As crianças gostam imenso de fazer perguntas. São na verdade esses intermináveis “porquês” que lhes permitem compreender o mundo a uma velocidade estonteante.

Assim sendo, acho bastante curioso que, chegando à vida adulta, percamos este hábito. Mais ainda, sentimo-nos irritados sempre que alguém faz “demasiadas” perguntas! É quase como se, passada uma barreira invisível no tempo durante o qual caminhamos neste planeta, o período de descoberta e definição do “eu” estivesse obrigatoriamente terminado, e teríamos de depender do que aprendemos até então para tomar todas as restantes decisões da nossa vida.

Espero que isto lhe soe não só familiar, como também ridículo. Isto porque é nesta fase da vida que nos deparamos com desafios maiores do que alguma vez pudemos imaginar, que deixamos de ter o nível de suporte e proteção do passado, e é quando tomamos decisões que, para o bem e para o mal, deixarão cicatrizes para o resto da vida. Porque não cortar com a farsa e reconhecer isto mesmo? Porque não adotar uma posição humilde, pronta para questionar o mundo e deste modo continuar a nossa jornada de aprendizagem?

Apesar de ser este um tópico que dá pano para mangas e que vai muito para além do panorama político do país, gostaria de me focar de momento em algo muito concreto: Portugal tem vivido envolvido numa “história mal contada” de distribuição eterna de riqueza a que, misticamente, o governo tem acesso. Ora, é aqui que lhe peço que exercite o seu espírito crítico de outrora e se questione, “Mas de onde vem a dita riqueza que queremos distribuir?”. Esta é a questão fulcral que, aparentemente, nos esquecemos de colocar quando se fala em tópicos como Orçamento de Estado e PRR!

Claro está, é muito mais fácil digerir uma narrativa focada no “distribuir riqueza” do que compreender que mecanismos podem criar essa riqueza, e como os podemos otimizar para, no final, termos mais para distribuir! Mas enquanto mantivermos uma mente coletiva inerte e preguiçosa, estaremos condenados a distribuir migalhas enquanto que um punhado de indivíduos festejam na sua opulência, alimentada pelo nosso esforço.

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Assim sendo, independentemente de se saber se a curiosidade matou o gato ou não, não tenho qualquer dúvida de que será esta virtude que nos desagrilhoará do passado cinzento e nos abrirá caminho à criação dos recursos e oportunidades que nos permitirão atingir todo o nosso imenso potencial.

Uma nota final: se colocar a nossa sociedade num rumo mais sustentável lhe parece uma tarefa hercúlea, parabéns: o primeiro passo está dado, o de reconhecer o problema e descobrir sentir-se desconfortável com ele.

Como segundo passo, tem duas opções: entregar-se à impotência e a uma negatividade fatídica ou tomar uma linha de pensamento construtiva (mesmo que inicialmente forçada), transitando do simples apontar problemas para também considerar soluções.

Convido-o a experimentar a segunda: informe-se, questione-se, discuta e partilhe. A mudança raramente é instantânea e disruptiva: ao invés, é regularmente um acumular de pequenas ações que, em retrospetiva, resultam em algo maior do que a soma das partes.

Resta-nos, então, interiorizar este facto, e fazer a nossa parte.