Nos últimos dias, a força aérea americana abateu três objectos voadores não identificados nos céus da América do Norte. Isto depois de, na semana passada, ter rebentado com um balão chinês que atravessou os Estados Unidos de uma ponta à outra. Ao que parece, são aeronaves de espionagem. Tenho inveja dos americanos. Enquanto português, só posso lamentar que os chineses não tenham interesse nenhum em recolher informações sobre o nosso país. Sempre haveria alguém, ainda que do outro lado do mundo, a saber o que é que se passa em Portugal. Por norma, tudo o que se passa por aqui acontece sem que ninguém faça a mínima ideia de como sucedeu. Sobretudo, os responsáveis.

O melhor exemplo disso é o esbanjamento de dinheiro sem controlo, por parte do Estado. Alguns exemplos. Há dois meses, descobriu-se que um dos autarcas modelo do PS, homem da confiança de António Costa, tinha entregado 300 mil euros a uma espécie de tolinho da aldeia que prometeu construir um pavilhão imaginário. Entretanto, nos últimos dois anos, pela mão de Pedro Nuno Santos, outro destacado socialista, meteram-se mais de 3 mil milhões de euros na TAP, que não os irá devolver e que vai acabar vendida, deixando de cumprir os requisitos de companhia bandeira que tinham feito da sua salvação um imperativo nacional. Desses 3 mil milhões, 500 mil foram para o bolso de uma ex-administradora, num manhoso processo de saída, com o beneplácito de PNS.

Ao mesmo tempo, as obras no Hospital Militar de Belém custaram o triplo do orçamentado, sob o olhar absorto do ministro Cravinho. Fala-se em derrapagem, mas numa derrapagem ainda assim controla-se a viatura. Pode deslizar um bocadinho, mas, se não largarmos o volante, acaba por se endireitar. Dizer que houve derrapagem é como dizer que o carro do Ayrton Senna deu um toquezinho no muro. Estas obras não derraparam, elas capotaram. E deram muitas cambalhotas. A sorte do Ministro é que saiu incólume do acidente. Tirando o ar atordoado, claro. Se bem que, como se constata, desde o início que Cravinho já não estava lá muito desperto.

O que transparece destes exemplos é a forma alegremente ignorante com que estes responsáveis políticos entregam elevadas quantias a qualquer um, sem revelar o mínimo de curiosidade sobre o destino do dinheiro. Um balão chinês a 15 km de altitude obtém mais informação sobre os gastos de uma obra pública em Portugal do que o ministro da tutela. Para os políticos portugueses, o dinheiro faz lembrar carneiros, na medida em que contá-lo dá sono. Durante os últimos anos, o PS andou a convencer os portugueses de que era o partido das contas certas, mas afinal é o partido de certas contas: há umas que até faz, mas a maioria é para ignorar.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Como o percebo. Eu também sou assim. Quando janto fora, nunca confiro a conta, para os outros clientes do restaurante não acharem que sou um indigente que regateia tostões. Nem imagino a quantidade de couverts a mais que já paguei, os robalos com peso aldrabado, as mousses de chocolate que ninguém pediu, as garrafas de vinho que não chegam a vir à mesa. Faz parte. Chamar o empregado para corrigir a conta é pelintra. Não se pode encarar esse valor a mais como dinheiro perdido. Foi dinheiro que serviu para comprar a percepção das outras pessoas.

Toda a gente sabe que dinheiro atrai dinheiro. Portanto, se nos portarmos como ricos, os verdadeiros ricos vão querer dar-se connosco. E passam a incluir-nos em negócios milionários. Que nos vão tornar ricos. É a atitude certa em relação à riqueza. Quem já viu um daqueles filmes de Hollywood sobre golpadas, sabe que o malandro finge sempre que tem dinheiro, para ganhar a confiança do rico e depois enganá-lo. O Sócrates fez isso com o PS, agora o PS faz isso connosco. E funciona. Os portugueses pensam: “Estes aqui gastam 3 milhões quando bastavam 700 mil? Devem estar carregados! Vamos votar neles, para perpetuarem esta magnífica era de abundância!”

Por isso é que os países abastados voltaram a olhar para nós com admiração. Como no glorioso tempo dos Descobrimentos, quando D. Manuel enviou uma embaixada ao Papa com um raro elefante albino. Também aí conquistámos a estupefacção da Europa rica: “Ei-lo, finalmente! Então é este o magnífico animal exótico vindo de longe? A besta que desperdiça o dinheiro que não tem? Muito giro, sim senhor!”

É costume dizer-se que o Estado foi capturado pelo Partido Socialista, mas isso é uma óbvia falsidade. Se o Estado fosse do PS, o PS era muito mais prudente com o seu dinheiro. Pela forma como o desbarata, é evidente que não age como proprietário judicioso, preocupado em usar bem o que lhe custou a ganhar. Porta-se mais como okupa, que aproveita a ausência do dono para torrar o que consegue. Na mão do PS, o erário não é público, é púbico, porque já sabemos que depois de se acumular no ralo acaba a ir pelo cano.