Nas últimas semanas, a vacina da AstraZeneca (AZ) passou a ser a principal protagonista de uma telenovela, cuja direção geral pertence à Agência Europeia do Medicamento (AEM) e a produção à própria União Europeia (UE).

Depois dos primeiros casos de mortes e acidentes tromboembólicos ocorridos em doentes oriundos de várias partes do mundo, a AEM reuniu e, em praticamente 48 horas, declarou que os fenómenos tromboembólicos não tinham nada a ver com a vacina em causa.

As mortes e as ocorrências continuaram e com a pressão de diversos países, associada aos resultados de mais estudos sobre os efeitos secundários da vacina, a AEM não teve outra alternativa senão afirmar o dito por não dito e reconhecer que, afinal de contas, o risco era real. Os estudos recentes apontam para uma maior incidência e risco em pessoas com menos de 60 anos.

Basta olharmos para os dados fornecidos pela EudraVigilance: enquanto que as reações adversas por cada mil doses das vacinas da Pfizer e da Moderna foram de 2,1, na AZ, esta reação foi de 8,2. É óbvio que surgem mais efeitos secundários, cerca de quatro vezes mais.

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Com estes resultados, a UE deveria ter tomado uma decisão credível e unânime em relação à faixa etária em que não deveria ser dada a vacina da AZ por aumentar o risco de complicações tromboembólicas. Mais uma vez, os seus membros, tal como em relação a outros assuntos durante a pandemia, não souberam estar unidos e decidiram tomar diferentes medidas no seu próprio país. Uns, não alteraram o esquema vacinal. Outros, deram indicação para ser aplicada em pessoas com mais de 60 anos, como no caso de Portugal. Noutros ainda, a vacina passou a ser dada a maiores de 55 anos. E alguns países suspenderam, pura e simplesmente, a inoculação com esta vacina.

Apesar de todos nós sabermos que os benefícios da vacina superam os riscos, temos como principal objetivo  não deixar morrer ninguém, nem por causa do vírus, nem tão-pouco pela reação adversa à vacina. Estamos numa guerra mundial contra o mesmo inimigo que se chama coronavírus. Ninguém quer morrer por causa desta ou daquela vacina. Se foram confirmados problemas inerentes à vacina, que suspendam a toma de uma vez por todas. E que comprem mais vacinas doutras farmacêuticas, independentemente da vacina da AZ ter sido produzida pela conceituada universidade de Oxford.

Que acima dos interesses políticos e económicos, a AEM tenha a coragem de tomar a decisão certa e que não morra mais ninguém por efeito directo da vacina.

As certezas nas afirmações foram tantas, que esta telenovela ainda não terminou! Porque das certezas iniciais, vieram incertezas e contradições, com repercussões nos cidadãos, gerando insegurança e desconfiança em relação às afirmações da AEM e da UE sobre a vacina da AZ.