Antes de mais, as minhas felicitações a António Costa e a Assunção Cristas. Foram os maiores vencedores das eleições autárquicas. É um disparate afirmar que as eleições locais não têm uma leitura nacional. É óbvio que têm, pelo menos desde que Guterres se demitiu e permitiu que o PSD e Durão Barroso (e o CDS) chegassem ao governo. Em política, o precedente tem força. Embora as eleições de Domingo não sejam eleições legislativas, Costa está hoje mais forte politicamente do que na semana passada. Por isso, ganhou. O mesmo se passa com Assunção Cristas. Consolidou a sua liderança no CDS. Por isso, também venceu. Quem ganha merece os parabéns.

O país agora olha para o que vai acontecer no PSD. Já muita gente decretou a morte de Passos. Muitos deles também o fizeram em 2013 e depois em 2015. Muitos, no PSD e fora, esperam a vinda de Rui Rio. Parece assim que a partir do início do próximo ano, teremos Passos ou Rio a liderar o PSD.

Vamos por partes. Passos foi o maior responsável pelo mau resultado nas eleições de Domingo. Não as preparou da melhor maneira nem se empenhou em ganhá-las. Para mim, é um mistério o descuido e até mesmo o pouco profissionalismo com que Passos enfrentou as eleições autárquicas. Confesso que não estava à espera.

Mas, na minha opinião, a incapacidade de integrar as eleições autárquicas numa estratégia política mais alargada foi o maior erro. As eleições autárquicas eram a oportunidade para o PSD e o CDS, juntos, mostrarem que tinham uma estratégia e um rumo diferentes para o país. Perderam essa oportunidade. Não terão outra antes de 2019. Numa altura em que as esquerdas se uniram, as direitas dividiram-se. Com estratégias destas, Costa nem precisa de ter muita sorte.

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No último ano, escrevi dois artigos no Observador a apelar a candidaturas comuns do PSD e do CDS em Lisboa e no Porto. Os resultados em Lisboa mostram que se o PSD tivesse apoiado Cristas, poderiam ter conquistado a Câmara. No Porto, quando o PS retirou o apoio a Moreira, o PSD deveria ter aderido à coligação. Alguém tem dúvidas que foi o eleitorado do PSD que deu a maioria absoluta a Rui Moreira? Aconteceu assim esta coisa extraordinária. O PSD perdeu numa cidade onde a maioria do seu eleitorado natural ganhou. Hoje, tudo seria diferente se o PSD e o CDS tivessem vencido Lisboa e o Porto. Não o conseguiram por culpa própria.

Mas, apesar do que diz a Lisboa política, Passos não é o único responsável pela derrota do PSD. E aqui chegamos a Rui Rio. Rio fez tudo para impedir o apoio do PSD a Rui Moreira. Álvaro Almeida, antes de ser o candidato de Passos, era o candidato de Rio. Aqueles que argumentam que a derrota nas autárquicas deve provocar a demissão de Passos, antes de escolherem Rio para líder do PSD, devem pensar na derrota de antigo Presidente da Câmara do Porto. Rio foi um dos grandes derrotados no Porto. Trabalhou do princípio ao fim para impedir a vitória de Moreira e o seu candidato sofreu uma enorme derrota. 10%. Eis o capital político de Rui Rio na cidade onde um dia foi Presidente da Câmara. O PSD acha que é a pessoa certa para liderar o partido?

Não faço a mínima ideia se Passos vai concorrer de novo à liderança do PSD. Continuo a achar que é o melhor que o PSD tem hoje em dia, mas não sou militante por isso a minha opinião pouco conta. Mas como eleitor de direita, Rui Rio não me convence. Não desejo ver à frente do PSD alguém que aspira a ser número dois de António Costa. Um PSD liderado por Rui Rio vai competir com o PCP e com o BE para ver quem é o aliado do PS no governo.

No meio desta discussão, ninguém fala de Marcelo Rebelo de Sousa. O Presidente tem que preservar a sua reserva institucional. Mas a mim parece-me claro que Marcelo não deseja vêr Rui Rio à frente do PSD. Deverá o PSD eleger um líder sobre o qual o próprio Marcelo Rebelo de Sousa mostra as maiores reservas?