1 O Partido Comunista Português tem fama de ser uma força política “consequente” até no que diz respeito à ousadia de declarar abertamente que o regime político e constitucional vigente no nosso país deve ser derrubado. Não obstante termos um Governo socialista, que sobrevive à custa do apoio do PCP e do BE, o regime político, segundo a classificação dos comunistas, continua a ser considerado “capitalista”.

No XXI Congresso do PCP, recentemente realizado, Albano Nunes, membro da Comissão Central de Controlo, declarou que “o capitalismo tem de ser derrubado pela força”. A declaração teve alguma repercussão na sociedade, mas, talvez descontentes com o pouco alarido que a intervenção de Albano Nunes provocou ou talvez considerando que se trata de mais uma “pérola” teórica do marxismo-leninismo”, os comunistas decidiram publicar no jornal “Avante” o texto integral com claras ameaças à democracia.

Alguns leitores desprevenidos podem pensar que Albano Nunes recorreu a uma “metáfora” e não à possibilidade do emprego real da violência armada, mas a sua base teórica, neste caso, uma conhecida citação de Karl Marx, não deixa dúvidas: «a arma da crítica não pode substituir a crítica das armas: o poder material tem de ser derrubado por poder material; só que também a teoria se torna poder material assim que agarra as massas».

Claro que, por enquanto, em país algum a teoria marxista-leninista “agarrou as massas”, pois não há exemplos de regimes comunistas que tenham conseguido tal “façanha”. Por isso, poder-se-ia interpretar essas palavras como mais  um delírio ideológico. Até que ponto deve degenerar a classe política portuguesa para que as massas se agarrem ao marxismo-leninismo?

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O problema é outro: os comunistas chegaram sempre ao poder através de golpes de estado realizados por grupos minoritários armados ou devido à intervenção armada de países com a mesma cor política, e nunca através do apoio popular manifestado nas urnas.

Além disso, os comunistas não querem aprender nada com a experiência histórica. O ideólogo Albano Nunes escreve: “É certo que o processo de libertação social e humano é irregular e acidentado e que o caminho para o triunfo do socialismo se revelou um processo mais complexo e demorado do que previsto. Porém tal não desmente que os grandes avanços e transformações revolucionárias do século XX estejam indissoluvelmente ligados à acção revolucionária das forças que têm o marxismo-leninismo como base teórica e ao papel da URSS e do campo socialista”.

“As dramáticas derrotas do socialismo não apagam esta realidade que os ideólogos do capital tudo fazem por escamotear e até inverter” – conclui ele.

Outra afirmação de Albano Nunes merece particular atenção: “A história do movimento comunista e revolucionário internacional mostra que é na aplicação viva e criadora dos princípios fundamentais do marxismo-leninismo que se fortalecem os partidos comunistas e que, pelo contrário, o afastamento deles tal como a sua consideração dogmática, conduz à degenerescência e à derrota”.

Tendo em conta o desaparecimento crescente da base eleitoral do PCP, fica aqui a questão: qual a causa disso: “o afastamento deles tal como a sua consideração dogmática, conduz à degenerescência e à derrota”?, como escreve o dirigente comunista.

O enfraquecimento eleitoral do PCP não deve preocupar muito os comunistas porque “o capitalismo não cai por si, tem de ser derrubado pela força”.

Não querendo defender a proibição do PCP ou de outra força política legalizada pelo Tribunal Constitucional, gostaria de deixar aqui uma pergunta: será que as leis vigentes no nosso país permitem o apelo ao emprego de armas, de violência na luta política? Ou será que as leis só são para alguns?

2 Num acto claramente masoquista, assisti à conferência de imprensa de Vladimir Putin, que durou quase cinco horas. O Presidente russo voltou a ser igual a si próprio: a Rússia é a maior em todos os sectores! Ela, por exemplo, atravessa a pandemia de forma melhor do que os outros: a queda do  PIB foi de 3,6%. Isto é menos do que em praticamente todos os grandes países da Europa e nos Estados Unidos.

Quanto à preparação dos serviços de saúde russos face à pandemia, ele considerou: “Já disse que temos um mar, um oceano de problemas, mas tudo se compreende comparando, e, comparando como o que se passa no mundo, claro que o nosso sistema mostrou ser mais eficaz”.

Claro que não podia deixar escapar a questão da vacina Sputnik V: a Rússia foi o primeiro país a inventar uma vacina, a fabricá-la e com uma eficácia de 76%!

Ao abordar a publicação de documentos que mostram que os serviços secretos russos estiveram por detrás do envenenamento de Alexey Navalny, Putin tratou-o por “paciente de uma clínica de Berlim”, declarando que tudo não passou de uma acção realizada pelos serviços secretos americanos para atacar os dirigentes russos e dar a Navalny uma importância que ele não tem.

Este ano, apenas dois jornalistas estrangeiros foram autorizados a fazer perguntas ao líder russo. Na resposta sobre a “nova corrida aos armamentos”, Putin sublinhou que ela continuou, mas a culpa é toda dos Estados Unidos depois de abandonarem o Tratado de Defesa Anti-Mísseis. No que respeita ao Tratado de Redução de Armas Estratégicas-3, cuja vigência termina em Fevereiro, Putin lançou um apelo a Joe Biden, que aceite o prolongamento tal como prometeu.

Mais um discurso claramente soviético: êxitos dentro e fora do país e as culpas dos problemas da Rússia e do mundo são todas dos outros. A degradação do regime putinista continua.