Há poucos dias, um porta-voz do Governo chinês, talvez entusiasmado pelos avanços russos na Ucrânia, veio declarar publicamente que Pequim está com a Rússia. O apoio não é novidade. Todos já o sabíamos desde o início. A novidade é que, pela primeira vez desde que começou a guerra, o Governo chinês não teve embaraço algum em declarar o seu apoio à Rússia.

O posicionamento da China não pode nem deve passar-nos ao lado. Se neste momento, apesar de tudo, nos sentimos aliviados por não termos uma dependência energética da Rússia, ao contrário de outros países europeus, o mesmo não podemos dizer em relação à China.

Portugal é descrito pela imprensa internacional como o cavalo de Troia da China no Ocidente. Estados Unidos e União Europeia já manifestaram a sua preocupação junto do Governo português por diversas vezes. O caso não é para menos. O capital do Estado chinês controla grande parte dos nossos setores estratégicos. Da energia à saúde, da finança à comunicação social. E o pior é que se prepara para entrar em mais outros tantos setores.

Num mundo em conflito e em que claramente a China parece seguir o caminho encetado pela Rússia, é no mínimo imprudente que não estejamos alerta para a situação atual e que ninguém na esfera pública pareça estar preocupado com os avanços que o capital chinês se prepara para fazer em Portugal.

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O porto de Sines, infraestrutura estratégica nacional, e o concurso do 5G, que terá lugar nos próximos meses em Portugal, são os novos objetivos de Pequim para controlar por completo o nosso país. Passaremos a ser uma espécie de megaloja do chinês na Europa.

Acresce que, no que respeita às comunicações, não se trata apenas de controlo económico, trata-se também de controlo da vida de cada um de nós. Estamos preocupados em assegurar que o Estado e as empresas de comunicação não retêm os nossos dados pessoais, como parece ser o caso com a questão dos metadados. Se assim é, não se entende como podemos estar tranquilos com a hipótese de haver empresas controladas pelo Estado chinês a concorrerem ao controlo dos nossos dados com a chegada da rede 5G a Portugal. Todas as campainhas de alarme deveriam neste momento estar a tocar para evitar que a China dê mais este passo de gigante no controlo estratégico do nosso país.

Como sempre por cá, partidos políticos e sociedade civil estão a dormir. Esperemos que este e outros alertas que têm surgido na comunicação social sejam úteis para evitar o pior.

A guerra na Ucrânia tornou evidente a quem tivesse dúvidas que a ingenuidade com que se abriram as portas ao capital de Estados autoritários nos deixou em muito maus lençóis. Não há ditaduras boazinhas nem comunismo capitalista. A Rússia já o provou e a China vai prová-lo mais cedo do que tarde. Falta-lhe só ter uma boa fatia do mundo ocidental debaixo do seu controlo. Portugal vai muito à frente nesse campeonato. Está na hora de abrir os olhos.