É a minha estimativa para os governantes portugueses. Há uns anos Cavaco Silva afiançava: “Para serem mais honestos do que eu têm de nascer duas vezes”. Entretanto o ex-Presidente meteu-se na polémica da nomeação de familiares para o governo do PS e garantiu: “Fui verificar a composição dos meus três governos durante os dez anos em que fui primeiro-ministro e não detectei lá — espero não me ter enganado — nenhuma ligação familiar.” Enganou-se. Forte e feio. Aliás, fortíssimo e horrendo. Da última vez que conferi o evoluir do marcador, as nomeações de familiares em governos de Cavaco Silva iam em 15. Donde se conclui que um primeiro-ministro nascido 2 vezes — logo, mais sério que Cavaco — só nomearia, vá lá, 14 familiares. Já um chefe de executivo que nascesse 3 vezes nomearia, em princípio, 13 parentes. E por aí adiante. Calculo então que se um líder do governo nascer 15 vezes ainda nomeie um sobrinho neto, ou uma prima por afinidade, ou assim. Mas acredito que se os portugueses tiverem a felicidade e inteligência de eleger um primeiro-ministro que tenha nascido 16 vezes se acabe de vez com este regabofe. Agora é só escolher de entre todos os candidatos disponíveis.

O primeiro dos políticos portugueses a ser excluído deste rol é obviamente Carlos Já-Empregou-Mais-Familiares-no-Estado-do-Que-Havia-Soldados-no-Exército-do-Imperador-Romano-Júlio César. Foi agora notícia a nomeação de um primo do presidente do PS para a administração da empresa pública Navegação Aérea de Portugal. O que foi um sossego para os César, diga-se. Há muito que ansiavam ter um familiar num organismo com acesso a imagens de satélite. É que é tal a quantidade de parentes em cargos públicos, que só com uma vista aérea se consegue localizá-los a todos. Acaba por dar imenso jeito para combinar o jantar de Natal da família. Mérito para Carlos César que, ao confirmar que o dito indivíduo é seu primo apenas em “5º grau”, acabou por comprovar a sua eficácia na colocação de familiares no Estado: já nem tem primos em 1º, 2º, 3º, ou 4º grau disponíveis para nomear. Já vai nos primos em 5º grau, mesmo a rapar o fundo ao tacho. Ou aos tachos, mais correctamente.

Por falar em tramóias que nos são familiares, a CGD, o BCP e o Novo Banco avançaram com um processo contra Joe Berardo. O empresário deve 980 milhões de euros aos bancos e o único bem que tem em seu nome é uma garagem na Madeira. Joe Berardo é portanto uma espécie de Bill Gates, só que ao contrário. O fundador da Microsoft iniciou o seu negócio numa simples garagem acabando proprietário de um grande império, ao passo que Berardo passou a vida a fazer grandes negociatas acabando proprietário de uma simples garagem. A não ser que seja nessa garagem que a Dona Dolores guardou o molde do Cristiano Ronaldo. Nesse caso o anexo paga a dívida e ainda sobra bom dinheiro.

A propósito de Cristiano Ronaldo, o jogador foi acusado de sexismo por causa de um vídeo em que joga à bola com o filho e não a passa à filha, apesar das solicitações da menina. Como é óbvio não há ali qualquer discriminação. Aliás, as activistas de género que criticaram o Cristiano é que alimentam o estereótipo sexista de que as mulheres não percebem nada de futebol. Então se a menina não dá uma linha de passe ao pai como é que querem que ela receba a bola? A bebé está completamente parada atrás do irmão, não faz qualquer menção de se desmarcar nem nada. Tenham paciência, mas passar a bola à menina seria uma opção incompreensível, ainda por cima para o melhor jogador do Mundo.

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