No Dia Mundial do Cancro do Pulmão, que se assinala hoje, 1 de agosto, é importante lembrar que no continente europeu são diagnosticados 300.000 novos casos todos os anos, verificando-se uma morte a cada dois minutos.

Em Portugal, o cancro do pulmão é o quarto em frequência, depois dos tumores da mama, próstata e colorretal, mas é aquele que gera maior mortalidade, cerca de 4800 pessoas por ano, constituindo um importante problema de saúde pública.

Existe uma relação direta, bem estudada, entre o cancro do pulmão e o tabaco, embora outros fatores possam estar implicados como os genéticos, a exposição ambiental e ocupacional, a poluição e a alimentação.

Os malefícios do tabaco estão documentados há muito tempo e são conhecidos por todos, embora seja importante alertar que as novas formas eletrónicas de consumo proponham métodos de administração de nicotina e outros produtos inalados que criam uma falsa sensação de segurança, apoiada na inexistência de estudos independentes bem delineados, na incerteza relativamente aos efeitos a médio e longo prazo, assim como em alguma omissão legislativa.

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Salienta-se que nem todas as pessoas com cancro do pulmão são fumadoras e que nem todos os fumadores ou ex-fumadores desenvolvem cancro do pulmão, mas o tabaco persiste como o principal fator de risco evitável para a doença, sendo que cerca de 80% dos doentes com cancro do pulmão têm ou tiveram algum tipo de consumo prévio. O risco aumenta com o número de anos e cigarros fumados, diminuindo gradual e lentamente após a cessação tabágica, pelo que existe sempre benefício em deixar de fumar, independentemente da idade e das caraterísticas do consumo.

Os profissionais de saúde, habituados a lidar com a situação, têm em mente que a maioria das pessoas, quando diagnosticadas com cancro do pulmão, possuem doença em estádios avançados, o que se traduz numa menor possibilidade de tratamento curativo e na redução da esperança de vida. Para além da importância da prevenção, não fumando ou deixando de fumar o mais precocemente possível, surgiu evidência nos últimos anos de que a realização de rastreio para o cancro do pulmão em pessoas com risco acrescido (sobretudo em fumadores e ex-fumadores com mais de 50 anos e carga tabágica elevada, por exemplo se fumaram 20 cigarros por dia nos últimos 30 anos ou equivalente) permite detetar fases mais precoces da doença, antes do início de sintomas, possibilitando uma terapêutica mais eficaz.

A deteção precoce faz-se com recurso a uma TAC de tórax de baixa dose de radiação, um exame simples, não invasivo, sem contraste, que dura apenas alguns minutos, anual, e que melhora a capacidade de visualizar pequenos nódulos pulmonares que podem ser ou dar origem a cancro. Apesar da evidência, ainda não se verifica um rastreio global e estruturado na maioria dos países europeus, ao contrário dos Estados Unidos da América. Em Portugal existem alguns programas-piloto de deteção precoce em cancro do pulmão, em diferentes instituições, como é o caso do disponibilizado pela CUF Oncologia, e encontra-se nomeado um grupo de trabalho para fazer o levantamento e avaliar as necessidades para implementação de um rastreio nacional dirigido à população-alvo anteriormente descrita.

Para os doentes com o diagnóstico de cancro do pulmão e suas famílias, é da máxima relevância transmitir que o nosso país dispõe atualmente das técnicas de diagnóstico e tratamento mais recentes, bem como de profissionais de saúde dedicados e com a máxima competência nesta área. Nesta doença, é fundamental a rapidez no diagnóstico e na oferta terapêutica.

Nos anos vindouros antecipa-se a disseminação do uso de inteligência artificial no diagnóstico e na decisão terapêutica dos doentes com cancro do pulmão, a identificação de biomarcadores relevantes e a utilização de associações de novos fármacos que permitam aumentar ainda mais a sobrevivência e as hipóteses de cura, com a comunidade científica mundial e nacional a trabalhar para atingir esses objetivos.