É certo que as taxas de abstenção têm atingido, consecutivamente, valores recorde. Segundo uma sondagem realizada antes das últimas eleições presidenciais de 2021, a faixa etária dos 18 aos 24 anos era a que apresentava maiores indícios de não participação eleitoral, sendo que 35% destes jovens admitiram que não iriam votar. Efetivou-se nessas mesmas eleições uma taxa de abstenção de 60%, tal nunca antes visto em Portugal.

Dados de 2017 apontavam para que fossem cerca de 2,57 milhões de jovens nascidos entre 1995 e 2010, pertencentes à Geração Z, aproximadamente um quarto da população portuguesa. O impacto dos jovens é fortíssimo e inegável. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, chegou inclusive a alertar todos os partidos para que estes se questionem sobre os motivos que levam os jovens portugueses a não quererem saber da política.

Atualmente verificam-se ainda algumas falhas no plano comunicacional e estratégico dos partidos. O vocabulário demasiado técnico e adornado usado pelos políticos e a falta de representação de jovens dentro das estruturas dos partidos são algumas das razões que tendem a afastar os jovens da política.

Mas será então esta alienação política dos jovens assim uma tão grande verdade de La Palisse? Estarão os jovens mesmo afastados da política ou apenas dos estilos de participação política convencional?

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Contrariamente àquilo que parece ser uma verdade adquirida e incontestável, novos estudos têm vindo a demonstrar o contrário. Estes jovens encontram-se, efetivamente, envolvidos politicamente. Contudo, estão mais propensos a envolverem-se em estilos de políticas mais orientados para causas e que fomentem o ativismo político como, por exemplo, participando em manifestações, assinando petições públicas e envolvendo-se em associações jovens. Causas como o racismo, a igualdade de género ou a sustentabilidade são temas relevantes nesta geração.

Prova disso poderá ser a rápida ascensão de partidos como a Iniciativa Liberal (IL) e o Partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN). Efémero ou não, ainda não é possível definir estes fenómenos de crescimento, porém, é notório que estes partidos adotaram uma clara estratégia de mobilização dos jovens para os seus movimentos políticos.

É certo que o mundo da política é turbulento e, muitas vezes, imprevisível, mas os partidos não podem fechar os olhos às estratégias de marketing que possam conquistar este segmento jovem. O foco não poderá ser apenas nas propostas e programas políticos, tem que passar também pela criação de uma imagem de marca consistente, em linha com os ideais do partido, e diferenciadora, comunicada através dos meios e plataformas que os jovens mais valorizam. Mais do que tudo, real e sincera.

Um maior envolvimento dos jovens na vida política pode ser potencializado através das redes sociais. Exemplo recente foi o caso da plataforma Clubhouse, que juntou diversos líderes e membros políticos à conversa com jovens de todo o mundo. Outro conceito que começa a ser adotado em Portugal é a presença de figuras políticas em meios alternativos, tais como a participação em programas de comédia ou até mesmo em talk e daily shows (um clássico americano), ou a criação de conteúdos em vídeo para plataformas como o Youtube. E quem melhor que os jovens para partilhar este tipo de conteúdos e potencializá-lo?

O branding político deverá assumir também um papel preponderante nas agendas políticas. Os jovens têm o tempo organizado com agendas dignas de um CEO de topo. Desta forma, os partidos devem criar uma imagem de marca que lhes permita identificar rapidamente o seu produto político, permitindo-lhes poupar tempo e, assim, tomarem uma decisão de voto mais simples e célere. Para além disso, os partidos deverão assumir uma orientação para a cocriação e criação de experiências, integrando os jovens nos processos de elaboração de soluções políticas.

Um estudo recente da Deloitte, relativamente às principais preocupações dos jovens como resultado da pandemia da Covid-19, demonstra que esta geração se interessa, essencialmente, por questões relacionadas com as alterações climáticas e a proteção do ambiente, com o desemprego e com a saúde pública. Cabe agora aos partidos e líderes políticos perceber como captar a sua atenção, porque o futuro passará por muitas outras coisas, mas certamente que o presente pertence desde já aos jovens e ao marketing.

Criar uma marca exige tempo, consistência na mensagem e na atitude. As novas gerações estão atentas, são mais informadas e ávidas de contribuir. No que respeita ao âmbito político, e a um desígnio nobre de contribuir para o bem-estar da comunidade, construir uma marca credível exige provas.

A melhor forma de envolver as novas gerações é ter a coragem de as ouvir e perceber. Ter a coragem de preferir que o mundo e a sociedade fiquem melhor mesmo que implique não ter razão.