Por definição, moderno é aquilo que é contemporâneo, a tendência atual. As tendências da sociedade de hoje não estão tão distantes do filme Tempos Modernos, de Chaplin, onde um relógio gigante como protagonista funciona como metáfora da conhecida máxima “tempo é dinheiro”. Como estar bem no contexto desta sociedade tecnológica e cosmopolita, competitiva e de ritmo desenfreado, repleta de informação a apreender a cada minuto? Estamos sujeitos à pressão de um contínuo tic-tac para correspondermos a tudo com o máximo de sucesso. Em resposta, podemos reagir com algumas medidas fundamentais para o encontro com nós mesmos, no nosso próprio tempo.

1 Respeitar o tempo interno

Por mais azáfama que circule à nossa volta, que por vezes nos faz a cabeça rodopiar e nos comprime as emoções, devemos ouvir os ponteiros do relógio de dentro. É importante termos consciência da nossa capacidade para realizarmos os objetivos a que nos propomos. Devemos procurar manter o balanço entre a possibilidade/impossibilidade de corresponder ao que nos é externo e cumprir com o que nos é solicitado.

“Quem me dera que o dia tivesse mais de 24 horas”, “estou sempre a correr e mesmo assim o tempo não me chega”, “não aguento mais… e ainda tenho tanto que fazer”… As frases que tantas vezes dizemos ou escutamos são reveladoras de uma espécie de cansaço coletivo. Podemos, desde logo, indagar por que temos de andar a correr atrás do dito tempo, que é sempre o mesmo, mas parece saltar para fora do relógio. Temos coisas a mais para fazer dentro dos limites do tempo, ou somos nós que já nos acostumámos, mais ou menos por gosto, a correr já não sabemos para onde?

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Recomenda-se, para nosso bem-estar geral, que estruturemos melhor o uso do tempo de que dispomos. Estabeleça intervalos de tempo para dedicar a si, à família, aos amigos, ao trabalho, ao lazer. A gestão desses intervalos depende das prioridades de cada pessoa e não existe uma hierarquia certa. As opções devem ser ajustadas aos valores e objetivos de vida de cada um e, por conseguinte, estipulado o tempo a dedicar a cada uma delas.  Deve usufruir desse tempo com calma, ritmo lento e serenidade, sem ansiar pelo que tem de fazer a seguir. A ansiedade surge pela antecipação do que está para acontecer. Em vez disso, adote viver num tempo do modo gerúndio: ir fazendo, vivendo, aproveitando, gozando!

2 Não cair na rasteira dos tempos ideiais

Sentimo-nos ansiosos porque queremos alcançar os nossos ideais o mais rápidamente possível. É claro que cada um deve ser e dar o melhor de si, mas, atenção!, não ao ponto de colocarmos em risco a capacidade de nos auto- preservarmos! Sabemos que, às vezes, as fasquias colocadas são muito altas e o preço a pagar para cumprir o estipulado pode comprometer a própria saúde. Por vezes, acontece também que, por mais inteligência e discernimento que tenhamos, seguimos ideais impostos pelos outros e não por nós mesmos, guiamo-nos por expectativas colocadas em nós, ou pela nossa vontade de querer agradar. O resultado é tomarmos com demasiada frequência decisões, que estão muito longe das nossas verdadeiras vontade e necessidade.

Podemos escutar os nossos sonhos e desejos e traçar um plano para os concretizar, sem qualquer sentimento de culpa por estes poderem contrariar as eventuais expectativas de outros. Não ter preocupações em corresponder às tendências e normas sociais dominantes.

3 Apostar em ser

A famosa questão shakespeariana parte do dilema de Hamlet perante o sofrimento com que se depara — ter de escolher entre a vida e a morte —, mas acabou por ser extrapolada para a consciência geral de todos nós.  Ser ou não ser é a interrogação que todos colocamos sobre a capacidade de agirmos com atitude face aos acontecimentos. Sermos capazes de Ser é sermos capazes de nos assumirmos na plenitude da nossa existência. Logo, em primeiro lugar, devemos reconhecer quais são as características que possuímos e nos definem na nossa identidade única e singular. Devemos identificar as nossas qualidades, imperfeições, gostos e não gostos, o que nos realiza e o que nos pesa, com quem nos identificamos e de quem não gostamos, os nossos valores. Assim, vamos regulando a nossa coerência como pessoas. Precisamos de manter um trabalho contínuo de autoconhecimento, por forma a sabermos quem somos e a alcançar um sentimento de satisfação e realização perante nós mesmos.

