Foi com naturalidade que ouvimos o comunicado ao país do Sr. Presidente de República, Professor Marcelo Rebelo de Sousa, onde deu por terminado o confinamento a partir do dia 1 de Maio.

Esta decisão deve-se à redução progressiva de número de casos de SARS-CoV-2 em Portugal, fruto das três fases de confinamento, e à entrada em vigor do plano de vacinação em massa que, finalmente, está a seguir o caminho certo depois de alguns contratempos, desde a falha na entrega das vacinas, doses indevidamente apropriadas por pessoas que não faziam parte do grupo de risco, informações, contradições e dúvidas sobre os efeitos secundários da vacina da AstraZeneca.

Vários especialistas têm opinado sobre a possibilidade de deixarmos de ter casos de Covid-19 a seguir ao Verão. Esta afirmação é perigosa e demasiada optimista, uma vez que é baseada praticamente no tal número mágico dos 70% para atingirmos a imunidade de grupo.

Este é um número teórico. Pode não ser suficiente para alcançarmos o objectivo que todos ansiamos. Estamos a considerar que a variante indiana e japonesa não chegue a Portugal da mesma forma como entrou a variante britânica. Apesar de os responsáveis dizerem que a situação está a ser seguida com atenção, também ouvimos afirmações semelhantes em Dezembro de 2020 e em Janeiro deste ano sobre a variante britânica. Todos nós sabemos que, hoje em dia, esta última é a variante que predomina em Portugal.

A variante indiana pode entrar em Portugal através do Reino Unido. Por  razões históricas entre estes dois países, há muitos indianos que visitam o Reino Unido e britânicos que viajam até a Índia. Em relação ao Japão, os turistas deste país gostam de visitar Portugal também por razões históricas. Por outro lado, há muitos japoneses que vivem no Brasil e visitam a sua terra natal com frequência. Por estes motivos, os turistas destes países devem ficar em quarentena ao chegarem a Portugal.

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Não devemos ser optimistas em excesso ou pessimistas a vida inteira. Mas a partir do dia 1 de Maio, com o fim do confinamento, tudo será diferente. Estará tudo aberto de novo. Qualquer detalhe, a partir desta data, é importante. Temos de pensar em todas as hipóteses de novas variantes entrarem em Portugal. Falhámos  por imprudência na variante britânica, não podemos repetir o erro com as variantes indiana e japonesa.

Apontar um mês ou uma data para dizer que não vamos ter mais casos de Covid-19 em Portugal, é correr o risco de falhar redondamente nesta afirmação e, acima de tudo,  criar uma falsa segurança aos cidadãos só porque estamos a ser vacinados em massa. E as vacinas não atuam de mesma forma nas diversas variantes. Mesmo depois de sermos vacinados, vamos ter de continuar a cumprir as medidas sanitárias  (uso de  máscara, lavagem das mãos e distanciamento social).

Tudo aponta para que, no próximo ano, cada um de nós tenha de ser vacinado de novo. Não podemos esquecer, que depois de tantas décadas, a população mundial ainda não conseguiu erradicar todos os vírus do planeta,  mesmo sendo vacinada em massa. A única excepção foi a varíola. E todos nós tivemos a experiência recente do outbreak do sarampo. Os vírus andam por aí. Os velhos e os novos. Estão apenas à espera de uma oportunidade para voltarem a atacar o ser humano. Sejamos prudentes, acima de tudo nas afirmações e nas atitudes daqui em diante.