Acabei de ver o Porto perder por 3 a 1 no Dragão com o Sporting. Em mais de 40 anos de adepto do Porto não me lembro de um jogo em casa com uma superioridade tão clara por parte do Sporting. Mas o pior de tudo, o que mais custa a um portista é sentir vergonha da sua equipa. Senti vergonha da equipa do Porto e não foi a primeira vez esta época. A nossa equipa está cheia de jogadores que nunca deviam ter vestido aquela camisola. Simplesmente, não têm categoria suficiente para jogar num clube como o Porto. Não me recordo de uma defesa tão pobre como a actual. No jogo de hoje, o Martins Indi não ganhou um único lance de cabeça a Slimani.

Há ainda outros jogadores, como Brahmi, que têm valor mas não sentem a camisola do Porto. Não sabem o que é jogar no Porto; e o problema é que não restam muitos para passar essa mística. Onde estão os jogadores à Porto? Que saudades de jogadores como Gomes, Futre, João Pinto, Madjer, Jorge Costa, Jardel, Deco, Hulk, Lucho, Moutinho e tantos outros. Jogadores que gostavam e sentiam o clube, que nunca desistiam. Na equipa inicial que começou o jogo com o Sporting, só o Herrera está há mais de dois anos no Porto (está há três anos). Dos outros 10 jogadores, 6 chegaram este ano e 4 há dois nos. O Porto tornou-se um entreposto comercial de jogadores. Todos os anos, chegam e partem dezenas de jogadores. O clube tem ainda mais umas dezenas de jogadores emprestados por todo o lado.

A política de contratações durante os últimos três anos é incompreensível e inexplicável. O Porto tornou-se um shopping de jogadores e treinadores. O clube compra jogadores estrangeiros, e caros, que não jogam e são depois emprestados ou vendidos por preços mais baixos. Não aproveita jogadores formados nas escolas dos clube, que depois brilham noutros clubes. Como é possível não termos um central nem um avançado de centro, lugares nucleares numa equipa, com qualidade indiscutível? O Braga tem dois centrais formados nas escolas do Porto que tinham lugar de caras na nossa equipa.

O Porto tem uma belíssima escola de jogadores. No ano passado ganhou o campeonato de juniores e esta época o Porto B está a um passo de vencer a Liga de Honra, um feito inédito. Porque não aproveitamos os jogadores das nossas escolas como fazem os outros, e andamos a emprestá-los a clubes gregos, turcos, franceses e belgas? Veja-se o exemplo do Sporting. Esta noite, o João Mário, produzido pelas escolas sportinguistas, foi o melhor jogador em campo. Joga mais em 10 minutos do que o Brahmi no jogo todo (e foi bem mais barato).

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Entendo muito bem a dimensão comercial do futebol. De resto nas últimas décadas, o Porto foi um bom exemplo de sucesso desportivo e comercial. Mas nos últimos três anos, a política de contratações não fez qualquer sentido. Não há estratégia, apenas negócios. Se o Porto não mudar radicalmente, não volta a ganhar um campeonato tão cedo. E não vale a pena os dirigentes tentarem explicar o inexplicável. Qualquer adepto portista sabe que os a política desportiva dos últimos anos foi um desastre.

A questão que anda nas cabeças dos portistas tem a ver com o presidente. Será Pinto da Costa a pessoa ideal para fazer o Porto regressar às vitórias? Para qualquer portista, Pinto da Costa ocupa um lugar especial. Ele fez do Porto um grande europeu e mundial. É de longe a figura mais importante da história do nosso clube. Em 2002, depois de também ter perdido três campeonatos seguidos (dois para o Sporting e um para o Boavista), Pinto da Costa reinventou-se, foi buscar Mourinho e o Porto conseguiu as duas melhores épocas da sua história. Julgo que ainda é a melhor pessoa para recuperar o Porto. Não vejo outro que o pudesse fazer. Mas vai ser mais difícil do que em 2002. O Benfica e o Sporting estão mais fortes.

A próxima época será a época mais importante para Pinto da Costa desde que chegou a presidente do Porto no início dos anos de 1980. Na altura, percebeu que uma grande equipa começava a construir-se com um grande treinador. Pedroto foi o escolhido. A escolha do próximo treinado do Porto será decisiva e Pinto da Costa não pode enganar-se outra vez. Foi ele que disse na noite da sua última reeleição: “Não me candidatei pelo meu passado, mas pelo que posso fazer nos próximos três anos.” O futuro começa com a escolha do novo treinador. Espero que não seja mais uma compra de shopping.