As saudades que eu já tenho
Da minha alegre casinha
Por onde o PS irrompeu
Meu Deus como era bom morar

No modesto primeiro andar
A que o Costa chamou seu.

É difícil, nestes dias pós-anúncio pelo governo do pacote “Mais Habitação”, não ter este tema, popularizado pelos Xutos e Pontapés, sempre na cabeça. Quer dizer, este tema não é exactamente o dos Xutos e Pontapés. Para ser rigoroso, esta é a versão d’ A Minha Casinha já depois de sermos corridos, ao chuto e ao pontapé, de uma eventual habitação que possuamos e que calhe estar desocupada.

O que pode suceder, por exemplo, quando uma pessoa vai à Loja do Cidadão tratar da renovação do documento de identidade. Um indivíduo volta a casa com o novo cartão do cidadão, por norma três dias depois de se ter ausentado, e já tem o primeiro-ministro alapado no sofá, a ver o show televisivo da sua predilecção. O “Querido, o Costa Ocupou-nos a Casa”. Alapado e com os pés em cima de uma pilha de facturas da electricidade por pagar, apesar da magnânima benesse que o governo concedeu com a baixa do IVA e que pode ascender a alguns 9 euros por ano.

Mas atenção, sejamos justos. Há quem saia fortemente beneficiado com estas medidas do governo para a habitação. E é alguém que, se pudesse, demonstraria esse júbilo de forma muito exuberante. E não, não me refiro a Álvaro Cunhal. Quer dizer, também me refiro a Álvaro Cunhal, mas desta vez estava mesmo a pensar era nas Testemunhas de Jeová. Porque se calha estas medidas do PS irem para a frente, que português, no seu perfeito juízo, vai arriscar não abrir a porta a quem quer que seja que lhe toque à campainha? É que nem pensar. São 11 horas da manhã de domingo e estão a tocar à porta? Podem ser Testemunhas de Jeová? Não interessa, toca a abrir. Que se uma pessoa não atende e calha ser uma inspecção da PIDE das casas devolutas, adeusinho imóvel. Portanto, é atender sempre a campainha. E, se for o caso, receber, com profundo alívio, o novo número da revista Sentinela. E ficar ali, firme e hirto no lar, que nem uma – lá está – sentinela, para fazer prova da ocupação do T2.

Além disso, temos de reconhecer que este governo do PS não faz nada por acaso. Nem pensar. Estes meninos trabalham numa perspectiva integrada, de longo prazo. Ou estão esquecidos daquelas recomendações do subdiretor-geral da Saúde, feitas ainda em 2020, sobre como celebrar o Natal? Lembram-se onde se devia proceder à troca de presentes? Eu recordo-vos. Era em visitas rápidas “nos quintais”, e nos “patamares dos prédios”. Lá está. Os portugueses podiam trocar presentes de Natal em qualquer sítio, desde que não fosse dentro das suas próprias casas. Já a antecipar estas medidas que permitem ao governo expropriar as habitações às pessoas. Tudo pensado com tempo e com coerência. E não venham com aquela história de que não se deve atribuir à malícia o que pode ser explicado pela estupidez. Como se aqui se vislumbrasse ponta de idiotice.

E mais. Também em relação ao impacto do pacote de medidas para a habitação no Alojamento Local, o executivo de António Costa demonstra consistência. Sim, porque agora acusa-se o governo de querer destruir o sector do Alojamento Local, que por norma atrai pessoas mais jovens, mas a verdade é que o PS demonstra, há já imenso tempo, ser contra o alojamento local. Nomeadamente, contra o alojamento local de jovens portugueses que acabam os seus cursos superiores e que, à primeira oportunidade, emigram para países que oferecem melhores condições que as que sucessivos governos socialistas criaram em Portugal. Como sejam os Estados Unidos, a Inglaterra, ou o Burundi.

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