Que festa linda, a do centésimo aniversário do Partido Comunista Português. As ruas de Lisboa e Porto ornadas com bandeirolas alusivas ao regime ditatorial que a União Europeia equipara ao nazismo. Convivas a desfilar agitando bandeiras com a efígie de genocidas vários, em jeito de confirmação das gritantes falhas do SNS ao nível dos cuidados de saúde mental dos portugueses. Um jovem, de punho em riste, envergando uma t-shirt alusiva a uma multinacional inglesa, como que a comprovar o criminoso enviesamento ideológico do sistema de ensino. E claro, uma lona gigante com a palavra “Liberdade”, rodeada de foices e martelos, comprovando que os sistemas de saúde e ensino, a funcionarem um dia, já vêm tarde de mais.

E lá soprou as suas 100 velas, o PCP. E pediu um desejo, também, tenho a certeza. Lá ao Estaline, ou ao Mao Tsé-Tung, ou ao Che Guevara, ou lá qual é o Deus deles. Em todos estes casos, no entanto, bondosos e morais substitutos das clássicas e aterrorizantes deidades, escusado será dizer. E aqui, em nome da justiça, impõe-se uma ressalva. Ou muito me engano, ou o PCP desejou que Portugal nunca, mas nunca, se torne um país comunista. Isto porque o PCP sabe, melhor que ninguém, que num país comunista é mesmo muito aborrecido apagar as velas do bolo de anos. É que, apagada a luz das velas, há uma probabilidade altíssima de não haver qualquer outro tipo de luz. E depois lá têm os comunistas de mandar uns dissidentes para o pinhal, que por azar fica para os lados da Sibéria, apanhar pauzinhos, para esfregar noutros pauzinhos, fazendo novo lume para reacender as velas. É diversão muito apreciada por aquelas bandas, atenção. Mas é moroso. Já sem falar do bolo em si, que nunca chega para todos.

Agora, uma coisa é o PCP não querer viver num país comunista, outra é o PS decidir que, um dia, lá chegaremos. E aí, que remédio terá o PCP. De António Costa, progenitor da gerigonça, passando por Pedro Nuno Santos, apreciador da geringonça do ponto do utilizador cujas perninhas tremem é pelo Bloco de Esquerda, ao líder da JS, Miguel Costa Matos, que garante que o grande problema de José Sócrates foi defender o liberalismo, o caminho do PS rumo ao amanhã que canta está escrito nas estrelas. Mas não são aquelas estrelas no passeio, ao jeito de Hollywood. Porque, por lá, são as pessoas que pisam as estrelas. Por cá, são estas “estrelas” que pisam as pessoas.

Entretanto, celebrou-se o Dia Internacional da Mulher e António Guterres aproveitou para pedir uma mudança de mentalidades, que reverta as disparidades salariais entre homens e mulheres. Parece-me bem e tomo a liberdade de deixar uma sugestão a Guterres. Demita-se do seu cargo, ainda hoje, e apoie a candidatura de uma mulher a Secretária-Geral da ONU. E, já agora, uma questão. Uma vez que tamanha preocupação com a igualdade não é, como é óbvio, patranha de ocasião, mas profunda crença, porque não abicou, logo em 2016, a favor de uma mulher? Houve várias candidatas ao cargo. As hipóteses de fazer justiça, logo ali, eram estupendas. Algo de grave se passou, que se há coisa que sabemos de António Guterres é que não é homem de fugir às responsabilidades.

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A propósito do Dia Internacional da Mulher, vários órgãos de comunicação social fizeram eco da seguinte notícia da agência Lusa:

“Segundo as estatísticas, as mulheres são quem cumpre mais a escolaridade obrigatória e possui maior formação superior, mas a família ainda constitui um entrave para terem igualdade de oportunidades a nível laboral.”

O quê? A família constitui um entrave para a igualdade de oportunidades a nível laboral? Claro que constitui. Porque uma mulher, ou um homem, que decida ter uma família e a ela dedicar mais tempo, terá menos tempo para dedicar a outras coisas, como porventura o trabalho. E, em princípio, ganhará menos do que alguém em circunstâncias iguais, mas que dedique mais tempo ao trabalho. A “boa notícia” é que, quem não desejar ter o dito entrave, a tal não é obrigado. É abdicar do estorvo. Mas depois não venham cá com desculpas por não terem ficado com o emprego do Guterres, minhas senhoras.