A questão raramente é levada a debate. Quando se faz referência à expressão “debate” pretende-se incluir nele toda a sociedade. A democracia, ao contrário daquilo que muitos possam pensar, não se esgota nas mais diversas eleições. A democracia vai muito para além disso e hoje, enquanto cidadãos, vivemos no lado errado da história. Alienados de tudo o que nos rodeia deixamos de discutir a nação, o seu futuro e o seu caminho.

Vivemos na constante preguiça de não pensar, de não interrogar coisa alguma e vamos procrastinando o país como se o amanhã não tivesse interesse algum. De facto, creio, que vivemos enquanto cidadãos numa despreocupação tão atroz como assustadora da forma como pensamos sobre a herança que vamos deixando. Ela será totalmente afectada pelas nossas escolhas, pela nossa passividade de agir enquanto parte de um colectivo que deve, despedindo-se de qualquer preconceito ou ideologia, realizar urgentemente um debate ao redor deste tão importante desígnio nacional: Que sociedade queremos?

Não podemos aceitar viver numa sociedade onde uma determinada elite impera e comanda o destino de todos, esvaziando grande parte do corpo social do conceito que nos leva à ascensão dos mais variados aspectos do desenvolvimento de uma nação: a liberdade de pensar e de agir.

Hoje, o poder irrompe pelas nossas vidas castrando a nossa ação. O poder do estado, que regula quase tudo e quase todos, corrói o desenvolvimento social e pessoal como se todos tivéssemos amarrados aos pés uma bola de chumbo que não nos permite avançar mais um pouco. Temos um estado presente nos mais variados sectores da nossa vida em nome do poder pelo poder e não em nome do progresso da nação e de cada cidadão, a fim de construir de uma sociedade mais justa e mais livre.

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Vivemos amarrados a uma ideologia autoritária que vai crescendo aqui e ali, de forma mais ou menos silenciosa, onde as manhãs acordam iguais. E todos os dias nos sentimos mais cansados e sem esperança.

O futuro e o saber que caminho se quer levar deve ser pensado, estruturado e analisado com todos. Por essa razão é, e deve ser essencial, realizar um debate sério e alargado a toda a nação, ouvindo e reflectindo sobre as ideias de todos os quadrantes que fazem parte integrante do contrato social assinado por todos nós na qualidade de cidadãos.

A sociedade Portuguesa precisa de se repensar, de se estruturar e de abrir caminhos para que todos não se sintam a viver num permanente outono. Todos temos um desígnio, uma opinião e uma ideia para o país mas, mais que tudo isso, cada um de nós tem sonhos.

Este país vai mergulhando numa espécie de qualquer coisa que ninguém ainda entendeu o que é e o perigo perigosamente espreita a cada dia que passa. Temos o dever de parar para pensar sobre o que queremos e, para além disso, temos o dever moral de interrogar sem medo aqueles que decidem, aqueles que dão um rumo a esta nação e questionar se não haverá um outro caminho que nos possa conduzir a um lugar melhor.

O nosso país está de costas voltadas para ele mesmo. O futuro é incerto, causa angústia e não se sabe para se onde caminha enquanto ficamos impávidos e serenos a olhar para um amanhã que todos os dias se julga ser melhor sem nunca o ser.

Mentem-nos descaradamente criando a ilusão e a expectativa de um Portugal que não vai ficar para trás e o resultado é sempre o mesmo, década atrás de década. Ficamos sempre para trás.

Vendem-nos os mais belos sonhos. E nós que fazemos? Nós lá vamos comprando tudo isto enquanto alimentamos todos estes vendedores de banha da cobra que pelo uso sistemático da mentira e da criação da ilusão vão destruindo uma nação cada vez mais apática, cómoda consigo mesma, que sem pestanejar aceita tudo sem questionar quase nada.

Sobre todos nós recai a névoa do nunca saber o que contar, e aqueles que ainda podem abrir asas vão voando para lá do tempo, levando com eles o que de mais precioso um indivíduo pode ter: os seus legítimos sonhos. Numa  nação que nos prende nas mais variadas amarras não resta alternativa: remar para bem longe daqui com todos as aspirações no bolso para se sentir alguém, para se sentir gente, e tudo porque, como diz a canção, “eu quis ser astronauta mas o meu país não deixou”.

Este Portugal hoje não se interroga, não se ouve, não escuta os outros e não quer saber dos anseios e das expectativas das suas gentes. O país ainda não se sentou à mesa para discutir para onde vai, e ao caminho que entretanto é percorrido, se não se derem claros sinais de um futuro difercente, então isso só pode significar que falhámos. E sim, falhámos todos.

É urgente reunir toda a sociedade civil para se discuta, de uma vez por todas, o perigoso trajeto para onde nos querem levar. É preciso dar sinais claros aos responsáveis de que não podemos continuar aqui sem que nos deixem ser livres.

As cordas que nos amarram a esperança terão ser cortadas de vez. Enquanto alguns aprisionaram os sonhos de muitos, ainda vamos a tempo de salvar a aspiração daqueles que ainda restam para devolver a esta nação tudo aquilo que nos vão roubando: a alegria.

Se ambicionamos as estrelas, então teremos que correr atrás do firmamento.