Acredito que, nestas semanas, a maioria dos portugueses esteja concentradíssima no Mundial de Futebol. Já eu, em vez de estar concentrado no futebol, ando mais focado, confesso, no ténis de mesa. Mais especificamente numa espécie de interessante pingue-pongue futebolístico-político que se tem jogado por estes dias. Quer dizer, é provável só eu achar interessante. E muito improvável alguém referir-se a tal fenómeno como um “pingue-pongue”. Felizmente, a crónica é minha, caso contrário nada disto ia a lado nenhum.

Sendo assim, começo por registar a actuação do guarda-redes marroquino, Yassine Bono, no jogo contra a Bélgica. O guardião esperou com a equipa no túnel para entrar em campo, perfilou-se com os árbitros e adversários, ouviu o hino e depois foi substituído. Ou seja, Yassine Bono foi separado à nascença do ex-futuro secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, Miguel Alves. Afinal de contas Miguel Alves também esperou nos subterrâneos do PS para entrar no governo, chegou a perfilar-se com os restantes membros do executivo, ouviu a polémica dos 300 mil euros para o inexistente pavilhão e foi substituído. Até a razão da substituição foi semelhante: Yassine Bono sentiu-se indisposto, e o caso Miguel Alves deu a volta ao estômago da opinião pública.

Já na selecção portuguesa, tudo impecável após a vitória sobre o Uruguai. Portanto, no Qatar, tudo óptimo com Portugal. Já em Portugal, as coisas não estão nada famosas com Portugal. Isto porque a União Europeia informou que em 2024 seremos ultrapassados em PIB per capita pela Roménia. O que soa um bocadinho mal, é verdade, mas talvez não tenha repercussões graves no estrangeiro. Porque, imaginem, perguntam a um americano sobre Portugal. E diz o yankee: “Portugal? Nunca ouvi falar. Ah, espera! Ouvi, ouvi. É aquele país na América Latina, não é? É isso, exacto. Até ganharam ao Uruguai no outro dia e tudo. Não foi?” Lá está. Para meio mundo, podemos perfeitamente não ser um país europeu patético. Podemos ser apenas um país latino-americano irrelevante. Já bem bom.

Talvez motivado por esta notícia de que estará aos comandos do país quando a Roménia nos ultrapassar pela direita – que mais é necessário para percebermos onde nos leva conduzir o país pela esquerda, senhores? –, o primeiro-ministro promoveu mexidas na equipa governativa. De uma assentada, entraram quatro novos governantes. Quem são eles? Não faço ideia. Quem vieram eles substituir? Desconheço. Para mim estas substituições no governo são como as substituições do Paulo Bento aos comandos da Coreia do Sul: os que entram e os que saem são todos iguais, não consigo distinguir ninguém. Sem desprimor para os sul-coreanos, claro. Que, em verdade, acabam por ter algo em comum com os membro do governo PS. Enquanto os futebolistas da Coreia do Sul se chamam todos Kim, os membros do governo tendem a partilhar o mesmo apelido.

E porque terminar esta crónica sem nomear António Costa e Cristiano Ronaldo seria como terminar esta crónica sem nomear António Costa e Cristiano Ronaldo, nomearei António Costa e Cristiano Ronaldo. Duas grandes referências nacionais. Duas impressionantes estampas físicas. Duas cabeleiras na ordem do dia. Foi o Cristiano a insistir que no cruzamento que dá o primeiro golo frente ao Uruguai tocou a bola com os cabelos, e sou eu que estou pelos cabelos com as políticas de António Costa que fazem de Portugal a selecção do Qatar no Mundial 2022.

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