Um debate, dois debates, três debates… quatro debates…. cinco debat… Ops! Desculpem, já estou a cabecear. Estava só a tentar perceber se contar os debates entre líderes partidários previstos até às eleições legislativas dá tanto sono como contar carneirinhos. E a resposta é um rotundo “sim”. Contar estes frente-a-frente é, só por si, suficiente para embalar num sono profundo, pois até 30 de Janeiro haverá mais debates do que há carneirinhos em todos os episódios d’“A Ovelha Choné” somados. Agora, se o simples facto de contar estes debates provoca tamanha sonolência, imaginem o que não fará ouvir mesmo os debates. Ui, é coma certinho.

E uma vez que não tenho vagar para comas certinhos – nem para outras espécies de comas, em verdade – não conto escutar nenhum dos debates sobre os quais me pronunciarei. Parece pouco profissional? Só que não é. É, antes, sinal de profundo respeito pelo leitor. E porquê? Porque opiniões sobre os debates proferidas por indivíduos que assistem mesmo aos debates é coisa que se lê em todo o lado. Isso qualquer um faz. Aquilo que traz mais-valia ao leitor é, creio, escutar uma opinião, devidamente fundamentada, mas de quem não faz a mínima ideia do que já foi debatido nesta vasta panóplia de discussões pré-eleitorais.

Ponto prévio, no entanto. Se eu mandasse em coisas relativas a debates pré-eleitorais, o regulamento destes debates iria beber ao regulamento do sorteio da fase de grupos da Liga dos Campeões. Passo a explicar, para os menos familiarizados com a prova rainha da UEFA. Nesta fase da Liga dos Campeões nenhuma equipa pode defrontar outra equipa que pertença à mesma federação. E como se verteria este princípio para os nossos debates pré-eleitorais? De forma até muito directa. Nos debates nacionais deixaria de ser possível enfrentarem-me agremiações que, lá no fundo, sonham com a pertença a uma mesma federação. Como, por exemplo, a saudosa União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Só isto poupava-nos todos os debates opondo quaisquer dois destes clubes esquerdistas: PCP, Bloco de Esquerda, PS, Livre e PAN.

É que presenciar debates envolvendo qualquer parelha saída deste grupo é como ir no banco de trás do carro de um casal rumo ao seu destino de sonho. Os cônjuges podem até discordar sobre a velocidade a que devem circular, mas nenhum dos dois tem a mínima dúvida de que o caminho que querem seguir é o caminho para uma sociedade socialista. A única dúvida é se vão pela auto-estrada, ou pela estrada nacional. Acabando por optar pela nacional, que a auto-estrada é caríssima. Enquanto sonham com a sociedade socialista em que todas as auto-estradas serão gratuitas. E aí sim poderão desfrutar de três faixas de rodagem em cada sentido a bordo da sua carroça.

O ponto de paragem obrigatória para todas as estirpes de esquerdistas autóctones, no caminho para a sociedade socialista, é o salário mínimo nacional. O salário mínimo nacional é uma espécie de Canal Caveira do caminho para a sociedade socialista. Não há socialista, ou comunista que, também nestes debates pré-legislativas, não se detenha na questão do salário mínimo nacional. Há alguma discordância se deve ser 900 euros e já em 2022, ou só em 2026, ou talvez, porque não?, em 2024. Mas isso, no fundo, é como escolher entre diferentes casas de pasto de Canal Caveira. O que importa é parar em Canal Caveira. O que importa é escrever num pedaço de papel que o salário mínimo nacional aumenta dezenas de pontos percentuais acima do crescimento da economia para, como que por magia!, os portugueses ficarem mais ricos.

Mas divago, pois falava do formato dos debates televisivos. Formato que, seguindo uma lógica tipo Primeira Liga, em que jogam todos contra todos, pelo menos só tem uma volta de debates, em terreno neutro. Em tempos ainda se pensou fazer estes debates em duas voltas. Com os líderes partidários a defrontarem-se uma vez em sua casa e outra em casa do seu adversário. Mas a ideia foi abandonada quando José Sócrates liderava o PS, porque sempre que Sócrates recebesse um líder partidário estaria a debater em casa emprestada.

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