As vitórias dos dois candidatos pró-russos nas eleições presidenciais da Moldávia e da Bulgária são mais um sinal preocupante de que a União Europeia se reduz cada vez mais a um grupo de burocratas em Bruxelas que governam apenas para si e para alguns, deixando os países membros, principalmente os mais vulneráveis, à deriva.

A pobre da Moldávia — utilizo esse adjectivo porque realmente se trata do país mais pobre da Europa — há já alguns anos que vinha sendo dirigida por dirigentes cujo objectivo central da sua política externa era uma aproximação à União Europeia e à NATO, mas isso não bastou, nem bastará seja onde for, para resolver os graves problemas sociais e económicos que o país enfrenta. É necessário também que as elites políticas mostrem capacidade de governar e não apenas tratar dos negócios seus e dos seus mais próximos.

A Bulgária já faz parte da União Europeia, mas os problemas são semelhantes e são esses problemas que levam moldavos e búlgaros a ficarem desencantados com o chamado “sonho europeu”.

Por outro lado, Bruxelas e a sua burocracia, que fazem promessas de todo o tipo aos que estão à porta da União Europeia (e aqui deve-se recordar não só a Moldávia, mas também a Geórgia, a Turquia, a Ucrânia), mas não vão além disso. E para que pareça que tudo está a correr, eles apoiam regimes incompetentes e corruptos até que a bolsa de pus acumulado nas chagas sociais e políticas rebenta. E não há meio de tirarem as devidas conclusões desta sua política desastrosa, assim como não o deverão fazer face à vitória de Donald Trump nos Estados Unidos. Isto assemelha-se à velha política de atirar o lixo para debaixo do tapete e esperar que as coisas se resolvam por si sós.

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Os dirigentes dos países europeus que apostam na sua aproximação à Rússia pretendem mostrar-se pragmáticos aos olhos dos eleitores, pois esperam retirar dividendos económicos desses processos. Além de esperarem participar em projectos como passagem de gasodutos russos pelo seu território, como é o caso da Bulgária, querem também ter na Rússia um grande investidor, uma fonte de combustíveis baratos e um grande mercado para o escoamento dos seus produtos, principalmente agrícolas. Não é por acaso que tanto o futuro presidente moldavo como o búlgaro defendem o fim do regime de sanções contra a Rússia, estando dispostos, para isso, a perdoar Putin pela invasão da Crimeia e do Leste da Ucrânia.

Resta saber se Moscovo tem capacidade para, além de resolver os seus graves problemas económicos, responder às espectativas destes novos clientes. Já aconteceu, num passado recente, que Putin fracassou neste campo, deixando escapar a Ucrânia e a Moldávia, quando estes países eram dirigidos por forças que se diziam “pró-russas”.

Provavelmente, os novos dirigentes da Moldávia e da Bulgária irão realizar políticas com vista a retirar dividendos de ambas as partes, como já tentou fazer Victor Ianukovitch, quando estava à frente da Ucrânia, mas a experiência acabou mal porque as ajudas que vinham de ambos os lados desapareciam na areia da corrupção e do enriquecimento próprio.

Segundo as notícias que chegam da Estónia, país da União Europeia que faz fronteira com a Rússia, é cada vez mais real a formação de um governo pró-russo, o que vem ressaltar ainda mais a necessidade de Bruxelas se empenhar no reforço da União e não na sua desintegração.

Os burocratas de Bruxelas devem olhar para aquilo que levou e leva os eleitores a votarem em forças políticas duvidosas e não façam deles “carneiros arrebanhados”. O exemplo dos Estados Unidos ainda não chegou? O fenómeno do populismo que levou Donald Trump ao poder em Washington já era por demais evidente na Europa, mas por cá continua a imperar a política da avestruz.

E se realmente Donald Trump avançar com a sua política de isolacionismo, como irão os burocratas de Bruxelas responder aos desafios que se colocam perante a União Europeia, que países europeus estarão dispostos a abrir os cordões à bolsa para reforçar a segurança comum?

Até quando este desatino? Até ao momento em que esses burocratas não tiverem mais ninguém para governar?