  2. Também através da geo-localização de dispositivos móveis é possível detetar aglomerados populacionais em determinados locais que não estejam previstos e atuar em conformidade.
  3. A localização de novos casos positivos, bem como os isolamentos de contactos de risco, permitem observar o desenvolvimento de cadeias de transmissão. As que tendem a desaparecer e novas que estejam a surgir.
  4. Com mecanismos de auto reporte digitais (ex.: utilização de SMS + ChatBot) sobre a evolução de sintomas de casos positivos ou isolamentos profiláticos é possível analisar esses dados para suportar a monitorização das cadeias de transmissão.

Tanto os portugueses, como todas as partes envolvidas, deveriam ter informação diária sobre a evolução das cadeias de transmissão. Desse modo, seria possível não só sensibilizar a população, como também atuar perante casos mais críticos.

Sistema de Recomendação de Testes

Com base na evolução do histórico de identificação de casos positivos, é possível implementar um sistema de recomendação de testes por unidade geográfica. Sabendo quais são os padrões de mobilidade de uma determinada região com base nos dados dos dispositivos móveis, e na incidência de novos casos positivos em determinados locais, é possível recomendar franjas populacionais que deveriam ser testadas por prevenção.

Gestão de recursos do SNS

Se mantivermos um registo de eventos desde que foram identificados sintomas, confirmado teste positivo e alta hospitalar ou óbito, é possível, em função de uma série de características dos pacientes (ex.: sexo, idade, proveniência, sintomatologia, etc), prever quais são os recursos que vão ser utilizados à entrada das unidades de saúde. Exemplo: determinar que um paciente com determinado diagnóstico vai previsivelmente ocupar uma cama durante um determinado período de tempo.

Deste modo, é possível, e por antecipação, estimar as necessidades futuras que se avizinham em função dos casos que vão entrando nas unidades de saúde e, assim, agir no reforço de recursos que vêm de outros sistemas, como é o caso do privado.

A tecnologia ajuda a antecipar ações que potenciem o domínio da pandemia

Num contexto pandémico em economia aberta, são vários os desafios para procurar responder à imprevisibilidade de uma pandemia e, nesse sentido, a tecnologia pode desempenhar um papel vital na procura de respostas rápidas e ágeis que aumentem a capacidade de antecipar ações mitigadoras do crescimento da doença.