Por trás de cada adolescente “tem de existir”, quase sempre, um isolante? Não! Mas porque é que, duma forma quase “fofa”, fomos aceitando que é assim? Porque os adolescentes, cheios deles próprios, “respondem torto”, muitas vezes. E porque parece quase natural que tenham “mau feitio” ou “mau génio”. E porque reclamam, vezes de mais, “Eu é que sei!”, num tom agreste que remete para o Jurássico os pontos de vista dos pais, o que faz com que eles não deixem de se sentir desconsiderados e cheios de melindres. Porque “reviram os olhos” ou respondem “com sete pedras numa mão”, o que faz com que os pais, antes de qualquer advertência, respirem fundo e contem até dez ou, na ânsia de não acabarem o dia em mais uma “cena à italiana”, façam de conta que não vejam o que precisa de ser “taxado”, por mais que, a seguir, isso se pague com juros elevados. Porque há sempre uma altura em que, de argumento em argumento, se acaba numa gritaria, com a mãe a refugiar-se no argumento desesperado: “Não me falas assim que sou tua mãe!” (ou, numa versão mais light, a perguntar: “Mas tu achas que eu sou tua colega, é?…), e faz com que o pai, acalorado, acabe, num impulso irreflectido, a “respirar para cima” de tanta insolência. Porque o tom com que respondem, a forma como olham (com uma aragem de um certo de desprezo), ou as respostas arrogantes que dão tiram a paciência a qualquer “santo”. Porque o jeito como terminam uma discussão com o clássico: “É a tua opinião…”, desespera qualquer um. Ou, finalmente, porque desafiam, engonham ou elevam o egoísmo ao superlativo de forma a que os pais fiquem como “baratas tontas”, o que os leva a ter ataques sobre ataques de nervos, que faz com que alguns adolescentes os achem a escorregar, a passos largos, para um envelhecimento precoce que, por vezes, não se inibem de acentuar.

Mas, apesar disto tudo, os adolescentes não são, “naturalmente”, insolentes! A insolência não é, de todo, o condimento da “idade parva” que os pais identificam nos seus adolescentes. Aliás, valha a verdade, os pais contribuem mais para a insolência dos filhos do que pode parecer. Porque, sem se darem conta, pai e mãe desafinam nas regras que exigem e essas pequenas discrepâncias são “exploradas” pelos filhos o que os leva, muito facilmente, a transformarem a lei duma família numa “ditadura dos mais pequenos”. Porque os pais estão de tal forma expectantes em relação aos sobressaltos da “crise da adolescência” que ainda antes dos filhos lá chegarem acabam por estar numa atitude do género: “A melhor defesa é o ataque”, com todos os mal-entendidos que isso acaba por lhes trazer. Porque muito facilmente presumem que serem democráticos na forma educam pressupõe que levem a sufrágio as regras que entendem exigir, o que faz com que, inúmeras vezes, o poder “caia” na sala. Porque, por mais que contrafeitos, cedem vezes demais aos argumentos demagógicos dos seus filhos, sempre que eles insinuam que os pais dos amigos são mais “fixes”, mais “cabeças abertas” e bem mais compreensivos que os seus pais. Porque, às vezes, vacilam diante de mais um: “É na boa sair até às duas”, em vez de os terem a pedir para o fazerem, como se aos 14 já fosse quase humilhante pedir autorização à mãe ou ao pai fosse para o que fosse. Porque, seja a mãe ou seja o pai, há sempre um dos pais que cede ao charme discreto de um dos filhos e, quando se dá conta, o caldo entorna-se para os pais e para os filhos e tudo acaba num enorme reboliço. Porque (é fácil!) um dos pais vacila, levemente, com o olhar, quando um dos adolescentes argumenta, convicto, que as regras não são iguais para todos, afiançando que há sempre um deles que é “o menino querido” da mãe ou do pai. Porque, às vezes, um dos pais embirra com o “feitio” de um dos filhos – porque “são muito iguais” – e, a certa altura, os argumentos que são jogados são quase insolentes, de parte a parte. Porque os adolescentes apanham, uma a uma, as incoerências dos pais e, sempre que lhas recordam – baseados nas discrepância entre aquilo que, hoje, lhes exigem e aquilo que fizeram, quando tinham a idade deles, ou na forma como utilizam medidas diferentes para insolências parecidas – tudo resvala para birras, melindres e amuos.

Na verdade, é fácil – muito fácil! – os pais escorregarem, sem dar por isso, para pequenos incoerências que, quando se vai a ver, fazem com que a insegurança de um adolescente se vista de alguma insolência. Mas é verdade que, sempre que afinam a forma como gerem o comportamento de um adolescente, por trás dele surge uma criança arejada. Atinada. E atenta ao sentido de justiça dos pais. Agradecida, até, por ele existir. Por mais que, talvez na maioria das vezes, não concorde com ele.

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