De entre todos os nossos filhos, há sempre um que, a determinada altura da sua infância, quer casar com a mãe. A ideia (um bocadinho avestruza) de que isto é o exemplo duma perigosa escorregadela para o incesto — a que, quando as crianças não eram cuidadas e a Humanidade não era escolarizada, fomos chamando complexo de Édipo — sempre me pareceu “pateta”. Sobretudo quando, a seguir, se pressupunha que, sem um músculo moral “de betão”, todos correríamos o risco de libertar o animal que há em nós. Ora, somos animais, sim. Mas muito mais que isso, claro. E mal estaríamos se partíssemos do pressuposto que a inteligência e a bondade humanas derivariam de “coletes de força” e não duma competência ética que, quando somos amados, todos temos. Desde sempre.

A par desta ideia dum presumível complexo de Édipo, que parecia ter de ser manuseado com uma delicadeza semelhante àquela com que se lida com os produtos explosivos, vai-se escutando por aí que os pais se relacionam mais facilmente com as filhas e que as mães o fazem muito melhor com os seus filhos rapazes. Tentando pôr alguma “ordem” nisto tudo, comecemos pelo princípio.

Os pais e as mães não gostam de todos os filhos de forma igual. Não tanto porque não o desejem, acima de todas as coisas. Mas porque há tantos sobressaltos na relação entre os pais e os filhos que, a certa altura, aquilo que projectamos num filho ou aquilo que reconhecemos nele tem muito mais a ver com coisas nossas (medos, características assim-assim, etc.) que, no meio de todos os desafios que ele nos coloca, circulam numa espécie de ping pong entre nós e ele.

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