Antes da Pandemia, o mundo movia-se como nunca. A mobilidade urbana nunca foi tão acessível a todos, a proximidade era universal, e nada parecia longe de alcançar. Neste momento, a mobilidade de uma geração inteira foi suspensa. Hoje temos de nos distanciar e de ter uma política de zero-contacto com o exterior.

Este novo modo de vida, que se presume longo, terá as suas consequências em várias áreas e é imperativo pensar em como iremos retomar o nosso dia-a-dia mais fortes, nomeadamente no setor da mobilidade. Antes do surgimento do novo Coronavírus, destacavam-se quatro grandes tendências em crescimento no setor. Hoje, é fulcral analisar como esta nova realidade pode afetar a mobilidade e compreender de que forma é que cada tendência pode, ou não, adaptar-se a uma política de zero-contacto.

Mobilidade on demand

Nunca foi tão fácil ir do ponto A ao ponto B numa cidade. Através de simples apps, qualquer pessoa com um smartphone consegue obter um transporte em menos de cinco minutos, mas esta será uma das tendências mais afetadas.

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Os dois modos de mobilidade on demand mais populares são o Ride-Hailing e o Car- Sharing. Em ambas as soluções, estamos a partilhar um veículo, um com condutor, o outro sem, e por isso o zero-contacto não é totalmente alcançado. Ainda assim, as medidas de mitigação podem aproximar ambas as soluções a essa realidade, principalmente a opção de Ride-Hailing, onde antecipamos uma tendência maior, dado que a confiança num cumprimento de higienização após cada cliente é depositada num profissional e não num utilizador. Quanto ao Car-Sharing, este poderá ser muito questionado e não ter continuidade no mundo emergente de zero-contacto que o pós- Covid-19 exige.

E-commerce

O novo paradigma obriga a que o modelo de comércio tradicional se adapte com rapidez, mas dificilmente a realidade de zero-contacto será aguentada pelos retalhistas. Num setor de margens espremidas, a higienização e desinfeção é possível, mas custosa, o que constitui uma vantagem para as cadeias de distribuição de encomendas, onde o custo associado pode ser absorvido e a pressão das autoridades é superior.

As cadeias de distribuição são por isso a melhor solução para a política do zero-contacto e que inspira mais confiança e segurança. Nesse sentido, vemos assim uma nova rede de distribuição urbana a nascer para entregas de comércio online de todo o tipo, e entregues por todas as formas de veículos como carros, motas, bicicletas e até tuk-tuks, de maneira a ter o sistema mais flexível e adaptado a esta nova realidade.

Transportes Públicos

Também a higienização e desinfeção dos transportes públicos é possível, mas custosa, quer por motivos financeiros quer pelo tempo necessário à garantia de um espaço corretamente desinfetado. Além disso, a concentração de pessoas em hora de ponta continua a ser um problema recorrente nos transportes públicos e dada a atual conjuntura, esta ocorrência é ainda mais grave pois não permite o cumprimento das recomendações propostas pela DGS.

Neste caso, uma estrutura de zero-contacto não é, atualmente, possível, pois a falta de controlo daria azo à não cobrança de títulos de viagem, o que, consequentemente, não garante aos utilizadores destes meios a segurança e o controlo higiénico. Assim sendo, estes meios de transporte acarretam um grande desafio na medida em que apresentam, atualmente, uma estrutura pouco preparada para a prevenção e combate de possíveis situações de contágio.

Abastecimento de Combustível

Por detrás de todos os serviços de mobilidade está a necessidade de abastecer em energia as frotas de todos eles. A única paragem obrigatória para todas as soluções, sem exceção, é a estação de serviço, mas a verdade é que esta não está preparada para uma realidade zero-contacto.

As estações de serviço encontram-se na linha da frente neste combate, mas sem ferramentas para enfrentar esta nova realidade. Os postos de combustível não são, nem conseguem ser higienizados entre utilizações, além de que os custos associados são demasiado elevados. Nesse sentido, para que se cumpra a política de zero-contacto que emerge, há que pensar em novas soluções de abastecimento, como por exemplo serviços de abastecimento direto de combustível em que, à semelhança das entregas do comércio online, é feita uma distribuição de combustível ao domicílio que garante uma melhor higienização e confiança na solução.

Todos estes negócios devem ser repensados e adaptados a uma nova realidade que é cada mais vez urgente, sendo que os sobreviventes desta pandemia serão aqueles que melhor se conseguirem adaptar à política do zero-contacto e garantir não só um serviço eficaz, mas seguro. O futuro pertencerá assim a quem está agora a trabalhar para ele.