Sei bem que é sempre muito bonito lembrar o grande problema que é a baixa taxa de natalidade portuguesa, e dar uma meia dúzia de soluções. À esquerda a maior parte da solução parece ser colmatar o encolhimento da população com imigração. À direita propõem-se medidas fiscais mais benevolentes, com a sempiterna possibilidade (que nenhuma mulher quer nem, com o nível de ordenados que temos por cá) de trabalhar a meio tempo e a educação de infância universal e gratuita. Mais pó menos pó, é isto.

Claro que nenhuma destas medidas é má e inútil. Todas serão necessárias para resolver o problema da população a encolher, com o menor dinamismo (cultural e económico) e as dificuldades para pagar as pensões que resultam. Porém é sempre bom conhecer as causas dos problemas para os resolver. Sei bem que isto custa aos políticos, reconhecerem que a realidade existe por si só à solta, teimando em não caber nas, nem ser explicado pelas, teorias e ideologias políticas que se preferem. Neste caso – que envolve escolhas de mulheres terem ou não filhos – custa ainda mais aos políticos – maioritariamente masculinos – aceitar que se está a lidar com a realidade do ‘outro’ (feminino, no caso, como disse) e que se deve sobretudo ouvir o outro (bom, a ‘outra’) para perceber o que se passa, em vez de adotarem a atitude normal masculina de explicarem às mulheres qual o problema existente e como se resolve.

E a verdade é que, havendo necessidade de políticas públicas, claro, a decisão de ter filhos provavelmente passa por fatores de organização social e familiar que pouco têm a ver com deduções fiscais, ou outras. Donde, alterações no bom sentido que se façam podem bem resultar inúteis.

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