Ter coragem de nos assumirmos, tal como somos, perante a nossa imagem ao espelho e o olhar dos outros. Gostar da pessoa que somos, com o melhor e o pior de nós, é o caminho para nos desenvolvermos com maior consistência e nos tornarmos melhores.

4 Ser economicamente independente

Quaisquer que sejam as ideologias capitalistas de cada um, logo, a vontade de ter mais ou menos capacidade económica, possuir uma independência financeira permite sentir o descanso das contas pagas e escolher onde gastar o seu dinheiro sem ter de dar satisfações a alguém. Ter o gosto de usufruir da liberdade de comprar roupa e sapatos, ir jantar fora com amigos ou assistir a um espetáculo, fazer uma surpresa, ou comprar um presente para quem se gosta, ou para si só porque sim, sair com os filhos, comprar-lhes um brinquedo, planear e concretizar uma viagem são algumas das coisas que dão um gostinho momentâneo e uma certa sensação de poder.

Embora saibamos que só se deve gastar o que se pode, que o consumismo não é politicamente correto e que a alguns de nós comprar não dá qualquer prazer, ter o sossego de assegurar as contas de saúde, da educação dos nossos filhos, da casa, é uma preocupação geral. Possuir fontes de rendimento que o assegurem é uma dimensão importante e basilar para que a nossa vida corra sobre rodas, sem ansiedade e noites mal dormidas.

Deve garantir uma fonte de rendimento que dependa só de si para assegurar as despesas a que precisa de fazer face, adequando, claro, ambas à realidade. Poupar para os extras que lhe proporcionem pequenos luxos e prazeres.

5 Ligar-se à família, a bons amigos, viver uma boa relação amorosa

Nós, humanos, somos seres sociais e com necessidade de bons afetos. Como tal, por mais independentes, autónomos e emancipados que sejamos, precisamos sempre dos outros. Precisamos, em alguns momentos, de ajuda. E, diariamente, precisamos de partilhar o nosso quotidiano, os nossos sentimentos, conquistas, dificuldades, aprendizagens e curiosidades da vida. Sentir que temos uma estrutura de retaguarda é edificante para o nosso sentimento de segurança interna e para a nossa autoconfiança.

A família de origem pode ser, sem dúvida, um lugar de conforto que está lá, desde e para sempre. Validar para si, que tem uma família com quem pode contar e garantir a sua presença constante pode proporcionar-lhe bem-estar e alívio.

Construir uma segunda família, composta por amigos que pode escolher, traz um acréscimo a esse bom sentimento de pertença. Sentir-se ligado e acompanhado pelos bons laços proporcionados pela amizade, traz a satisfação resultante da cumplicidade da troca de experiências e histórias vividas entre “irmãos emprestados”. Os amigos podem ser os maiores confidentes e os responsáveis por grandes experiências de alegria. Aqueles que não proporcionam tal, talvez não sejam tão amigos como imagina. Nunca se esqueça de que, se a família não se escolhe, os amigos podem escolher-se. Pode, portanto, avaliar como se sente nas suas relações de amizade, que jamais devem ser tóxicas ou um peso na sua vida.

Para almas românticas, é intrínseco desejar um amor para a vida. Quando tal acontece, é felicidade garantida, mas sabemos que cada vez são mais raros os casos de “…e viveram felizes para sempre”. Alerta: quando não são boas as vivências amorosas, ainda bem que não duram para sempre. A partilha da intimidade da nossa vida com alguém tem de assentar numa base de cumplicidade saudável. Cada um tem a sua forma de construir uma relação amorosa. Hoje, assistimos à composição de diferentes formatos de relações e cada par amoroso sabe de si. Mas há qualidades que devem ser basilares em todos os casos: cumplicidade, respeito, bom/bons humor/es, boa sexualidade, boa intimidade, amar e ser amado.

Sugere-se que com estes tempos de correria, não perca tempo em relações que não lhe fazem bem. Permita que se aproxime de si apenas quem lhe quer e faz bem!