No passado domingo, 5 de Junho, celebrou-se novamente o Dia Mundial do Ambiente. Por mera curiosidade, o assinalar desta data atingiu este ano a marca da quinquagésima celebração.

E se, há 50 anos, as Nações Unidas deliberaram que seria da maior importância que se promovesse um momento de sensibilização da população mundial, com vista à poupança do planeta que – à época – teria a capacidade de viver com o suficiente para os 12 meses, será que passado meio século faremos um balanço positivo?

Não, infelizmente não. E sem perspetivas animadoras!

Este ano – e sem surpresa – somos confrontados com a confirmação do triste fado que nos assola a todos, ano após ano: a Humanidade esgota os recursos naturais cada e cada vez mais depressa.

Diz-nos a Global Footprint Network (GFN), organização de investigação ambiental focada na conservação dos recursos naturais e no combate às alterações climáticas, que a 28 de Julho já teremos esgotado todos os recursos naturais expectáveis para a vida no planeta durante o ano inteiro. Portanto, a pouco mais de um mês à data a que escrevo, estaremos oficialmente (e uma vez mais) a viver a crédito ambiental, a crédito das gerações futuras, a crédito do nosso próprio futuro.

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E se, a nível global, sabemos que a Terra vive dias em que a população acelera o desaparecimento precoce dos seus recursos naturais, como será a realidade em Portugal?

Pior, infelizmente.

Estima-se que no nosso país os recursos tenham sido esgotados a 7 de Maio. Assumindo esta data, dizem-nos os dados que já estamos a viver há um mês com recursos que só deveríamos utilizar no próximo ano. É o chamado dois (e mais um bocadinho) em um, mas para pior.

Tendo o ano 12 meses e esgotando os recursos em apenas 5, rapidamente entendemos que estamos a consumir num ano aquilo que deveria ser o suficiente para dois (e mais um bocadinho).

Há muitos anos que é conhecida a nossa incapacidade, enquanto país, para fornecer recursos naturais necessários para as atividades que praticamos diariamente. Mas pior que isso é – não obstante tudo o que já foi sendo tentado para travar esta escalada – não existir qualquer horizonte que confira uma verdadeira vaga de esperança, começando por restituir a esperança no direito ao futuro.

Segundo a GFN (2018), se o padrão de consumo ambiental português fosse o dominante, seriam necessários 2,5 planetas para satisfazer as necessidades de recursos no nosso planeta. Estima-se que a pegada ecológica portuguesa per capita é de 4,6 hectares globais (gha), o que está 3,3 gha acima da capacidade de “regeneração ecológica” de cada um. Ainda que Portugal tenha a 44ª maior pegada ecológica do mundo, atrás de outros países europeus ou de países com boas práticas implementadas e incentivos de proteção ambiental muito mais ambiciosos, continuamos a falar de valores acima da média mundial, algo que – enquanto povo – nos deve alarmar.

Numa era em que as cidades estão cada vez mais inteligentes e o seu ecossistema urbano é visto como um motor para a sustentabilidade, ainda há tantos países e tantas regiões cujo desenvolvimento é apenas uma miragem. É aí que a componente individual desta luta ganha força e que nós, portugueses, podemos contribuir.

A minha preocupação com o ambiente começou cedo. Fruto daquilo que ouvia na escola e em casa, com o meu pai ligado vários anos à proteção ambiental e gestão de resíduos, procurei sempre que os meus pequenos passos deixassem a menor pegada possível no nosso ecossistema.

Algures pelo percurso de vida, lembro-me de ficar verdadeiramente preocupado com a forma como um simples desodorizante de spray contribuía para a destruição da camada de Ozono. Um clique, uma borrifadela e os CFCs a caminhar rumo a um buraco que apenas nos abre portas a fenómenos naturais cada vez mais recorrentes e que, ao que tudo indica, poderão terminar em catástrofe.

Tudo começará na educação. Num modelo de educação que privilegie a economia circular, que reforce e promova equidade integeracional, que divulgue boas práticas para a preservação do ambiente no que diz respeito à mudança de atitudes e comportamentos, essencialmente que prepare os mais novos para o exercício da sua cidadania de uma forma consciente e informada face ao contexto atual em que vivemos.

E bom, como disse, é aqui que todos entramos: nos pequenos passos do dia-a-dia. Nos dias que correm, mais do que nunca, importa pensarmos em pequenos passos do nosso quotidiano que, individualmente, podem fazer a diferença para o país e para o mundo.

Como disse anteriormente, a redução da emissão de gases com efeito de estufa é uma das metas essenciais, mas o assegurar que fazemos um uso eficiente da água ou a melhoria da nossa reciclagem, baseada numa separação cuidadosa do lixo doméstico, são apenas alguns dos hábitos que cada um de nós pode (e deve!) adotar no seu dia-a-dia para um mundo mais ecológico, sem que daí decorra qualquer prejuízo para as suas rotinas.

Se esta luta às alterações climáticas não tiver um resultado rápido e profícuo, em décadas poderemos ver – por exemplo – os gases com efeito de estufa a aquecer os nossos oceanos e a destruir habitats, o que irá por fim à vida marinha. Mas mais. Se não adotarmos rapidamente práticas que privilegiem a proteção da água, corremos o risco de – até 2040 – Portugal ficar privado do uso de água para as atividades mais básicas no nosso país, o que afetará desde logo a produção agrícola nacional e o grau de autossuficiência alimentar do país.

Neste mundo que é de todos, o compromisso deve ser de todos.

Obviamente que, em certas regiões do mundo, será impossível que os países tenham o mesmo grau de resposta a estes temas. Contudo, é justamente nesses casos que a solidariedade internacional deve incidir. A cooperação internacional e a ajuda ao desenvolvimento são essenciais para que ninguém fique para trás.

Este combate contra o tempo e contra as mudanças climáticas é urgente, mas pode também ser vantajoso se estivermos dispostos a assumi-lo já. E, para isso, é importante relembrar como Portugal se assumiu como exemplo naquilo que diz respeito à energia verde, ao atingir valores recorde de produção de energias renováveis, provando que é possível poupar o ambiente e fazer disso uma oportunidade.

Diz o estudo Investir no Clima, Investir na Economia, da OCDE, que as estratégias de desenvolvimento económico que incluam o clima na sua agenda criam uma oportunidade de crescimento económico de 5% até 2050, podendo com isso criar inúmeros postos de trabalho por todo o mundo. Portugal, seguramente, não seria uma exceção.

O tempo não pára e a degradação do ecossistema em que vivemos também não. É urgente encontrar e liderar uma vaga de reformas que permitam a Portugal inverter esta tendência e fazer frente ao fado que nos espera.

Por tudo isto, lanço o desafio: se a mudança começa em nós, porque não começar hoje?<