“Nunca,” declarou alguém, “vou a sítios pela primeira vez.” A frase exprime a atitude dos poucos a quem a ideia de uma experiência nova ainda deixa indiferente, ou a quem tal ideia provoca cansaço ou hostilidade. Não é uma atitude comum, e não é, sobretudo, uma atitude encorajada. O que se encoraja é pelo contrário um acumular daquelas coisas que se fazem pela primeira vez, a que um autor chamou sinistramente “as várias formas de actividade entusiástica”; e também a desconfiança em relação a coisas que se fazem pela segunda.

A mais aparentemente inócua e comum, mas nem por sombras a única, é viajar. Há pessoas que organizam os seus tempos livres por ordem geográfica. Mas mesmo aqueles que não sofrem dessa inclinação consideram por princípio desejável ir a sítios onde nunca se foi, e de que se ouviu dizer bem. Porquê, no entanto? Os rumores e as descrições podem, decerto, estar errados. Mesmo que porém estivessem certos e que as Seychelles e a Suécia fossem o que consta reiteradamente que são, tal não tornaria por si recomendável a deslocação. Qual é a vantagem de conhecer sítios onde nunca se foi? E qual é a esperança que anima aqueles que o fazem?

A esperança parece ser como a esperança de que amanhã o sol nasça de modo inédito: azul, triangular, ou a ocidente. É irrazoável. Tal como o mais provável é que o nascer do sol de amanhã seja parecido com o nascer do sol de hoje, assim o mais provável é que os sítios onde nunca se foi sejam parecidos com os sítios onde se foi. O resto são surpresas, que por definição não temos o direito de esperar. Quem parte das suas Seychelles natais para a Suécia encontrará assim na Suécia aquilo que os termos de comparação natais lhe ditam. A Suécia aparecer-lhe-á como uma extensão modesta daquilo que conhece, muito parecida com as Seychelles, mais tartaruga menos tartaruga; e se for dado à filosofia perceberá que não foi à Suécia pela primeira vez mas às Seychelles pela segunda.

Existe uma versão deste problema a respeito de pessoas. Tudo à nossa volta nos recomenda com insistência que as conheçamos. “O homem,” repete-se regularmente, “é um animal social.” É possível que todos o sejamos num sentido genérico, e alguns em sentido próprio. Mas mesmo nesses casos não ficará demontrado que precisemos de conhecer mais pessoas; pode muito bem dar-se o caso de já conhecermos as suficientes, e até nem as conhecermos bem; as pessoas que sempre conhecemos são como os países em que pela primeira vez nos encontrámos, e onde nunca tivemos que ir. Acresce a isto que, como nos países, descobrimos nas pessoas que encontramos pela primeira vez aquelas que já conhecemos. Como terá observado Elizabeth Taylor, todos os maridos são iguais, embora cada vez piores.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR