A era dos Recursos Humanos, com as suas mentalidades e modus operandi tradicionais, está a um passo do fim. São as experiências que se proporcionam às pessoas que fazem a diferença e não os processos administrativos pelos quais estas passam. Estas equipas deverão estar focadas nas pessoas e deverão compreender as suas necessidades e comportamentos para desenhar iniciativas que sejam diferenciadoras e inovadoras.

Os RH tradicionais, nas várias indústrias, estão a deixar de ter o seu tempo e espaço. Aqueles que ainda são meros executantes, colocando em prática as decisões de outros e não estando no centro da tomada de decisão. Aqueles que são apenas reativos, respondendo às emergências quando estas aparecem, funcionando constantemente em modo bombeiro. Aqueles que têm uma visão redutora da realidade que os rodeia, limitando-se à tradicional forma de pensar e executar as tarefas.

Com os atuais desafios, tem de se ter uma abordagem holística e estratégica e por isso tem de se pensar nas experiências que as pessoas vão encontrar durante todo o ciclo do colaborador na empresa.

A equipa de People Xperience (PX) tem de estar no centro das discussões estratégicas da empresa, com total participação nas decisões, porque no final do dia toda e qualquer decisão impacta pessoas, seja de que forma for. Tem de ser proativa, no sentido de entender os objetivos e necessidades para definir e implementar iniciativas que efetivamente impactam as pessoas. É fundamental perceber o negócio e ter noção da realidade do mercado onde a empresa se movimenta para também sugerir as ferramentas de trabalho mais adequadas.

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Atualmente, muitas são as empresas que conseguem superar o salário da vizinha do lado, mas não será apenas pela questão financeira que se irá distinguir. Temos alguns exemplos no mercado que, embora não sejam os melhores pagadores, são exímios na experiência que oferecem às suas pessoas.

Será que gostávamos que nos enviassem um email de madrugada ou durante o fim-de-semana a informar-nos que iríamos ser dispensados? Óbvio que não, mas infelizmente continua a acontecer. Será que gostaríamos de ter tempo extra para gerir desafios parentais? Será que gostaríamos de ter tempo extra quando perdemos um amigo próximo? A resposta é definitivamente sim, e não é assim tão difícil de o fazer (mesmo sem ser imposto por lei). Será que gostaríamos de ser vistos como pessoas em vez de recursos? Certamente que sim.

Estando envolvida na criação de startups e em escalar equipas nos últimos anos, duas coisas tenho como certas: a lei tem (sempre!) de ser respeitada e tem de se ser ágil, flexível, rápido e humano. As equipas de PX podem aprender mais com as equipas de engenharia e produto, pensando em iterar processos e em evoluir os seus próprios “produtos”, adotando metodologias de trabalho ágil para que possam ser diferenciadoras para as suas organizações. É também importante comunicar prioridades e objetivos de equipa para todos, por isso metodologias como OKR’s (Objectives and Key Results) podem ser interessantes de explorar, podendo trazer transparência a todos os envolvidos.

A qualquer startup/empresa que se esteja a estabelecer e/ou a reorganizar, poderia ser importante concentrar esforços e investimentos em criar experiências e iniciativas centradas nas pessoas, de pessoas para pessoas.

Esta é a altura ideal para mudar mentalidades e (re)definir uma nova cultura de pessoas. Claro que para tal, é necessário ter as pessoas certas nas funções corretas, por isso é sempre prioritário começar por criar e estruturar uma equipa de PX antes de escalar demasiado e ser preciso emendar alguns erros.

Focando nas pessoas e nas suas interações, tendo feedback e feedforward como base, sendo orientados a dados e factos e atuando como facilitadores entre todas as partes envolvidas, a equipa de People Xperience será reconhecida como parceira estratégica e não como executantes ou informantes. Focar nas pessoas e não nos processos, na humanidade e não na burocracia.

Liliana terminou o seu Mestrado em Psicologia Social e das Organizações em 2012. Durante os seus estudos foi HR Manager na empresa junior da faculdade tendo assim o primeiro contacto com RH. Em 2013, entrou no mundo das tecnológicas e em 2015, descobriu as startups. Tem-se focado em desenvolver e implementar estratégias para melhorar a vida dos seus colaboradores, tendo passado por empresas como a Glintt, Miniclip, Uniplaces e Zalando. Mais recentemente, como Head of People Xperience do KI group em Portugal, tem concentrado esforços em criar e escalar empresas e equipas tech.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõe o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.