Esta é a época do ano em que os estudantes universitários portugueses celebram a Queima das Fitas. Uma última festa, antes dos últimos exames. Faz sentido. Vão dar um grande salto, das salas de aula para o mundo real. É o fim de pelo menos quinze anos de estudo. A festa justifica-se. A queima das fitas, segundo me dizem, é uma tradição recentemente reinventada, e que se espalhou por todas as universidades portuguesas. E mais além, como vão ver.

image

Também é nesta época do ano que, noutros graus de ensino, os pais dos alunos mais novos aturam as festas de fim do ano lectivo.

Há espectáculo, mesas com bolos e rissóis, crianças mascaradas e discursos paternalistas onde as crianças são comparadas a jardins, a flores ou a outras coisas. As festas de fim de ano lectivo, tal como as de Natal, duram sempre muitas horas, dependendo do tempo livre dos professores e da importância que se dão a si próprios. Para os meus nervos, são uma prova exigente. Até me acontece ter saudades das peças de Natal da minha escola primária, no sul de Inglaterra. Sempre a mesma história, a do Natal. Maria, José e o boneco representando o Menino Jesus. Tudo muito rápido. Também era suposto haver garden party, embora fosse muitas vezes cancelado por causa da chuva.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Nas festas portuguesas de fim de ano, os espectadores não prestam muita atenção às actuações nem aos discursos. Falam uns com os outro, falam uns dos outros, espreitam o que os outros trazem vestido, consultam o Facebook, procuram um rissol. Excepto, claro, quando é o filho que está no palco. Então, enquanto tentam registar a performance no telemóvel, no iPad ou na máquina de vídeo de alta definição com tripé, irritam-se com quem está a falar ao lado.

Depois, há as cerimónias da entrega de diplomas. Os alunos do 9º acabaram a sua educação básica e vão passar para o secundário, os do 12º mudarão para a vida ou para a universidade. Recebem um diploma e um adeus da escola.

E lá estava eu, a semana passada, na festa da escola. Aguardo que a minha filha mais velha receba o diploma e se despeça do 9º ano. Tinham passado duas horas de cansativas danças infantis, com um calor de assar (este ano, felizmente, foi dispensada a peça de teatro do costume, didáctica e ambiental, sobre sacos de lixo e lulas solitárias no mar). É então que uma professora sobe ao palco, e, com muitas lágrimas e muita solenidade, agradece aos seus alunos terem-lhe mudado a vida, revela-lhes o muito que aprendeu com eles, e deseja-lhes muita sorte nas suas carreiras educativas. Finalmente, chama-os ao palco…

E a turma sobe ao palco, para receber uma faixa com as cores da escola, uma pasta cheia de fitas, com mensagens e desenhos de boa sorte e coisas lamechas dos professores e colegas.

Estão a dar um grande passo na vida. Acabaram o pré-escolar. Têm cinco anos.

Olho em volta. Troco olhares perplexos com alguns amigos: “Queima das Fitas para crianças de cinco anos?!” Os miúdos, no palco, têm um ar espantado. A professora anuncia: “E agora, os nossos finalistas vão dançar uma valsa!” Sinto muitas almas a afundarem-se, desejos de ir para casa.

Para benefício de quem foi isto tudo? A festa de fim de ano já é, no fundo, um grande acto de auto-complacência, um abuso de tempo e de paciência. Complementar isso com cerimónias e discursos para miúdos de cinco anos é torturante, e, realmente, não faz sentido. Será que, hoje em dia, todas as etapas da vida merecem ser tratadas como uma coisa tão especial? Queimas das Fitas para crianças de cinco anos? A sério?

Estas crianças não vão perceber qualquer sentido nisto, menos vão se lembrar deste dia, e as pastas de fitas vão adicionar-se à tralha contida nas caixas de brinquedos. Será que os pais destas crianças precisam assim tanto de ver reconhecidos os êxitos e resultados dos seus filhinhos (por “êxitos e resultados” leia-se: “ser entregue no infantário todos os dias)? Será possível que os professores passem o ano a desejar estas festas e cerimónias? Não consigo mesmo perceber donde é que tudo isto vem.

Graduating babies.

In the last few weeks, university students have celebrated “queima das fitas”, the end of their courses and the last chance for a big party before their finals. It makes sense. They are taking a huge step from education into the real world. At the very least, they have been studying for the last fifteen and they deserve a party. It’s a tradition that has been re-ignited, and has spread throughout Portuguese university system.

Back at the other end of the education career, parents of younger students will have had to sit through the school fête this week.

There are performances and cake stalls and dressing up and patronising speeches about how children are like gardens or something. The school fêtes or end of year and Christmas shows always take hours, depending on the amount of free time and how self indulgent the staff are. They try my nerves. I long for the quick annual nativity play of my childhood, or the often rained-off village fête that required little patience.

The spectators don’t really watch or listen all that intently to any performance. They’re talking to each other, talking about each other, looking at what each other is wearing, looking at facebook or looking for something to eat. Except, of course, when their kid is up, and they get annoyed with everyone else for talking while they try to film their kid with their phone, ipad or high end video camera on a tripod.

Then there are the diploma ceremonies for the kids. The ninth graders have finished their “basic education” and will move on to secondary (similar to moving from 5th year to 6th form in Britain) and the twelfth graders will be moving to the real world or to university. They will receive a diploma and a goodbye from the school.

So, there I am last week, waiting for my eldest kid to get her diploma and goodbye from the school. I have already having sat through two hours of boring dances performed by the kids, under the baking hot sun (this year, we were relieved of the usual didactic environmental play about garbage bags or lonely squids in the sea). A teacher steps onto the stage and, sobbing, thanks her class for having changed her life, telling them that she has learned so much while they were in her care and wishing them luck in their future educational career. She calls them onto the stage…

Her classful of kids appears on the stage to receive their diplomas, a sash is placed over each of their heads, and they receive folders filled with ribbons, well-wishing messages and drawings on each, from their teachers, from their classmates. It’s their very own “queima das fitas”.

These kids are taking a big step in life.

They have just completed pre-school. They are five years old.

I looked along the row of seats to my friends. We exchanged a look “five year olds doing queima das fitas now??!! WHAT??!” The five year olds looked bewildered. “And now, the pre-schoolers will do a waltz!!!”. Several dozen hearts sank to the floor. Most of us wanted to just go home.

Who was this for? The whole of the end of the year party is already a huge indulgence of time and patience. Compounding it with ceremonies and speeches for five year olds, (and then each “end of cycle” class: 4th grade, 6th grade as well as 9th grade and 12th grade) is agonising and, really, pointless. Does every single stage of life have to be made special now? For five year olds?

The five year olds don’t understand what it’s all about. They won’t remember it, and their folders of ribbons will add to the myriad clutter in their toy boxes for years to come. Have parents of five year olds suddenly become needy for recognition of their tiny child’s achievements (where achievement means being delivered to nursery school and existing there for a few hours a day for a year or two)? Do the teachers long for these parties and ceremonies? I just can’t work out where it’s coming from.