Desde muito jovem que sabia que queria fazer algo técnico. Desde brincar com computadores na escola, a estudar informática e finalmente a trabalhar como Software Developer, sempre me senti no lugar certo. Apesar disso, ao longo da minha jornada tenho sido levada a sair da minha zona de conforto uma, e outra e outra vez. Desde o uso de linguagens de programação que mal tinha utilizado até então, ao debugging (termo inglês para “resolução de problemas técnicos”) de problemas que nunca tinha encontrado, senti-me muitas vezes como um peixe fora de água. Através destas experiências, aprendi uma valiosa lição: a importância de confiar nas minhas habilidades e meter a mão na massa.

Recentemente, trabalhei num projecto de larga escala que demonstrou ser uma grande oportunidade de aprendizagem para mim, tanto técnica como pessoalmente. Sem querer entrar em pormenores técnicos, o meu trabalho era fazer frontend, onde teria de implementar uma interface de utilizador na aplicação que a minha equipa estava a desenvolver. O maior desafio: ainda não havia uma framework definida. Em todos os projectos anteriores em que tinha trabalhado a decisão já tinha sido tomada. Agora, cabia-me a mim, uma Developer com apenas alguns anos de experiência, propor uma solução. Fiz a pesquisa necessária, tive algumas noites a pensar no assunto, e finalmente decidi seguir o meu instinto: propor uma solução que parecia ajustada, mesmo que o sucesso não fosse garantido.

Afinal de contas, um dos maiores obstáculos ao sucesso é o medo do desconhecido. É fácil ficar presa na “paralisia da análise”, duvidando constantemente se se está a fazer a escolha certa. Mas a verdade é que algumas das experiências mais gratificantes na vida vêm de dar um salto de fé e experimentar algo novo.

À medida que fui crescendo na minha vida profissional, fui compreendendo que uma das competências mais importantes que um Developer – ou qualquer pessoa, na verdade – pode ter, é a capacidade de confiar no seu instinto para tomar decisões, mesmo quando o sucesso é incerto. Ao abraçar esta filosofia, tenho sido capaz de enfrentar novos projectos com mais confiança.

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Estou convencida de que esta mentalidade e vontade de experimentar, é algo que tem de ser encorajado entre as mulheres que trabalham em tecnologia – e não só! Muitas vezes, sinto que temos demasiado medo de falhar e, assim, provar aos “Velhos do Restelo” que não pertencemos a este mundo da tecnologia. Da próxima vez, só posso incentivar-vos a ter em mente as seguintes sugestões:

  • Divide o problema: Quando confrontada com uma tarefa assustadora, pode ser útil dividi-la em partes mais pequenas. Isto faz com que a tarefa pareça menos avassaladora e dá-te um mapa a seguir.
  • Rodeia-te de pessoas positivas: Rodeares-te de colegas que te apoiem pode ajudar a aumentar a tua confiança e dar o incentivo necessário para enfrentar novos desafios.
  • Celebra sempre os teus sucessos: Não importa quão pequeno seja, é importante celebrares os teus sucessos ao longo do caminho. Isto ajudar-te-á a reforçares a confiança em ti própria.
  • Prática, prática, prática: Quanto mais praticares, assumires riscos e saíres da tua zona de conforto, mais fácil se tornará. A chave é começar em pequenas tarefas e trabalhar para enfrentar desafios maiores.

Concluindo, autoconfiança é crucial para se alcançar o sucesso. É importante para nós conseguir apoiar mais mulheres a entrar e a singrar no mundo da tecnologia. Ao aumentar a representação feminina nesta área, não só criamos uma indústria mais diversificada e inclusiva, mas também trazemos novas perspectivas e ideias que podem impulsionar a inovação e o progresso. Lembra-te, arriscar é o primeiro passo para tornar os seus desejos uma realidade.

Ana Margarida Picoito é Software Developer na Turbine Kreuzberg. Natural da Fuzeta, concelho de Olhão, licenciou-se pela Universidade do Algarve em Engenharia Informática. Em 2020 recebeu o Prémio PWIT na categoria “Software Developer”.

O Observador associa-se à comunidade Portuguese Women in Tech para dar voz às mulheres que compõem o ecossistema tecnológico português. O artigo representa a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da comunidade.