Se não houver alteração de datas, teremos eleições legislativas daqui a pouco mais de um ano. A dúvida que permanece a este respeito é saber se o Presidente da República e o primeiro-ministro não acabarão por decidir antecipar as legislativas e fazê-las coincidir com as eleições europeias previstas para 26 de Maio de 2019, ou seja, apenas quatro a cinco meses antes das legislativas. Estas não têm data marcada mas deverão, constitucionalmente, realizar-se até Setembro-Outubro do ano que vem, mais ou menos na mesma altura que as eleições na Madeira.

Aqui há tempos, os dirigentes partidários afastaram a vontade manifestada pelo PR de adiantar as eleições legislativas para a mesma data que as europeias por motivos de puro calculismo partidocrático que poderão alterar se lhes convier. A coincidência das duas votações teria uma vantagem para o país: os eleitores não se absteriam maciçamente como será o caso se as eleições europeias forem feitas separadamente. De tal modo que nem chegarão a dar indicações relevantes para as legislativas nem tão pouco a respeito daquilo que os portugueses pensam acerca da União Europeia e dos problemas em que esta se encontra envolvida e Portugal por tabela, pois pouco ou nada disso se falará se as eleições para o Parlamento Europeu forem isoladas.

Entretanto, o país continuará a viver de “casos” e “casinhos” cozinhados pelo governo e remexidos pela comunicação social, tais como aqueles que se acumulam todos os dias para desaparecer no dia seguinte, resolvendo-se ou sem se resolver, conforme sucede nos casos sérios, como o do sistema de saúde, o da CP ou o do crédito fácil à compra de casa que leva à especulação imobiliária até que a respectiva bolha rebente. Uma coisa é certa: o governo não tem qualquer plano minimamente coerente para o país além da pura demagogia.

Só sabe criar diariamente “casos” desses com promessas de metal sonante para qualquer grupo que seja, como acaba de acontecer com pretensos emigrantes a quem foi prometido o desconto de 50% no IRS durante dois ou três anos no caso de voltarem a Portugal… Seria ridículo se não fosse mais uma expressão da máquina de clientelismo estatal que o PS e os seus sequazes montaram desde o primeiro dia da “geringonça”, na linha aliás do que Sócrates já fizera até levar a banca à glória em 2011!

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O mesmo se diga da inacreditável indignação do primeiro-ministro contra as “desigualdades salariais” e os “altos pagamentos aos gestores”! Mas porque não aumenta ele o IRS dos “ricos” (acima de 100 mil euros)? Teria certamente o apoio dos seus colegas do PCP e do BE. Aliás, não é isso que a aliança esquerdista espanhola pretende fazer?

O facto de o modelo de governo demagógico a que o PS nos habituou desde 1976 pouco ou nada se traduzir na evolução das sondagens eleitorais tem que ver com a forma como estas são feitas, geralmente com grandes margens de erro, mas deve-se sobretudo à debilidade das oposições. Por sua vez, esta aparente apatia do eleitorado aponta para a enorme massa de abstencionistas que se acumulou nas últimas décadas e chega hoje a metade dos eleitores: estes consideram que “os partidos são todos iguais” e não confiam na capacidade do sistema partidário para resolver os problemas do país.

Na realidade, o que se passa cada vez mais com o sistema partidário português, como tem sido observado pelos especialistas, é que as oposições não ganham eleições. Num sistema eleitoralmente blindado e financeiramente estatizado como é o nosso, são os partidos no poder que às vezes as perdem quando manifestamente se passa algo grave. A oposição portuguesa, sobretudo depois da renúncia de Pedro Passos Coelho perante a demagogia, perdeu de vez a pouca capacidade de combate que tinha.

Nestas condições, qualquer eventual oposição ao governo actual ficou não só desunida como entrou num acelerado processo de fragmentação de que o surgimento de um fantasma como Santana Lopes e o anúncio da sua aliança com antigos dirigentes do PSD insatisfeitos com a vitória de Rui Rio é um funesto aviso. Por seu turno, a direcção Rio, encorajada desde sempre por António Costa e pelos antigos opositores do PSD à liderança de Passos Coelho, revelou-se rapidamente como perdedora, aberta desde o início à participação num novo “bloco central” dominado pelo PS e destituída de um programa verdadeiramente alternativo à demagogia imperante com o seu duplo efeito de controle estatal e de custos para a transformação económica, como se está a verificar.

Se Santana Lopes e os novos descontentes do PSD só podem fazer perder eleitores à oposição, cujos eventuais votantes se verão relegados para a abstenção, o CDS também já mostrou não ser capaz de se opor globalmente ao PS, não só se ficando por campanhas pontuais como não afastando de vez a participação num “bloco central” do qual o PS já não precisa depois do apoio de Rui Rio. É caso para dizer: pior que os governantes, só as oposições!