A SEDES escolheu um título audacioso para o livro que vai lançar a 1 de setembro sobre o desenvolvimento da economia portuguesa: Ambição: duplicar o PIB em 20 anos. Álvaro Beleza conseguiu que a cinquentenária Associação para o Desenvolvimento Económico e Social voltasse a ocupar um lugar de relevo na discussão do futuro do país.

O estudo da SEDES tem desde logo o grande mérito de nos pôr a pensar sobre o futuro. Como será Portugal daqui a 20 anos? Felizmente, não é caso único. No início deste ano, a Fundação Calouste Gulbenkian apresentou o estudo Foresight Portugal 2030. No final do ano passado, a Fundação Francisco Manuel dos Santos, o mais importante think tank português, apresentou o estudo Do made in ao created in: um novo paradigma para a economia portuguesa.

Cada vez que é apresentado um novo estudo, ouvimos dizer que ‘os diagnósticos estão todos feitos’. Ainda que tantas vezes repetida, esta frase não deixa de me surpreender. Estudo a economia portuguesa há muitos anos e consigo identificar muitas áreas onde o conhecimento é ainda insuficiente. Sem um conhecimento profundo dos problemas só por acaso se encontrarão boas soluções para os desafios que temos pela frente.

Por outro lado, o país e o mundo estão em constante mudança. É verdade que as projeções das taxas de crescimento económico para os próximos anos continuam a ser desapontantes. No entanto, os problemas que enfrentamos hoje não são os mesmos de há 10 anos. Em 2012, Portugal atravessava uma das mais graves crises desde a Segunda Guerra Mundial, num processo de correção de desequilíbrios macroeconómicos acumulados ao longo de mais de uma década. Hoje, o quadro macroeconómico é apesar de tudo mais favorável, mas surgiram novos riscos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Uma sucessão de choques tornou a economia mundial mais volátil e aumentou a incerteza. O Brexit e a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China marcaram a desaceleração da globalização, acentuada pela pandemia Covid-19 e pela disrupção nas cadeias de abastecimento globais. A União Europeia elegeu como prioridades a soberania tecnológica e a autonomia estratégica, nomeadamente na área da produção de baterias e semicondutores. A invasão da Ucrânia pela Rússia determinou uma profunda alteração no abastecimento e nas redes de distribuição de energia europeias.

Um diagnóstico feito há uma década pouca utilidade terá para compreendermos o contexto atual e para pensarmos o desenvolvimento do país. É, também por isso, fundamental que novos diagnósticos sejam realizados e discutidos.

Para além dos diagnósticos, o maior mérito dos três estudos referidos acima é projetarem o futuro da economia portuguesa.

Que economia precisamos de ter em 2030 ou em 2040 para enfrentarmos os desafios demográficos e climáticos que temos pela frente?

O que é necessário fazermos para termos essa ‘nova economia’?

No pós-25 de Abril, a construção do regime democrático e a adesão à Comunidade Económica Europeia foram projetos mobilizadores para a sociedade portuguesa, onde se destacou a liderança de Francisco Sá Carneiro e Mário Soares. Estes líderes políticos estimulavam os portugueses a imaginar outro futuro para Portugal. Aníbal Cavaco Silva conseguiu mobilizar os portugueses apresentando-lhes um futuro em que Portugal integraria o ‘pelotão da frente’ e seria membro do clube dos países fundadores do euro. António Guterres cumpriu o objetivo de adesão ao euro e lançou a ‘paixão da educação’.

O século XXI foi até agora um século sem futuro. Tivemos o ‘país de tanga’ de Durão Barroso e a vida além do orçamento de Jorge Sampaio, os desmandos de José Sócrates e a troika. Passos Coelho recuperou a credibilidade internacional do país e colocou a economia novamente numa rota de crescimento.

António Costa prometeu devolver aos portugueses o passado pré-troika, redistribuindo os proveitos de uma conjuntura favorável. A proposta de futuro apresentada pelos governos de António Costa tomou forma nos exercícios de estratégia no âmbito da preparação do novo quadro financeiro plurianual e contratualização dos fundos europeus, inspirados na “Visão Estratégica para o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030” de António Costa Silva. Um plano de recuperação económica para a próxima década não promete ser um futuro muito auspicioso.