É preciso azar. Logo esta semana, quando eu tinha tudo preparado para revelar os detalhes do próximo Big Brother, é que a Ministra da Saúde se demite. É que esta saída acaba por ser um daqueles temas incontornáveis, tipo acidente de viação. É impossível não querer espreitar o sucedido. Mas eu, por acaso, até consigo contornar esta problemática da saída da ministra. Aliás, vou contorná-la. Contorno-a, sigo em frente, saio na próxima saída, volto para trás, estaciono na berma, em segurança, mesmo ao lado da ocorrência e a partir daí, sim, examino em detalhes o incidente.

Um das teorias para a demissão de Marta Temido indica que a mesma se deveu a cansaço. Há quem fale em cansaço com a gestão do SNS, em cansaço com os problemas dos médicos, ou até em cansaço devido às polémicas com os enfermeiros. Pode ser, mas eu adianto outra hipótese. Creio que o cansaço da Ministra da Saúde é, sem dúvida, de cariz psicológico, mas será mais uma fadiga, digamos, criativa. É ao nível criativo que vislumbro desgaste. Que diabo, convenhamos que não deve ser nada fácil andar 1.414 dias a inventar desculpas para não ter culpa de nada. Eu que o diga. Cá em casa estou sempre a ensaiar esse exercício e o meu tempo recorde são patéticos 17 minutos.

A propósito dos 1.414 dias, lembrei-me daquele filme intitulado 127 Horas. Não sei se viram, mas é uma película, baseada em factos verídicos, sobre um amante do desporto ao ar livre que, ao cair numas rochas, fica preso entre duas pedras e acaba por ter de serrar o próprio braço para se libertar. É uma história muito linda, deviam ver. Numa tarde de Domingo, porreiramente, com toda a família. Em especial com os mais pequenitos.

Bom, mas dizia eu que me lembrei desse filme pelo seguinte. Se 127 horas são suficientes para deixar a saúde de uma pessoa naquele estado, imaginem o que não nos fez à saúde 1.414 dias de Marta Temido aos comandos do Ministério. Eu, se fosse a vocês, amanhã avançava para umas análises completas. Mas primeiro emigrava. Para um sítio onde se consiga marcar análises num hospital público ainda para antes de uma pessoa falecer. Que é quando é mais indicado fazer análises. É em jejum e antes de falecer.

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Segundo parece, a ex-ministra da Saúde apresentou a sua demissão na madrugada de ontem. O que é um bocadinho surpreendente. Não apenas por não ser normal ministros demitirem-se a altas horas da noite, mas principalmente porque, a julgar pelas urgências quase sempre encerradas nesses horários, pensei que não houvesse quaisquer serviços ligados ao Ministério da Saúde a fazer horas extra. Se bem que neste caso da demissão de Marta Temido, trabalhou-se de noite, é um facto, mas só para arranjar maneira de não voltar a trabalhar de dia.

De acordo com o primeiro-ministro, a causa para a demissão da ex-ministra da Saúde foi o falecimento de uma grávida transferida de Santa Maria por falta de vaga. Disse António Costa que isso foi a “gota de água” para Temido. Só não consegui esclarecer qual a origem dessa água que já enchia o costumeiro copo. Sei que água da nascente de erros grotescos cometidos durante o mandato de Marta Temido não era na certa. Porque nesse caso, nem um copo, nem a barragem de Castelo de Bode na sua cota máxima teriam capacidade para armazenar tanto líquido.

Agora começam a surgir nomes de possíveis futuros ministros da Saúde. Por exemplo, o antigo Diretor-Geral da Saúde, Francisco George, avançou um nome que me parece muito interessante: Fernando Medina. Diz George que Medina tem “vocação” para a pasta da Saúde e tem razão. Medina tem vocação e provas dadas. Pois se tratou tão bem da saúde àqueles russos anti-Putin que denunciou a Moscovo, sendo eles cidadãos estrangeiros, imaginem o que Medina não faria à saúde dos portugueses.