Sei bem que está tudo de saída, em trânsito, em pré-festa, em balanços e desejos para o novo ano. Fica aqui, portanto, uma lista, mais uma lista – a minha lista de personalidades de 2017. São pessoas que marcaram o ano que termina – pelas conquistas, pelo mérito, pelo demérito, pela presença ou pela ausência – e que merecem os prémios que o júri (eu) decidiu, evidentemente de forma ponderada e laboriosa, atribuir-lhes.

1. Prémio Peter – Mário Centeno. Dediquei um texto inteiro ao ministro das Finanças, que, inusitadamente, tomou de assalto, com o respaldo denodado do Governo em peso e do primeiro-ministro em particular, a chefia do Eurogrupo. Assume um papel de liderança, a partir do coração financeiro da União Europeia, das políticas económicas a desenvolver na Europa e com esse grande poder virá, claro está, grande responsabilidade.

2. Prémio Ícaro – António Costa. Quando se sobe a grande altura, a queda é mais longa e dolorosa. O estado de graça, muito fruto da sua habilidade e flexibilidade e das suas capacidades malabares, esfumou-se no verão e ficou a nu a constatação que poucos haviam feito – o primeiro-ministro é timoneiro talentoso com ventos favoráveis, mas navegar à bolina não é com ele. E nem para pedir desculpa tem jeito. Nem é bom imaginar o que seria em contexto de estagnação económica ou perto disso.

3. Prémio PREC – Jerónimo de Sousa. O papel do PCP na engrenagem da geringonça foi sempre difícil de entender. Encravado entre a ânsia de poder e a pulsão contestatária, arriscou a sua identidade, a sua base de apoio popular e a própria subsistência política. Iniciou-se há pouco tempo o Processo de Reviravolta Em Curso, em que Jerónimo tenta seduzir os trabalhadores, nas ruas e nas empresas, com a linguagem de sempre e empunhando as velhas armas – greves e tumultos vários. Está para breve o fim da quadratura do círculo.

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4. Prémio Bloqueado — Catarina Martins. A aposta do Bloco de Esquerda em António Costa teve uma natureza totalmente diversa daquela que fez o PCP – procurou delinear uma estratégia de crescimento da sua base de apoio, assente essencialmente na sua pragmática ambiguidade posicional. Os resultados das autárquicas não auguram nada de bom e tornam difícil arrepiar caminho. A colagem ao Governo terá também chegado ao limite ou será que o salto é directo para o governo? Dead end ou Catarina no bolso do casaco de Costa?

5. Prémio Revelação – Assunção Cristas. Tinha pela frente o espinhoso caminho de suceder a um líder individualista e carismático, extraordinariamente inteligente e conhecedor dos meandros da política. Os debates na Assembleia da República, o posicionamento rápido e sensato em relação aos temas da “actualidade” e os últimos resultados eleitorais confirmam-na como uma líder forte, inquestionável e inquestionada no CDS. Esse reconhecimento é unânime do ponto de vista social e é transversal ao espectro político-partidário.

6. Prémio Marquês – José Sócrates. São cada vez mais claros os esquemas e as artimanhas que foram aparentemente urdidos entre o antigo governante e toda a esfera de influências em que se movia. Estão cada vez mais à vista os resultados dessa teia na Portugal Telecom (e no Siresp onde António Costa ainda foi a tempo de dar uma ajuda) e na multidão de pessoas e empresas prejudicadas gravemente nos seus investimentos, pequenos e grandes, no universo BES/PT. Portugal seria diferente se o jogo daquela altura não tivesse sido mal arbitrado.

7. Prémio Democracia – Mário Soares. Já tudo foi dito sobre o antigo Presidente-Rei. Também ele, noutro registo e com outra energia, soube interpretar o imenso apreço popular por um desempenho da magistratura presidencial que saiba combinar sentido institucional com inteligência emocional e racionalismo formal com afectos. Tinha, é sabido, instinto e visão política como poucos. A essas características, entre outras, devemos a génese da nossa democracia no Século XX.

8. Prémio Calimero – Pedro Passos Coelho. Fica ligado aos tempos da troika em Portugal, para o bem e para o mal. Merecia outro reconhecimento, mas a verdade é que o seu estilo de comunicação e a sua forma de estar não o potencia. Andará seguramente “por aí” e seria um desperdício que o futuro PSD não aproveitasse o seu capital de experiência em favor do país.

9. Prémio Rebelde Com Causa – Rui Moreira. Desafiou tudo e todos e venceu. O Presidente da zona Norte do país não teve medo dos vários establishments – muito menos do PS e da sua preponderância no centralismo de Lisboa – e deixou claro que prefere quebrar a torcer. Ganhou a Câmara do Porto sem partidos e apesar dos partidos. Um case study.

10. Prémio Engenheiro – Belmiro de Azevedo. A morte deste homem grande e deste empresário maior foi uma perda efectiva para o país, que precisava e precisa de pessoas como ele – destemidas, íntegras, com rasgo e com visão. Polémico em vida e na morte, desprezou sempre o facilitismo, as frases e ideias-feitas (com que tantos o brindaram agora…), a preguiça e o imobilismo. Se os seus ensinamentos no campo da gestão são inabarcáveis – desde a filosofia subjacente à criação do que designava como long-living companies até à importância decisiva que atribuía à formação permanente -, já na esfera pessoal e cívica os valores que nos legou são ainda mais difíceis de elencar. Trabalhei muito de perto com ele durante muitos anos e a mágoa pela sua partida é apenas suplantada pela minha gratidão e pela honra que foi privar e aprender com “O Engenheiro”.