Todos estudámos, nos primeiros anos de ensino, que há uma pirâmide demográfica que representa a estrutura etária da sociedade. Esta tinha uma base jovem, que se ia estreitando com a longevidade. E era sensivelmente equilibrada de ambos os lados do pilar central, homens de um lado e mulheres do outro, com exceção para os últimos anos de vida, em que as mulheres superavam os homens, pela sua maior longevidade. As mulheres sobrevivem mais 4 anos, em média, aos homens.

Volvidos anos – uns 50, diríamos – a pirâmide aproxima-se agora, perigosa e vertiginosamente, da forma de um cogumelo, atenta a menor base de sustentabilidade face à dimensão do teto a suster.

E foi assim, não obstante tenhamos recebido, nos anos 70 do século XX, centenas de milhares de portugueses de Angola e Moçambique (então designados “retornados”). E foi assim não obstante a esperança média de vida tenha aumentado consideravelmente nas últimas décadas. Tendência que, de resto, só foi infletida em 2020 e 2021 pelos nefastos efeitos da Pandemia Covid-19.

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Porém, não somos hoje demograficamente sustentáveis. O saldo natural resulta num défice contínuo, faltando pessoas todos os anos e nada mudará isso até ao final do século XXI. Em 100 anos, teremos então perdido 3,5 milhões de habitantes. Entrámos 10,3 milhões no século XXI e no século XXII só já seremos 6,8 milhões?!

No melhor dos cenários, nos próximos 25 anos seremos já menos um milhão de portugueses e duvidamos que o saldo migratório possa compensar o défice demográfico natural. Não são as melhores notícias, as que vamos tendo em sede de imigração…

E nas estimativas demográficas mais longas, perspetivamos uma incessante tendência de perda populacional. Porventura, dificilmente um país terá alguma vez – por causas estritamente naturais – alcançado um resultado tão negativo e num tão curto espaço de tempo. Podemos afirmar que chegámos a um ponto de não retorno, tal é a relação entre natalidade e o número de óbitos das últimas décadas.

É verdade que nunca o mundo teve tantos habitantes, mas eles não estão neste jardim-à-beira-mar, e não estamos assim tão bem colocados ao nível da capacidade de atrair imigrantes, nem as políticas parecem estar adequadas, inexistindo, sequer, um compromisso político nacional com este desiderato.

Este abandono da matriz, de pirâmide para a forma de um cogumelo “com pés de barro”, vai ter custos enormes e perigar a sustentabilidade social. A dependência de idosos por cada 100 jovens já atingiu valores de 400 ou mais em alguns municípios do interior e, na média nacional, estima-se possamos vir a ter 300 pessoas com mais de 65 anos por cada 100 jovens, já daqui a duas gerações. Do mesmo modo, a população em idade ativa vai cair em quase 2 milhões de pessoas, nesse mesmo período de duas gerações, apenas. E isso será trágico de todos os pontos de vista. Imaginem o que acontecerá ao nosso PIB com esta queda na população ativa… E o que acontecerá à nossa dívida pública per capita, quando formos bem menos?!

No mercado de trabalho a demografia vai ajudar muito. Aparentemente, pelo menos. Estaremos em pleno emprego nos próximos anos, até que possam ocorrer desinvestimentos ou ajustamentos da economia face à diminuição grave de população que aí vem. Vão sair para a reforma, nos próximos 5 anos cerca de 700 mil pessoas e não haverá sequer 500 mil novos candidatos a entrarem no mercado nesse mesmo período. Esse valor tenderá a diminuir: daqui a 22 anos não serão mais de 80 mil os candidatos em cada ano, atenta a natalidade atual. Haverá défice em todos os anos, não só entre 2024 e 2050 (apresentados na tabela infra), mas também nos subsequentes.

O défice anual pode ser compensado por candidatos de outras idades, que serão impelidos a entrar mais cedo no mercado de trabalho atentas as ofertas de emprego ou por reformas mais tardias, como já vem acontecendo em algumas profissões (médicos, por exemplo). Mas também a saída de jovens profissionais do país poderá agravar significativamente o cenário. Mesmo que este fluxo seja compensado pela chegada de imigrantes, haverá um significativo défice de qualificações, saindo do país mais qualificados do que aqueles que nos procuram para trabalharem.

Assim, ou os postos de trabalho vão ser substituídos por máquinas e robots, ou os reformados vão ser chamados a trabalhar para além da reforma, como já hoje acontece, isto se não conseguirmos atrair imigrantes que nos ajudem a manter a produtividade e a sustentabilidade dos nossos sistemas sociais.