Desde que, muito antes da nacionalidade, tantos povos de tantas origens invadiram a Península, até à predominância dos Celtas e dos Iberos, tudo no nosso genoma, mesmo a resistência lusitana à expansão do Império romano, ou a definitiva expulsão dos almorávidas, tudo na formação da Nação portuguesa foi… Melting.

No sentido verdadeiramente literal, somos um povo tocado no seu ADN por múltiplos processos de fusão que nos formaram como Homens de uma maneira nem sempre homogénea mas tendo sempre como resultante uma mistura multidimensional.

Já animados dessa diversa e (muito rica) natureza partimos para o Mundo – pois se éramos do Mundo (!!) e fomos os primeiros depois da glaciação a unir Continentes, numa diáspora que é ainda mais impressionante, diversa e expressiva do que algum português um dia imaginou. E podíamos ter ido como fomos e regressado como éramos. Mas não, fomos – e para onde fomos a nossa natureza obrigou-nos, outra vez, ao impulso de fusão que sempre tivemos e, por isso, deixamos no que fomos parte do que éramos e trouxemos, no que passamos a ser, parte do que não tínhamos sido. E fizemos isto tantas vezes que o irmão que tivemos de qualquer geração, apenas porque se experienciou de uma outra maneira, deixou de ter quase tudo o que o juntava a nós, a não ser a mesma condição de português, andarilho do Mundo e animado da vontade irresistível de fazer Melting.

Assim se fez, provavelmente, o Povo mais essencialmente Multicultural e vocacionalmente Universal de todo o Mundo.

Mas não devemos confundir esta tentação do português se abraçar com o Mundo com a ideia de nos diminuirmos para fazermos o outro prevalecer em nós. Nada disso – a nossa identidade, cultura, pronuncia e carácter, o que faz o Nós – fica sempre, nunca como um dogma mas, invariavelmente, como um forte condicionador de tudo, como um condimento que evidencia de forma irrecusável a nossa marca. Se temos conforto e vontade de receber, não conseguimos deixar de fazer vingar o que damos e somos.

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O Homem português e a sua cultura, talvez mais verdadeiramente dito, a sua dimensão, são percepcionados por alguns poucos historiadores, investigadores, antropólogos ou curiosos, mas não pelos povos do mundo e, muito menos, pelo povo português que nunca se apercebeu do valor económico, cultural e social da sua inimitável capacidade de “Meltar”.

Curiosamente foram algumas circunstâncias do tempo presente – um improvável golo de Éder, uma surpreendente vontade de “Amar pelos Dois” de Salvador Sobral, a teimosia de Cristiano em ser o que é… que nos devolveram a curiosidade do mundo e com ela, o sobressalto feito de espanto e admiração de penetrarem na memória de um povo mais que milenar e de o fazerem, se não ainda na sua plena dimensão, pelo menos nos aspectos mais tangíveis ou sensoriais que a conformam.

E o aspecto mais amorável, identitário e sensitivo em que esta descoberta se pode revelar está todo reunido na Mesa Portuguesa, onde a diversidade do que somos e a incrível biodiversidade do que temos se juntam, de uma vez só.

Onde se recolhem num mesmo espaço familiar, os socalcos do Douro e esse admirável Mar Português, onde as nossas diferenças se calam e o que  canta é a nossa pele, a nossa alma, a nossa têmpera, no trinado de uma guitarra portuguesa. Na recolha vivida da nossa História, da nossa cultura, do nosso capital simbólico.

E o vinho que jorra alegre nos copos a chamar a Festa e as coisas de comer que a Mesa tem são, afinal, na sua beleza, no seu sabor, na sua genuína diversidade, a história verdadeira deste povo andarilho de todas as culturas e civilizações, de todos os tempos e idades.

É o que vamos discutir no Melting Gastronomy Summit de 14 a 16 de Novembro, no Porto. Porque, desta vez, a convocatória mundial foi fácil e estarão cá, verdadeiramente, todos os que interessam – vejam em www.meltinggastronomysummit.com.

E nós, portugueses de Portugal e do Mundo, estaremos convocados para, de mãos dadas ou de braços abertos, de boca cheia ou de coração transbordante de orgulho, os recebermos a todos, mostrando a este mundo atónito, o Povo Grande e Antigo e a Nação Multicultural e Universal que sempre fomos.

E para, finalmente, reconhecermos que a nossa Gastronomia e Vinhos simbolizarão o imenso saber fazer que o Melting nos trouxe em tantas áreas de actividade, representando a nova Caravela que nos fará regressar ao Mundo com a garimpa e o orgulho de ser Português!