Temos de ficar preocupados quando olhamos para os indicadores sociais em Portugal. Eu fico muito inquieta. Os dados mais recentes da Pordata revelam que 4.4 milhões de pessoas vivem abaixo do limiar da pobreza, recebendo 554 euros de salário mensal. É verdade que os apoios sociais reduzem este número para 1.9 milhões de pessoas, mas não podemos esquecer que os grupos mais afetados são os casais com filhos dependentes, famílias monoparentais e desempregados.

A apreensão aumenta quando cruzamos estes dados com os resultados apurados pelo último Censos, que demonstram que o número de portugueses a viver sozinhos aumentou 18% entre 2011 e 2021, representando quase um quarto (24,8%) do total das famílias em Portugal. O quadro torna-se particularmente dramático quando sabemos que 44.500 idosos vivem sozinhos, isolados ou em situação de vulnerabilidade.

O cenário é desolador – e só não é mais porque há um trabalho incansável, muitas vezes invisível, de muitas pessoas e instituições. Saliento o incrível trabalho de 68 mil organizações do setor social, 91% das quais são associações de solidariedade, muitas delas ligadas a fundações. Apesar de serem confrontadas com problemas cada vez mais complexos, apresentam-se como fundamentais no combate às desigualdades, principalmente pela proximidade com que atuam nos territórios junto dos seus beneficiários diretos.

É tempo de o social se tornar capital. Assistimos felizmente a uma clara evolução da consciência dos cidadãos. Vejo isso todos os dias na Fundação, no Banco, nas empresas e nas pessoas com quem nos relacionamos. Não ficamos de braços cruzados.

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Como responsável pela área do ESG do Santander na Europa e presidente da Fundação Santander, constato diariamente que a responsabilidade social passou a ser condição essencial de todos os empresários que querem ser atores e protagonistas de uma mudança positiva. As empresas não devem ter vergonha de dar à sua intervenção social no âmbito dos ODS – os objetivos de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas – a mesma atenção que dão ao lucro. Na hierarquia dos stakeholders, a comunidade e as suas circunstâncias ocupam hoje um lugar que nunca tinham ocupado antes.

O futuro pertence claramente às empresas que privilegiam as relações mais profundas e de longo prazo com as instituições sociais. As que assumem um posicionamento de investidores de impacto, atribuindo não apenas dinheiro, mas know how, trabalho concreto de voluntariado, oferecendo uma maior relevância à avaliação social e ambiental do impacto dos seus investimentos​.

Claro que o apoio financeiro é muito relevante – e aqui considero que o nosso trabalho na Fundação é agregar esforços, dar o exemplo, para que outros nos sigam e percebam que este percurso de transformação cultural é imparável. “Dar pode ser receber” não é um slogan, é uma visão do mundo e uma atitude.

Em 2018, 65 mil empresas – ou seja, cerca de 20% do tecido empresarial nacional – realizaram alguma espécie de contributo ou donativo, num montante total de 189 milhões de euros. A estes valores temos de somar o apoio não financeiro. Um bom exemplo são as ações de voluntariado dos colaboradores, que também aprendem a transformar-se. E com eles as empresas.

Temos testemunhado exemplos fantásticos de mobilização na sociedade. Empresas a desenvolver ações de team building social e universidades a realizarem praxes sociais, em que os alunos dão aos outros um pouco do seu tempo livre. O mercado de trabalho a incluir cada vez mais diversidade em todos os sentidos.

É grande, por exemplo, o trabalho da Associação Salvador na sensibilização das empresas para esta integração, como também é de aplaudir de pé a ação de outras iniciativas da sociedade civil e a abertura das empresas, como se vê no Inclusive Community Forum’s, da NOVA SBE, mas também no trabalho extraordinário que a EPIS – Empresários para a Inclusão Social tem feito desde a sua fundação. Destaco também, entre muitos outros projetos, programas e iniciativas em que estamos envolvidos, o recém-criado CATÓLICA-LISBON Yunus Social Innovation Center, numa parceria que assumimos em conjunto com a Galp para participarmos nesta iniciativa mundial do Prémio Nobel da Paz de 2006, Muhammad Yunus, agora também em Portugal.

Sabem todos agora que podem contar com mais um ator, a Fundação Santander Portugal. Também aqui trabalhamos para transformar vidas. Contribuímos para a aceleração da adoção de soluções inovadoras e, repito, somos agregadores, apostando no trabalho conjunto entre empresas, universidades, fundações e outras organizações sociais, públicas e privadas, Estado e sociedade civil, com diferentes modelos de intervenção.

Não há tempo a perder. Acreditamos estar a contribuir para a criação de um modelo económico que incorpora plenamente as preocupações de todos com a sustentabilidade e a inclusão social. Vamos continuar a percorrer este caminho através das pessoas e sempre com as pessoas. Pela justa dignidade de todos.

Um bom Natal e que 2023 seja o ano da responsabilidade social.